Deus é mais...
Na fila dos aposentados de um banco três senhoras idosas, em pé, conversam sobre a chateação que é esperar na fila para receber as aposentadorias. A fila é grande e não anda. Nisso chega uma mulher grávida, aparentando uns vinte e poucos anos e mais sete meses de barriga. Como ocorre nestas ocasiões todos se mostraram solícitos, ofereceram lugar na fila e até desocuparam um banco para a recém chegada sentar-se enquanto espera. Com isso a conversa entre as idosas e a chegante passou a girar em torno de gravidez e sua problemática. Enquanto a recém chegada queixava-se das dificuldades, dos incômodos e desconforto que uma gravidez acarreta, uma das idosas a rebateu entre os risos em ccoro das outras duas.
- Hoje tudo é mais fácil, minha filha. Tem pré-natal, médicos que acompanham a gravidez, maternidade de graça, com tudo o que é necessário para um parto bem sucedido. No nosso tempo é que era dureza. A gente paria em casa mesmo. E quando tinha uma parteira por perto, era uma benção.
- Apois hoje tem até uma tal de cesaria, donde a mulé num pare. Apois o médico tira o menino pela barriga e a mulé nem sente nada. E eu que já pari oitcho é qui sei quanto doi uma sodade. Vixe. Dá até pra vê se é menino home ou menina mulé antes de nascê - emendou a outra que aparentava ser caipira da roça.
E a todas estas, a outra velhinha, olhar simpático, cabelos grisalhos, cor de prata velha, que apesar das rugas na face aparentava ser muito saudável, e que até ali não se manifestara, entrou na conversa, sisuda e bem disposta:
- Apois no meu tempo eu trabalhava inté quase na hora do menino nascê. E mesmo buchuda, cortava lenha no mato, rancava mandioca na roça, lavava roupa na bera do rio e tirava leite das caba no currá. E nunca senti nada. A não ser alguma dorzinha na espinhela, que meu falecido marido liviava fazendo fomentação cum baba de pau d’óleo e banha de macuco. E tô aqui inté hoje. Deus é mais... – e finalizou com um longo suspiro.
Nesta altura, a mulher grávida, já um tanto injuriada com aquele desfile de vantagens das antigas mamães, perguntou à velhinha de cabelos prateados que acabara de falar:
- Mas afinal, a senhora que conta tanta vantagem, quantos filhos a senhora teve?
- Apois eu tive dezesseis. Qui nascero vivo. Afora os outro qui morrero antes de nascê.
- Deus é mais, digo eu! - exclamou a mulher grávida ao dar o assunto por encerrado.
Na fila dos aposentados de um banco três senhoras idosas, em pé, conversam sobre a chateação que é esperar na fila para receber as aposentadorias. A fila é grande e não anda. Nisso chega uma mulher grávida, aparentando uns vinte e poucos anos e mais sete meses de barriga. Como ocorre nestas ocasiões todos se mostraram solícitos, ofereceram lugar na fila e até desocuparam um banco para a recém chegada sentar-se enquanto espera. Com isso a conversa entre as idosas e a chegante passou a girar em torno de gravidez e sua problemática. Enquanto a recém chegada queixava-se das dificuldades, dos incômodos e desconforto que uma gravidez acarreta, uma das idosas a rebateu entre os risos em ccoro das outras duas.
- Hoje tudo é mais fácil, minha filha. Tem pré-natal, médicos que acompanham a gravidez, maternidade de graça, com tudo o que é necessário para um parto bem sucedido. No nosso tempo é que era dureza. A gente paria em casa mesmo. E quando tinha uma parteira por perto, era uma benção.
- Apois hoje tem até uma tal de cesaria, donde a mulé num pare. Apois o médico tira o menino pela barriga e a mulé nem sente nada. E eu que já pari oitcho é qui sei quanto doi uma sodade. Vixe. Dá até pra vê se é menino home ou menina mulé antes de nascê - emendou a outra que aparentava ser caipira da roça.
E a todas estas, a outra velhinha, olhar simpático, cabelos grisalhos, cor de prata velha, que apesar das rugas na face aparentava ser muito saudável, e que até ali não se manifestara, entrou na conversa, sisuda e bem disposta:
- Apois no meu tempo eu trabalhava inté quase na hora do menino nascê. E mesmo buchuda, cortava lenha no mato, rancava mandioca na roça, lavava roupa na bera do rio e tirava leite das caba no currá. E nunca senti nada. A não ser alguma dorzinha na espinhela, que meu falecido marido liviava fazendo fomentação cum baba de pau d’óleo e banha de macuco. E tô aqui inté hoje. Deus é mais... – e finalizou com um longo suspiro.
Nesta altura, a mulher grávida, já um tanto injuriada com aquele desfile de vantagens das antigas mamães, perguntou à velhinha de cabelos prateados que acabara de falar:
- Mas afinal, a senhora que conta tanta vantagem, quantos filhos a senhora teve?
- Apois eu tive dezesseis. Qui nascero vivo. Afora os outro qui morrero antes de nascê.
- Deus é mais, digo eu! - exclamou a mulher grávida ao dar o assunto por encerrado.