A ÚLTIMA LIÇÃO

Corria o mês de abril de 1986, a pequena cidade de Joaquim Távora, norte velho do Paraná, amanheceu fria. Apesar daquele ano não ter sido tão frio. Eram 11:00 horas da manhã. As pessoas começavam a se juntar em grupinhos e comentar um triste acontecimento.

Havia uma escola na zona rural, mais precisamente na estrada de Joaquim Távora para Guapirama que havia pegado fogo. Era a escolinha da Colônia São Miguel. Bem próxima da cidade. Esta colônia é formada por famílias de poloneses, ucranianos, iugoslavos, que fugiram da guerra em busca de um futuro melhor para seus filhos. Era um povo muito alegre que festavam e se divertiam. Tocavam violino e dançavam seus tradicionais folclores. A religião era a católica ortodoxa. As suas festas sempre recebiam o apoio da população tavorense e adjacências. Leitoa assada, frangos, churrasco, etc. A redondeza sempre sabia prestigiar qualquer evento que ali acontecesse. Um povo ordeiro e muito brincalhão.

A escola possuía poucos alunos. Era uma escola pequena com uma sala de aula que funcionava como cozinha e biblioteca. Havia uma professora na parte da manhã, e outra na parte da tarde. A professora da manhã tinha uma auxiliar que ajudava preparar a merenda. Só que naquele fatídico dia, ela estava sozinha com os alunos. A nossa heroína tinha que se desdobrar. Lecionar e fazer a merenda. Às vezes ajudada por algumas alunas. Era assim o seu dia-a-dia. Além de ensinar muito bem o bê-á-bá para os seus pequenos alunos que eram tratados como filhos. Ela era muito jovem e solteira.

Nós trabalhávamos em um depósito de bebidas ao lado da casa da professora, que ficava a 12 km do local do incêndio. A pequena cidade ficou ainda mais triste. Quieta. Um clima de tensão pairava no ar. Não se via um rosto alegre. Toda uma população acabrunhada, pensando nos divinos desígnios. Logo seu pai passa chorando para contar o fato na casa. Não havia telefone na escola. Tudo era tão difícil.

Ester* era tão querida. Uma jovem professora no seu primeiro emprego. Inteligente, dinâmica, como toda sua tradicional família. Seu pai era ferreiro, ela tinha muitos irmãos, que trabalhavam e estudavam e não atrapalhavam ninguém. Sua família, podia-se dizer era muito feliz.

Havia quase vinte alunos na sala. Ester estava no quadro ensinando e a panela fervia sobre o fogão à gás, entre a porta e o pequeno armário com cadernos e livros. Nisso a mangueira que conduzia o gás pega fogo e rapidamente passa para os cadernos e livros. Pânico geral. Não havia outra porta. Os vitrõs eram basculantes. Não havia jeito de sair e a fumaça negra toma conta da sala. Ester pede a Deus que os salve daquele incidente. Ela reúne todas as suas forças tentando arrebentar as velhas tábuas da escolinha. Mas tudo em vão. Então ela muito viva, tem uma idéia. E começa a colocar os alunos a saltar pelos estreitos vitrôs. Conseguiu um, dois, três, enfim ela conseguiu salvar a maioria dos alunos. Oito, apenas oito, pereceram ao lado da professora. Conta-se que um deles morreu entalado na janela. E o pessoal que retiraram os corpos, disseram que ficou um sinal de uma mãozinha na perna da professora. Não havia socorro. Não havia bombeiros. Não havia água ali perto e tudo foi tão depressa. Logo aquele começo de tarde virou um corredor de curiosos entre a nossa cidade e a escola queimada. Rádios, jornais, canais de televisão se misturavam com o povo em direção a colônia São Miguel. Os nove corpos carbonizados foram expostos na Igrejinha da colônia. Ali naquela escola tinha sido dada a última lição!

Logo se culpou o prefeito da época, o governo e todos os envolvidos. As escolas de madeira foram transformadas. Mas ainda existe algumas que funcionam em caráter precário.

Theo Padilha
Enviado por Theo Padilha em 26/02/2009
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