ELIXIR CABEÇA DE VOSSA SENHORIA ( Celismando Sodré -Mandinho)

ELIXIR CABEÇA DE VOSSA SENHORIA

( Celismando Sodré -Mandinho)

Há algumas décadas atrás, chegou em Barra do Mendes um Doutor muito respeitado chamado Dr: Sebastião. Ele montou em nossa cidade uma das primeiras farmácias, onde atendia a população com muita educação, sempre procurando ajudar as pessoas.

Acontece que o Dr: era de cor negra, ou para ser mais politicamente correto Afro-Descendente, numa época de muito preconceito. Ele que com muito esforço e dedicação, tinha vencido todas as barreiras do preconceito racial e social e se formado em medicina e farmácia, sendo muito prestigiado na cidade apesar de que alguns ainda alimentavam uma certa discriminação, o que era lamentável.

Um caboclo, que morava em um dos povoados do município, precisou comprar um famoso elixir que existia na época, que tinha um nome um tanto estranho: ELIXIR CABEÇA DE NÊGO. Ele queria comprar, mas a única farmácia que existia era a que pertencia ao prestigiado Dr: Sebastião, mais não achava jeito de pedir o famoso elixir, temendo a reação do Dr: que era muito respeitado na cidade. “Qual será a reação dele”? ficou a pensar, “ e se ele me mandar prender por desrespeito, imagine só eu chegar para um homem como Dr: Sebastião e pedir, por favor, eu quero um Elixir Cabeça de Nêgo, não dá certo”.

O sujeito entrava e saia da farmácia, coçava a cabeça, até que veio a “brilhante idéia”, é como se tivesse encontrado a solução para o seu problema num estalo. Aproximou-se do balcão da farmácia chamou o Dr: com toda a educação e disse respeitosamente:

- Por favor Dr:, o gostaria de comprar aquele elixir ali !

Apontava o xarope com o dedo, mas, o Dr: não conseguia identificar na prateleira e disse para o caboclo que já estava ficando afobado:

- Qual meu senhor? Fala o nome do remédio que fica mais fácil.

Caboclo todo constrangido, com medo de desagradar o Dr:, falou

- Aquele ali Dr:, ELIXIR CABEÇA DE VOSSA SENHORIA !!!!

Não me contaram qual foi a reação do Dr: Sebastião, mas esse foi o típico caso que comprova que, em certas situações da vida, é melhor ser franco e direto, porque, neste caso, o concerto foi pior do que o soneto.