HERODES DE JESUS - O CAÇADOR DE PERNILONGOS
Nem bem completou 18 anos, Herodes providenciou sua documentação. O sonho era só um: ir pra “Sum” Paulo como fizera o pai logo após seu nascimento, fugindo da miséria do nordeste. Filho mais velho de uma prole de seis, jamais conhecera o genitor. Mas prometera à mãe que tão logo arrumasse emprego na cidade grande, escreveria. Não faria como ele, o pai, que nunca dera notícias e que mal sabia o nome, apenas alguma coisa como Arison, que a mãe pronunciava quase inaudível.
Em menos de quarenta dias, Herodes estava empregado com um conterrâneo que lhe aconselhou: “O serviço é bom, leve, só em apartamentos de ricos. Detetizar para matar os insetos, principalmente o tal de Aedes aegypti (táqui o nome, escreve aí pra não esquecer), um pernilongo que surgiu recentemente e que tá matando muita gente. Você vai usar essa máscara e fale o menos que puder, ‘sim senhora, não senhora’ é suficiente. E nada de esperteza em querer pegar alguma coisa. É cadeia na certa. E não esqueça de deixar o cartão de visita da nossa empresa após o serviço”.
Dois meses depois, a primeira carta para a mãe. Maria de Jesus toda contente abriu o envelope e se deparou com uma foto.
- Deus! Mas esse é o Ariosvaldison!
Virou a fotografia e leu:
“Eu e meu patrão, o seu Ari Osvaldson”.
Trêmula, começou a ler a pequena missiva.
“Mãe, o trabalho é meio estranho, mas tô gostando. A gente só trabalha mascarado e com luvas especiais. Matamos os Aedes aegypti em apartamentos das madames (...)
- Pai e filho assassinos em “Sum” Paulo... envolvidos com putas...
Maria de Jesus sentiu uma forte dor no peito que lhe impediu de ler toda a carta.
Herodes não entende porque ninguém da família lhe responde se o endereço da empresa está certinho.