Porque a ponta do vestido acaba sempre em baixo do pé da cadeira?
Eu não sei.
Juro! E o pior é que sempre acontece comigo. Sempre.
A primeira vez que aconteceu foi quando usei meu primeiro vestido longo num baile de debutantes. Eu não era debutante. Fui lá e até a frase “nos divertimos a valer” chegar, a ponta do meu vestido chegou com tudo em baixo do pé da cadeira. Parecia um caso de amor.
- Ah não! Vai marcar o vestido.
E dizendo isso, apoiei o cotovelo no tampo da mesa para erguer um tantinho e com a outra mão deslocar milimetricamente a cadeira para que ela soltasse aquela ponta frágil do meu primeiríssimo vestido. Aqui o mundo parou. Em cima da mesa havia um castiçal com muitas velas, todas acesas, o clube de luzes apagadas para que os castiçais iluminassem de forma romântica e idílica o momento em que as mocinhas eram “apresentadas para a sociedade”. Quando apoiei delicadamente o cotovelo na mesa, o tampo, que era uma peça de compensado redonda (para que a mesa ficasse maior) virou, fazendo o castiçal cair em minha direção.
Eu fui muito rápida porque como disse antes, o mundo parou!
Enquanto apoiava o cotovelo na mesa, o tampo virava, meu corpo erguia um pouquinho, o castiçal caia, a outra mão erguia milimetricamente a cadeira, a mão do apoio na mesa conseguiu aparar o castiçal (quase em cima de mim) colocou-o no devido lugar e com uma puxada de quadris consegui tirar a maldita ponta debaixo do pé da cadeira.
Ufa.
Estava tirando as longas linhas de cera que ficaram grudadas no corpo do vestido que as velas do castiçal deixaram, quando percebi que o pessoal no clube também tinha parado, e um casal da mesa ao lado me perguntava se eu estava bem.
- Ah sim, estou! Não foi nada.
- Mesmo?
Percebi também que meu marido estava com a cabeça debaixo da mesa. Acho que foi de vergonha, ele não quis me dizer.
Quando ele conseguiu me olhar, eu disse:
- Mas não foi nada! Garanto que você nem me viu tirando a ponta do vestido de debaixo do pé da cadeira.
- Não vi? O clube inteirinho viu e chegaram a acender as luzes porque acharam que poderia ser um acidente.
- Ai, que gente exagerada!
Depois disso, nos divertimos a valer. A não ser a meia fina que rasgou por causa de uma felpa.