Aconteceu numa esquina escura

No primeiro momento pensou na morte. Uma possibilidade, ainda que desconhecida como fato. Depois fingiu ignorar. Não, não há como. Correu num pensamento de defesa, lembrando o que causara o momento.

Jovem, bonita, considerada atraente e comunicativa, Lúcia não tinha noção das conseqüências. Lembrou-se dos insistentes convites. Das constantes propagandas. Afinal como qualquer jovem era necessário experimentar.

Ao contrário do que ouvia por aí, não se tratava de uma vítima, o pai engenheiro de uma grande empresa de construção civil. Já a mãe, psicóloga. Sua casa muito bem montada e estruturada. Os pais conversavam sobre tudo.

O problema é que aos 16 anos, Lúcia só queria ser "livre", encontrou na turma do novo colégio todas as táticas e técnicas para conseguir o objetivo. O negócio era transgredir. Nada de ser "certinha". O papo era viver com liberdade incondicional.

Com a ebulição de hormônios, veio os namoros, ou melhor, as ficadas. Daí para o sexo, foi uma questão de tempo, afinal "o corpo era seu". Logo depois veio as drogas... primeiro as bebidas, depois a maconha, seguida da cocaína. E a família? família? que família, a galera era a família!

Agora estava alí. Caída num chão duro e frio. Os olhos, verdes, abertos contemplava algo "que parecia ser o céu". Sentia um gosto forte e quente de um liquido que saía da boca e escorria pelo pescoço. Os amigos correram quando começou a tossir e pedir socorro logo depois daquela dose "a mais". Tentou levantar, mas não conseguiu. Tombou. O corpo não obedecia. Só pensava. Lembrou da música que a mãe cantava para ela quando ainda era uma menina "Mais perto quero estar, meu Deus de tí...".