SÉRIE: MULHERES DO BRASIL – A SIMPÁTICA I
Fila do Banco. Enorme. O tempo passa célere e minha inquietação é medida pela quantidade de vezes que olho para o relógio. Os ponteiros são desobedientes. Entendessem eles o meu olhar de zanga e jazeriam paralisados, sem nenhuma pressa de prosseguir no seu labor interminável. Desisto do próximo compromisso. Levaria ainda uma boa hora e meia naquele recinto. Fico mais calmo. Mas o que me faz aquietar-me não é só a desistência do outro compromisso. É a moça do Caixa 5 e seu sorriso cativante. Descubro que seu nome é Vivian. Uma sua colega que fora atendida há pouco, fizera-me o favor de revelar o seu nome. Agradeci intimamente. Se fila de banco é entediante, nada como uma boa razão para torná-la menos desesperadora. Achei a minha naquela tarde. E atendia pelo nome de Vivian. Que simpática moça. Senti-me atraído por ela, quando, após responder a alguma provocação do senhor que atendia naquele momento, abriu um largo sorriso, deixando à mostra uma dentição perfeita que emprestava graça e beleza ao seu rosto. A contemplação daquele visual iluminou meu ser interior. Já não olhava mais para o relógio. Esquecera-me, até, da existência do mesmo, pois não tinha olhares senão para a bela Vivian e sua simpatia. Mas que simpatia cativante era esta? A simpatia de Vivian era uma simpatia recolhida. Não se mostrava toda hora. Não se apresentava descaradamente. Não estava à mostra efusivamente. Era uma simpatia que precisava ser conquistada, precisava ser merecida e devidamente estimulada. Pois aquele senhor de cabelos grisalhos dissera algo que revolucionara o ser interior de Vivian e de dentro dela brotou algo tão belo e compulsivo que a levou a abrir um largo sorriso, como a rosa mais linda que se abre em flor na primavera do mundo. Fui agraciado com esta cena, no instante em que, cansado da leitura da revista, levantara o olhar das letras para contemplar a visão da simpatia. Que lindo rosto simpático se descortinava à minha frente, naquele instante em que o sorriso passou a ser mais importante que as horas. Fiquei na espreita, concentrado - atenção na leitura que retornara e no Caixa 5 que me cativara -, para interceptar o rosto mais simpático que já vira em minha vida. Naquela hora e meia que ainda passei na fila do Banco, foram sete incursões no rosto sorridente de Vivian. Senti-me realizado, com a alma leve, o coração descomplicado. Por seis vezes, naquele momento de fila de Banco, divisei o rosto simples de Vivian ser tomado do sorriso, da graça, da simpatia mais doce e serena que a beleza de uma mulher brasileira poderia expressar. Por seis vezes, vi aquele rosto tranqüilo de mulher se fechar, retornando a serenidade natural de uma mulher normal, trabalhadora desse Brasil de Deus. A simpatia de Vivian precisava ser estimulada. Quando alguém conseguia tocar o imo de seu coração, de seus sentimentos, ganhava de presente um sorriso lindo, um rosto simpático que ela reservava aos que de fato conseguiam sensibilizar a sua alma. Fiquei apaixonado por aquela simpatia. Como estimulá-la? Como conquistá-la? Ensaiei umas poucas palavras, efeito de humor. Chegou a minha vez. Falei. Consegui. E pela sétima vez a simpatia em pessoa se personificou à minha frente. Voltei para casa sem algum dinheiro no bolso, mas com um sorriso no coração. Preservei a imagem da rosa aberta...