Naquela estação
Essa não é mais uma historia de um homem pobre,
é a história de um grande homem pobre, com suas dores, desgostos, alegrias, amores, é a história da sua vida.
E eu me lembro bem de todas as tardes em que passava naquela estação, lá estava aquele homem, aquele mesmo homem.
Com os sonhos nas mãos, corpo coberto pela sujeira do mundo. Quase não tinha tempo pra sorrir, era ocupado demais, sempre pedindo uma esmola em troca de uma água mal passada em um para brisas qualquer. Se não isso, era fazendo malabares, embaixadinhas, ou vendendo uma meia dúzia de balas, que seus míseros trocados puderam comprar.
Lá estava ele, de barba feita, não sei onde nem como, hoje estava bonito, com o rosto mais limpo exceto por algumas mudas de roupa ainda sujas que segurava na mão esquerda. Por entre os dedos sujos de sua mão direita, estava um bela corrente de ouro, -que nas mãos de tal pessoa, não valeria muito ou não valeria nada, dependendo do caráter de quem a fosse comprar- que pelo menos lhe economizariam longos dois dias de buscas incansáveis por comida nos lixos da cidade.
Durante um bom tempo eu me perguntei o que fazia ali aquele homem, sempre sentado, hora deitado num banco frio de cimento. Podia chover, fazer frio ou calor, ele sempre estava lá, sempre naquele horário, como se me esperasse passar.
Era a hora em que eu esquecia o mundo, e só conseguia pensar no que ele iria fazer depois dali, para onde iria, onde iria dormir, onde iria chorar e pensar no quanto a vida vem sendo dura com ele. Onde?
As tardes porem não seriam tão bem passadas, não fosse pela minha curiosidade em saber tudo sobre a pobre ou, não tão pobre, vida daquele homem, que coberto pela injustiça, pela ganância dos outros ou ate mesmo por seus próprios erros e escolhas mal feitas, sempre estava lá, de cabeça baixa, tentando por ordem na vida, tentando arrumar o que estava se perdendo, ou já estava por inteiro perdido.
Era ali, ali que ele passava as tardes com seu corpo largado, colado a realidade de um banco público, com seu coração partido, decepcionado, tentando juntar seus sonhos quebrados, procurando uma razão para viver. O que deixava seus belos olhos verdes quase que imperceptíveis, por estarem sempre inchados, de tanto chorar, ou de tanto dormir.
Porem, sem encontrar solução para suas tristezas, ele segue, vendendo balas que nunca são compradas, lavando vidros que sempre se erguem a sua aproximação. Tentando entender o porquê de tanta mentira, de tanta injustiça e desleixo do mundo, que o faz viver assim, sem chances de ser feliz e viver por um ideal. Brigando com o mundo por não o permitir ser amado, por não o permitir amar, por levar na mente, somente as lembranças, e no peito somente uma cruz, essa que era seu refugio, era seu leito e sua saída.
O único bem valioso que aquele homem tinha, "uma Cruz". Desde então, passei a chamá - lo "Jesus".