A manhã de Júlia
Acordou com aquela preguiça comum dos dias de sábado. Correu até o banheiro e fez a higiene matinal. Logo depois correu até a sala, olhou através dos vidros da janela e deparou com o sol.
Havia silencio na casa e a pequena Julia observou "seu universo". Olhou em volta e deparou com a bagunça. Viu as garrafas vazias sobre a mesa da sala. O cinzeiro lotado com o que restou dos vários cigarros. Sobre o tapete, observou um liquido vermelho escuro com rastros até a porta de saída.
Lutou contra as lembranças. Não queria lembrar. Fez uma careta. "Não", gritou para dentro de si.
Como se fugindo dos pensamentos, olhou o calendário na parede contrária: "6 de março, faltam dois dias para o meu aniversário. 8 anos".
De repente ouviu a voz "Oi filha, dormiu bem". Olhou o pai, Rodrigo, descendo as escadas. Em poucos segundos sentiu os braços fortes enlaçando-a, como se um elevador a transportasse até o andar superior. Os olhos de Julia se encontraram com os olhos de Rodrigo. Um beijo seguido de outro transporte de volta ao chão. Viu a figura alta abrir a porta e sumir.
Não entendia algumas coisas, mas pra que entender? andou até o sofá. Reparou que sentia dor. "Minha cabeça". Ficou assim por alguns momentos até que viu a aproximação lenta de uma figura esguia. Os passos lentos como cenas em câmera lenta. Julia lembrou dos gritos. "Não" pensou.
Lembrou da discussão. Dos barulhos como se algo caísse no chão. "Não" repetiu.
Levou as mãozinhas até a cabeça no mesmo momento em que descobriu a face da mãe, Sônia. "Minha mãe" pensou. "Olá anjinho" ouviu. O beijo na face rosada foi como um balsamo. Retribuiu com um beijo nas marcas roxas próximas dos olhos da mãe. "Vai sarar. Pelo menos até o papai voltar" pensou antes de voltar para o quarto.