Meu marido, traste!
- Odilon, vai fazer a feira. – ele ia.
- Odilon, vai ao banco. – lá vai ele, de novo.
- Odilon, põe o lixo para fora. Dá banho no cachorro. Mata a barata, mata! – a lista não tinha fim. Ia de um simples copo d´água a espanar o carpete e descascar batatas. Zélia assumia o controle da casa e da vida do marido. Estava no topo do mundo e podia abrir os braços no Titanic deixando o vento bater na cara.
Nas festas iam juntos. Frequentavam a alta sociedade. Zélia nasceu no seio de uma das mais influentes famílias da região. Odilon era o alpinista social, rapaz estudioso e trabalhador que se apaixonou por ela ao cuidar da papelada da família. Mesmo no namoro era ela quem dava as cartas:
- Vai, Odilon, avança. – ele avançava e deu em casamento.
Por economia, visto Zélia odiar empregada, na verdade, o que temia, era que Odilon se interessasse algum dia por outra, viviam sozinhos e ele fazia a faxina.
- Impossível, diziam os amigos e eu dentre eles. Odilon é um santo. – usava um par de óculos redondos de lentes grossas.
- Aquelas lentes param até tiro de fuzil, contávamos.
Ao descer no elevador, ela na frente, segurando o Lulu nos braços, um Chiuaua irritante com latido impertinente e estridente, abria caminho impávida e poderosa. Ele vinha atrás, carregando a malinha do cachorro com apetrechos para um bebê. O destino quis que nunca tivessem filhos, para tristeza do rapaz que sonhava em ter um garoto ou garota ou muitos de ambos.
- E acabar com meu corpo, Zélia dizia às amigas. E o tempo passou e envelheceram e não vieram filhos.
- O sujeito só olha para baixo, ombros encolhidos, amarfanhado apesar da boa costura e dos sapatos italianos. Chega a dar dó e um nó na garganta. – o sonho de todos os homens era assumir a posição de Odilon e dar um chega em Zélia.
- Este é o meu traste, apresentava-o assim nas festas aos poucos que não o conheciam. As pessoas solidarizavam-se com ele. Ficava a um canto da mesa encarando os copos e passando o dedo indicador por horas ao redor do bocal até que Zélia o chamasse para ir embora.
Foi o amigo Amadeu quem deu um toque:
- Sai dessa rapaz, vira a mesa. Mulher gosta de homem mala, vigarista, que faz sofrer. – mudou logo de assunto, durante uma caminhada que os casais faziam ao ver Zélia chegando:
- Do que os meninos falavam? – interferiu Zélia.
- Do Palmeiras, Amadeu sacou rápido. – a megera não gostou, viu o rosto de Odilon corar e os olhos encararem o chão, como de costume.
Uma semana depois a bomba correu a cidade:
- Odilon deixou Zélia. Como?
Uma noite ele chegou em casa e, vasculhando gavetas da mulher, encontrou. uma após outra, receitas de anticoncepcionais. Acreditava que ele era o infértil, no que a dama acrescentava:
- Inútil você: não serve nem para me dar barriga!
Jogou tudo na cara da mulher. Pisou firme. Desfiou um rosário de desabafos que a fizeram calar e, dizem, pediu perdão com lágrimas nos olhos. Uma vizinha disse que ao sair do apartamento, viu a mulher se arrastando no chão puxando-o pela barra da calça:
- Fique, meu amor, fique. Eu vou mudar, eu prometo que vou mudar...
Um ano depois e podemos ver o Odilon correndo no Parque ao lado de uma morena linda de dar nó. Casaram-se. Fez uma cirurgia e largou os óculos. Perdeu a barriga, fez musculação. Está em forma.
- E a Zélia?
- Foi vista pela última vez na sacada, vestida de negro e com um véu a cobrir o rosto dando mamadeira para o chiuaua. Dizem que fala sozinha murmurando: volte, querido, volte...
