O voo livre dos balões
Nessa hora, à beira de um mar barrento de uma praia indiana, uma mulher deixa escapulir uma penca de balões de gás, de todas as cores. Acabou de comprá-los com o parco valor que recebera de acerto pelos seus últimos dias de trabalho numa casa onde havia aplicado anos, anos e anos de sua miserável e iletrada vida.
_ Com efeito! _ Murmura a mulher. O diabo do moço surgiu de relance, pintado de bom e de palavras bonitas. Não passou quase tempo nenhum e ele se casou com a filha dos patrões donos de muitas riquezas. E não é que, pouco depois, não satisfeito com os carinhos da jovem mulher grávida, ele seduziu minha neta, único ser que me restou da família?........ E não é que ........ _ O moço, sabendo-se pilhado, deu um jeito nas contas da sogra, de jeito que parecesse que eu, a serva iletrada, que por anos e mais anos prestei serviços naquela casa, tempo em que desfrutei de crédito e boa fama, até mesmo do falecido melindrado patrão, teria trapaceado. Se me entregavam de olhos fechados, de uma agulha até mesmo os serviços bancários!........ Houvesse eu lhe subtraído valores........ Hah! A vida. De nada valeu minha vida toda, inteira de servidão. Valeu a tinta de bom e as frases bem faladas do genro recente. Resta-me isto. Contemplar um voo liberto de balões em direção ao infinito…….. como vivo agora........leve.
( inspirado no romance A distância entre nós, da jornalista indiana Thrity Umrigar, Nova Fronteira, 2006)