O FILHINHO DA MAMÃE - PARTE I

Para Ricardo, a mãe dele era uma santa. Praticamente uma virgem. Talvez mais virgem que a Virgem Maria. Ricardo mal tinha conhecido o pai, o seu Romeu. Este, coitado, morrera antes dos quarenta anos, vitimado por um enfarte fulminante no meio de uma partida de futebol. Ricardo se viu criado entre as três irmãs, o bebezão da família, o único homem no meio de quatro mulheres.

Ricardo cresceu vendo a mãe lutar sozinha para sustentar a família. O que fez muito bem, por sinal, e sem nenhuma ajuda masculina. Ela não precisava de homem nenhum, gostava ele de dizer, em alto e bom som. Dona Lúcia era a bondade em pessoa. Freqüentava a missa religiosamente. Ajudava os pobres. Atuava como voluntária em uma creche humilde. E Ricardo tinha certeza de que o único homem da vida dela era ele mesmo. E assim seria para todo o sempre.

Mas um belo dia, dona Lúcia arranjou um namorado. Quer dizer, já era praticamente um noivo no dia em que ela apresentou o seu Fernando para as filhas. Ricardo não estava presente. Estava surfando no mar de Florianópolis, acreditando que quando chegasse em casa na segunda-feira encontraria tudo na mais perfeita rotina e na paz de Deus. As irmãs de Ricardo se encantaram com o seu Fernando. Homem fino, simpático, de boa conversa. Escancaradamente apaixonado por dona Lúcia. Formavam os dois um casal distinto e discreto. O noivo era proprietário de um sítio há uns 50 quilômetros da cidade e era lá que eles morariam depois do casório – surpreendentemente marcado para dali a três meses. Pois como dissera o seu Fernando, não havia tempo a perder.

Tudo estaria perfeito se não fosse o Ricardo, que ainda morava com a mãe e, embora tivesse um emprego estável e ganhasse um bom salário, não tencionava sair debaixo das asas dela tão cedo. O que faria ele então quando descobrisse que seria a mãe que deixaria o apartamento para viver com outro homem? A reação seria a pior possível.

Luana, a irmã mais velha, ficou encarregada de contar ao irmão a “boa” notícia, assim que ele voltasse de Florianópolis. E Ricardo voltou, bronzeado do sol, malandro, com a prancha debaixo do braço, marrento. Chegou na noite da segunda-feira, esfomeado, querendo a comida da mãe. Estranhou quando percebeu que sua progenitora não estava em casa. Pior foi quando se deparou com Luana. Ela estava com uma cara estranha. Algo tinha acontecido, disse Ricardo para si mesmo, uma sombra passando pelos seus olhos.

- Já sei – disse ele, dramático, deixando a prancha desabar sobre seus pés – Ela morreu.

Luana bateu na madeira três vezes, sem saber se ria ou se chorava.

- Cruz credo, Ricardo! Vira esta boca pra lá! Ninguém morreu aqui não.

- Então cadê ela?

- Foi jantar fora. Mas parece que ela deixou comida para você no microondas.

Ricardo começou a ficar desconfiado de alguma coisa. Com as mãos na cintura, perguntou:

- Jantar com quem? Ela sabia que eu estava para chegar.

Sem perder mais tempo, Luana foi respondendo:

- Com um amigo.

- Que amigo?

- O noivo dela?

- Que noivo?

- O noivo que vai casar com ela daqui a três meses.

Cinco segundos depois, Luana estava grudada no celular:

- Mãe! Vem depressa! O Ricardo desmaiou quando eu contei que você vai casar!

(continua...)

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 15/02/2009
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