- Odilon, vai fazer a feira. – ele ia.
- Odilon, vai ao banco. – lá vai ele, de novo.
- Odilon, põe o lixo para fora. Dá banho no cachorro. Mata a barata, mata! – a lista não tinha fim. Ia de um simples copo d´água a espanar o carpete e descascar batatas. Zélia assumia o controle da casa e da vida do marido. Estava no topo do mundo e podia abrir os braços no Titanic deixando o vento bater na cara.
Nas festas iam juntos. Frequentavam a alta sociedade. Zélia nasceu no seio de uma das mais influentes famílias da região. Odilon era o alpinista social, rapaz estudioso e trabalhador que se apaixonou por ela ao cuidar da papelada da família. Mesmo no namoro era ela quem dava as cartas:
- Vai, Odilon, avança. – ele avançava e deu em casamento.
Por economia, visto Zélia odiar empregada, na verdade, o que temia, era que Odilon se interessasse algum dia por outra, viviam sozinhos e ele fazia a faxina.
- Impossível, diziam os amigos e eu dentre eles. Odilon é um santo. – usava um par de óculos redondos de lentes grossas.
- Aquelas lentes param até tiro de fuzil, contávamos.
Ao descer no elevador, ela na frente, segurando o Lulu nos braços, um Chiuaua irritante com latido impertinente e estridente, abria caminho impávida e poderosa. Ele vinha atrás, carregando a malinha do cachorro com apetrechos para um bebê. O destino quis que nunca tivessem filhos, para tristeza do rapaz que sonhava em ter um garoto ou garota ou muitos de ambos.
- E acabar com meu corpo, Zélia dizia às amigas. E o tempo passou e envelheceram e não vieram filhos.
- O sujeito só olha para baixo, ombros encolhidos, amarfanhado apesar da boa costura e dos sapatos italianos. Chega a dar dó e um nó na garganta. – o sonho de todos os homens era assumir a posição de Odilon e dar um chega em Zélia.
- Este é o meu traste, apresentava-o assim nas festas aos poucos que não o conheciam. As pessoas solidarizavam-se com ele. Ficava a um canto da mesa encarando os copos e passando o dedo indicador por horas ao redor do bocal até que Zélia o chamasse para ir embora.
Foi o amigo Amadeu quem deu um toque:
- Sai dessa rapaz, vira a mesa. Mulher gosta de homem mala, vigarista, que faz sofrer. – mudou logo de assunto, durante uma caminhada que os casais faziam ao ver Zélia chegando:
- Do que os meninos falavam? – interferiu Zélia.
- Do Palmeiras, Amadeu sacou rápido. – a megera não gostou, viu o rosto de Odilon corar e os olhos encararem o chão, como de costume.
Uma semana depois a bomba correu a cidade:
- Odilon deixou Zélia. Como?
Uma noite ele chegou em casa e, vasculhando gavetas da mulher, encontrou. uma após outra, receitas de anticoncepcionais. Acreditava que ele era o infértil, no que a dama acrescentava:
- Inútil você: não serve nem para me dar barriga!
Jogou tudo na cara da mulher. Pisou firme. Desfiou um rosário de desabafos que a fizeram calar e, dizem, pediu perdão com lágrimas nos olhos. Uma vizinha disse que ao sair do apartamento, viu a mulher se arrastando no chão puxando-o pela barra da calça:
- Fique, meu amor, fique. Eu vou mudar, eu prometo que vou mudar...
Um ano depois e podemos ver o Odilon correndo no Parque ao lado de uma morena linda de dar nó. Casaram-se. Fez uma cirurgia e largou os óculos. Perdeu a barriga, fez musculação. Está em forma.
- E a Zélia?
- Foi vista pela última vez na sacada, vestida de negro e com um véu a cobrir o rosto dando mamadeira para o chiuaua. Dizem que fala sozinha murmurando: volte, querido, volte...