O banheiro da Igreja
Alguém sabe onde fica o banheiro na igreja?
Só o padre sabe.
Dia desses, uma família de uma cidade fronteiriça com o Uruguai veio visitar-nos,e, ante a chatice dos negócios maritais, surgiu entre as mulheres muitas especulações a respeito do que poderia ser visitado, já que minha cidade é muito pequena e não havia outras áreas turísticas que valessem à pena.
Bom, não fôssemos mulheres, visitaríamos o estádio de futebol, mas como éramos, fomos visitar igrejas. Fiz um rápido roteiro já que as cidades vizinhas são bem vizinhas mesmo, e, munidas de máquinas fotográficas enfrentamos a empreitada.
Na segunda cidade que visitamos, paramos na única igreja de lá, e durante as fotos me deu uma vontade imensa de fazer xixi. Fui procurar um banheiro e não encontrei, fui até o altar para ver se encontrava pelo menos o banheiro dos Ministros, mas nada. A essas alturas eu já tinha blasfemado várias vezes em solo sagrado (depois pedi perdão, eu estava tão necessitada!). Fui indo cada vez mais rápido e a passos mais curtos, pois os joelhos negavam a separar-se.
Depois das blasfêmias comecei a rezar para Nossa Senhora que me ajudasse naquela hora tão difícil, afinal ali é o lugar onde estamos mais próximos dos Santos, e, pasmem!!! Ela me atendeu! Não sei se foi porque rezei alto demais, mas apareceu uma das zeladoras de plantão e com cara feia me mostrou o banheiro, as chaves e o papel higiênico. O banheiro era tão grande que faria desmaiar qualquer ovelha mais pobre do rebanho.
Depois da missão cumprida e da carga aliviada, foi quase impossível voltar para a nave principal porque durante o aperto não percebi todas as curvas e corredores. Enquanto procurava a saída naquele labirinto, lembrei de uma época remotíssima de minha infância que durante tantos anos ficou trancada nos recônditos de minha mente. Era minha primeira comunhão, vestidinho branco novinho em folha, a cabeleireira tinha feito misamplis nos meus cabelos e borrifado muito laquê para segurar os cachos, uma vela na mão e as orações na ponta da língua. Entrei lindamente na igreja, saltitante e feliz. Uma baita vontade de fazer xixi. A procura por um banheiro. Um branco total, um bloqueio. Depois uma voz: “Olha, tem água no chão!”.
Como pude esquecer esse episódio? Aliás, esqueci de tudo, dos colegas que comungaram comigo, do padre, das fotografias lá fora, das sandálias molhadas.
Só lembrei isso agora porque estava passando pela mesma situação de tantos anos antes. Ainda bem que o desfecho não foi o mesmo do passado, e se naquela época a amiguinha ao lado me alertou para que não pisasse na “água”, o mesmo não se daria hoje e muito provavelmente a zeladora de plantão viria rapidamente ao meu encalço com balde, pano de chão e rodo.