Che bello!

"Vem você me dizer que vai a um salão de beleza[...]".

(Zeca Baleiro)

Era dar só uma ligeira olhada pelo Centro (em época de vacas magras ou não): Geralmente contratavam mulher bonita e com muita bunda.

No entanto, era com ela gritantemente o inverso: Lívia Letícia do Amparo Severo de Azevedo, trabalhava em uma ó(p)tica há pouco mais de cinco anos, e durante este período, foram, sem mentira alguma, mais de sete armações vendidas a seu tão esquecido pai, já idoso, mas de coração grande e espírito jovial, Seu Álvaro, que ingenuamente, em (rimada) homenagem a um grande poeta paulista, fazia questão que lhe chamassem "Seu Álvaro de Azevedo" e que, por sua vez, chamava (ou berrava literalmente) pela querida e competente filha por "Liv(i)a Letiç(i)a"!

Ela, de tão pequenina e magra, parecia (resumidamente e para ser franco:) um passarinho! E o pior talvez: Com uns óculos de muito grau que tinham a marca da loja – O que verdadeiramente devia constituir uma propaganda vivíssima do negócio!

As outras, todas muito belas e cheias de si, imagine: Apenas lentes de contato e ai do proprietário, se reclamar!

Quando abriram-se as portas, em menos de um ano, disse uma desaforada ex-funcionária de Seu Osíris (um velho egípcio que se mudou para Teresina aos catorze anos de idade):

– Pro olho da rua com muito orgulho, sim, Senhor! Usar óculos pra ter dez anos a mais? Já pensou, mermã?! Diz pra mim, há condições?

(E a transeunte desinformada do que se passava e intrometida:)

– Um hum! Pois nu é?!

[E quando esta já se dava conta de que estava na frente, não de uma loja de animais, mas de uma ó(p)tica, a outra, na(rci)sista indignada, prosseguiu:]

– Eu já dou cartaz demais à sua loja com o meu "corpi(t)cho", tá bom, ô egípcio? E chega de conversa(?!), passar bem...

[A paspalha ficou de boca aberta, Seu Osíris, filho de turco, deu com os ombros, e a gostosona de fechar (e abrir) o comércio, só faltou quebrar as cadeiras de tanto rebolar entre os carros (que lhe buzinavam) no cair da noite!]

Eis a grande vantagem que (man)tinha sobre as demais! Por uma já sabida e carimbada questão de beleza e antipatia, por muitas vezes, as belas transfiguravam-se: Faziam constantemente cara de enjôo e acreditavam que, se fossem atender a algum marmanjo (acompanhado ou não), quase tudo soava a cantada!

As tais ninfas atraíam tantos olhares e bons fingidores fregueses, que uma até se tornou amante exclusiva de um conhecido político!

Mas com Lívia, não! Com Lívia, era diferente!

– Foi diferente! ...Pra onde vai mesmo essa entrevista, meu fi(lho)?

– A um jornal redigido, em boa parte, pelos alunos de Jornalismo da UFPI.

– UFPI? Que é isso?!

– UFPI?! Universidade Federal do Piauí.

– AH, claro! Onde paramos?

– Bem, o Senhor dizia...

– JÁ SEI! Rapaz, sabe como é que é, né? Foi diferente, sim! Pelo menos aquele ano... Porque de sete funcionárias... Como direi? "Boas", contrato aí uns dois canhões e me armo até os dentes! Sabe como é que é, né?!

Pausa para uma gargalhada muito mais cheia de tosse que de riso:

– Então, contrato meninas como Livinha mais pelo desemprego, a falta de oportunidades; não porque elas queiram mostrar mais serviço que as outras ou porque sejam parentes minhas que, já velhas, jamais galgaram coisa alguma!

– Entendo.

– Felizmente há quase nenhuma assim na família! As poucas estão quase todas casadas! Porque ainda hoje, é uma espécie de emprego o matrimônio! E há quem se case com um bagulho só pra não levar chifre! Sabe como é que é, né, rapaz?!

– Imagino.

– Mas venha cá! Me diga uma coisa: Isso tudo não vai sair lá no tal jornaleco, não, vai?!

– Não, não... O pessoal edita boa parte da entrevista!

– AH! Mas você tá fraco, viu? Nem um gravadorzim, rapaz!!

– Sabe como é que é, né?! O meu quebrou!

A dita entrevista seguiu ainda por dois minutos. Depois, empolgado, pensei em forjar, naquela mesma tarde, uma outra; só que direcionada à grave denúncia de funcionários que vivem de estorquir pacientes do interior daqui e de outros Estados por consultas "mais fáceis" (Deus meu, vejam só:) que lhes são (ou deveriam ser) concebidas por direito.

Mas óbvio que faria algumas entrevistas em quatro ou cinco das tristes pensões que, por ali, se proliferam!

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Um dia, ainda assino uma dessas!

Quanto à protagonista? Casou-se com uma italiana, que, após largar o Vaticano, estava atrás apenas de umas...:

– Buon giorno! Per favore, potete farmi vedere delle lenti scure?

E as "donzelas" se desesperaram!

Teresina, 26-01-09