MEMÓRIAS ( 11 ) PESSENTIMENTO >*<

Apesar de ter sido a primeira neta da minha avó materna,

e ter sido a primeira sobrinha dos oitos filhos que ela teve,

e ter sido bem mimada... Tive também pouco contato com ela.

Vó Bia, sempre morou em Belo Horizonte.

E eu fui ainda bebe para são Paulo, onde morei até a minha adolescência.

Mesmo quando mudamos para Belo Horizonte, morávamos longe...

Era raro nos vermos, ficamos até cinco anos sem nos ver.

Minha mãe me contou que vó Bia foi professora... Olha, que ironia do destino...

Eu adoro português, adoro textos, adoro interpretação de textos, adoro escrever...

Mas o irônico é mesmo gostando e sendo neta de uma pessoa que foi professora,

vivo trocando o s pelo ç, o x pelo ch, ss por s enfim, sei que não é burrice, é falta

de teoria mesmo.

E minha mãe contou também que vovó foi locutora de rádio, além de ter tido uma

voz bonita,falava as palavras corretamente.

Eu cheguei a conhecer a letra dela, linda, linda...

Quando fiquei noiva resolvemos fazer uma surpresa para ela...

fomos para lá, e ela nem acreditou quando nos viu.

Ria e chorava de tanta alegria! Nos abraçava ,nos beijava!

Fomos, eu, meu pai, minha mãe, e meu noivo.

Estava, ela, o marido dela, e um filho de 8 anos. Foi uma alegria só.

Vó Bia não era muito velha, mas já apresentava sinais da doença.

ela teve perda de memória e outra complicações.

E na hora das fotos ela correu, tirou o avental, passou batom, penteou os cabelos

e passou perfume... Vejam só perfuma para tirar fotos?

Rimos muito e ela também!! Mas passou assim mesmo.

Apesar de morarmos longe dela, víamos ela com mais frequência por causa

dos problemas de saúde dela.

Eu morava em Belo Horizonte, mas meu casamento foi no interior, na casa do

noivo! E vó Bia foi com agente pra lá.

Depois de um ano e meio, quase isso, tive meu primeiro bebê.

E vó Bia já estava morando perto da minha casa, onde ficava mais fácil minha mãe

cuidar dela, que estava cada dia pior.

ficava dias internada, voltava pra casa.

Em casa, as vezes ficava brava! Brigava, gritava, xingava cada palavrão!!

Eu ficava de boca aberta, minha avó falando palavrão!!!

Ela detestava quando minha mãe saia... Me perguntava: _ Onde está sua mãe?

_ Saiu vó! Mas já ja está de volta!

_ Eu já disse pra essa menina não sair sem me falar, quando ela chegar vai ver só!

O pior que ela falava sério, para ela minha mãe, ainda era criança.

Ela gritava o nome dos filhos, como se eles fossem todos crianças, até os que morreram.

Eu ficava meio assustada com ela, era brava! já viu não é? Descendente de italiano!

Quando minha mãe saia eu ficava fazendo companhia a ela.

Quando ela estava boa, conversávamos muito...

Minha filha estava com uns cinco ou seis meses...

Eu com ela no colo, vóvó olhava pra ela e dizia:_ Que bonequinha! Veio ver a biza?

E minha filha se derretia toda pra ela... Era uma cena linda de se ver... Bisneta e bizavó

se olhando e sorrindo...

Foi quando ela me perguntou o nome da minha filha! Acho que tinha esquecido...

Eu disse: "Agatha Katherine"

Vó Bia, me olhou sério e disse: -"Por que você não colocou Agatha Beatriz?"

Iiiiii!!! Fiquei meio sem jeito de falar por causa da situação dela, as vezes ela

entendia as coisas as vezes não.

Mas com jeitinho eu disse:

Sempre fui apaixonada pela "Agatha Christie" e se algum dia me casa-se e tivesse

uma menina, colocaria o nome dela.

E que" Katherine" e um nome de umas das personagem de um dos livros de "Sidney Sheldon"

Outro escritor que adoro!!!

Vó Bia disse:_ Tudo bem, é bonito o nome! Mas "Katherine" no Brasil significa "Catarina"

e Catarina é o nome da minha irmã, que você nem conheceu. A bisneta é minha, tinha que

ter o meu nome.

Pedi desculpas, disse que nem tinha pensado nisso, mas se algum dia tivesse outra menina

colocaria Beatriz.

Ela balançou a cabeça afirmativamente, mas não falou mais comigo aquele dia, emburrou.

O que fazer né???

Vó Bia podia estar brava como fosse, só acalmava com a presença do meu marido...

Ela gostava muito dele, desde quando o conheceu no noivado...

Ele tinha muito carinho por ela.

Quando ele chegava lá para ver-la. Os olhos dela brilhava.

Ela sorria e dizia: _ Meu anjo!

O estranho é que meu marido sempre andou (em casa) só de bermuda e sem camisa,

a bermuda podia ser preta, azul,marrom... E vovó dizia:

"Meu anjo de branco! Tão bonito, meu anjo!"

Meu marido a abraçava, e ficavam conversando horas...

Em uma das suas crises, foi enternada, ficou dias e dias no hospital e não voltou....

Minha mãe vivia mais no hospital que em casa, mas nesse dia ela não estava lá.

Telefonaram avisando.... Foi triste, mas sabíamos que ia acontecer...

Minha mãe, teve que ir atrás dos irmãos, todos morando na mesma cidade mas

longe uns dos outros. Nunca dava certo telefonar...

Meu pai estava no trabalho...

Eu não pude ir... Meu marido então foi ao hospital, e organizou tudo para o velório.

Ela foi levada para um salão que tinha enfrente ao cemitério, um lugar, meio barra pesada!

Onde meu marido teve que ficar a noite toda ali com ela, sozinho!

Pois aconteceu vários imprevistos, e parentes e filhos, amigos só chegaram quando

amanheceu...

Meu marido então, velou ela sozinho a noite toda! Sem ninguém para ela encostar a

cabeça e chorar....

No dia seguinte, chegou em casa super abatido...Tomou banho, almoçou,

e caiu na cama... E dormiu.....

Enquanto ele dormia profundamente, por horas e horas...

Eu olhei para ele com lágrimas em meus olhos e pensei...

"Eis aqui o anjo de branco da vovó."

Lee Nunes
Enviado por Lee Nunes em 10/03/2009
Reeditado em 12/05/2010
Código do texto: T1478568
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