O CHAMADO DE DEUS
Era um dia qualquer de 1983, fortes e insistentes chuvas haviam encharcado a geografia ondulada de Ponta Grossa, no Paraná.
Em alguns bairros contruiam, as pessoas de menor posse, as casas nas proximidades das encostas, o que figurava um perigo iminente.
Fora uma noite de muitas ocorrências, casas destelhadas, alagamentos, queda de árvores e pela manhã...o pior.
O jantar da noite esperou, o café da manhã esperou, a farda molhada secando no corpo a cada intervalo entre ocorrencias era o aviso de que as coisas poderiam piorar..
A inclemente chuva não dava trégua, caminhões tinham correntes nos pneus para trafegar com mais segurança em certos bairros.
A manhã mais longa da minha vida teve inicio as 06:30 horas, o telefone tocou...
Mas eram tão comuns os chamados que aquele parecia apenas ser mais um...
Desabamento de residencia...uma casa soterrada com 8 pessoas dentro...
Deslocamento, chegada ao local e a visão da tragédia.
Um barranco de uns 30 metros de altura, as marcas das sapatas da pequena casa e o abismo de terra fofa abaixo, que depois calculamos 3 metros de profundidade.
8 almas que tiveram ao mesmo tempo a hora de partir.
Por causa do risco de eventualmente existir pessoas vivas ainda embaixo das toneladas de terra, evitamos ferramentas e nestes casos as mãos são a melhor alternativa.
Depois de longas e exaustivas buscas no meio da lama e do mato a ela misturada, um a um os corpos foram sendo localizados.
Sete corpos estavam enfileirados ao lado das viaturas, esperando a chegada do IML, o oitavo corpo de uma criança pequena a ser localizado.
O pensamento de todos tenho certeza que subiram aos céus, para um pedido unico a Deus...
Mas infelizmente a experiencia dizia insistentemente que era uma questão de minutos.
Silencio....um pequeno e coberto de barro, corpo de criança emerge do lamaçal nos braços de um bombeiro, que tenho certeza , viu ali o seu filho, como muitas vezes eu vi.
Esta é uma história real acontecida em um dos dias, dos 24 anos, em que fiz parte do Corpo de Bombeiros do Paraná.