Quando a felicidade se distancia

Levantou-se naquele domingo ensolarado com o pensamento voltado para os negócios. Apesar de ser fim de semana, dia em que a maioria das pessoas tiram para descansar, ele, Alcides, iria até o outro lado da cidade tentar fechar a venda de um imóvel.

Carrancudo como sempre, passou pela esposa e os filhos sem se aperceber que eles estavam ali esperando-o para o café da manhã. Simplesmente saiu sem dizer nada. Não podia perder tempo com a família, tinha coisas mais importantes a fazer.

Uma dor no estomago terrível lhe infernizava a vida naquela manhã. A dias  vinha sentindo aquilo, e agora parecia ter aumentado. No sábado discutiu feio com o seu sócio pelo insucesso de uma negociação, o que o deixou bastante irritado. A noite discutiu também com a esposa porque ela queria que ele a levasse com as crianças para passarem o domingo no sítio da família. Tentou convencê-la a mudar de idéia, de uma maneira não muito convincente, que alias a ignorância, como sempre, era a sua marca registrada, e acabaram discutindo.  Talvez tudo aquilo contribuíra para aumentar aquela dor maldita que parecia rasgar-lhe as entranhas ao sair de casa hoje.

Antes de sair olhou pelo retrovisor do carro e percebeu que seu filho Thiago, de apenas cinco aninhos, espiava, pela janela da sala, vendo-o partir. Parou por alguns segundos e acenou com a mão para o menino, em seguida  acelerou o carro e foi embora.

Pelo caminho seu pensamento vagava longe, movido pela obsessão dos negócios pendentes que  tentaria solucionar durante a semana.

Um carro o fechou em um cruzamento quando já estava quase chegando a casa do cliente que iria visitar. O motorista fez sinal com as mãos pedindo desculpas. Ele porém abriu o vidro do carro e descarregou uma enxurrada de palavrões sobre o indivíduo, e enquanto tentava ligar o carro novamente o outro veículo arrancou em alta velocidade. Pensou em ir atrás, porém desistiu logo em seguida, ao lembrar-se que tinha hora marcada com o seu cliente.

Após quase duas horas de negociações conseguiu efetuar a venda. Porém saiu dali irritado por ter fechado o negócio com o valor bem abaixo do que havia planejado.

Retornou para casa carregando consigo, além de um  negócio mal  realizado, aquela úlcera nervosa que parecia querer acabar com a sua vida. Passou pela sala e nem deu atenção para o pequeno Thiago, que deixava escapar, dos seus olhinhos  inocentes, a súplica quase constante de um pouquinho só de atenção por parte do Alcides.

Passou a tarde toda trancafiado em seu escritório, remexendo em papéis acumulados sobre a mesa, e somando valores que ia passando para o computador. Apalpou levemente o estomago que não parava de doer. E agora, além dessa maldita dor, começou a sentir, também, algo esquisito na altura do peito que ia e vinha em períodos esporádicos, dando a impressão que tórax fosse explodir. Pensou que poderia ser um aviso de enfarto, porém logo descartou  essa idéia, pois não tinha tempo para encafifar-se com doenças. -Estava perfeitamente bem! Sim, é isso mesmo! Aquilo era tudo coisa passageira!-pensava consigo, enquanto inseria os valores no programa do computador.

Só no fim da noite resolveu sair do seu refúgio. Percebeu que todos já tinham ido dormir. Foi até a cozinha, abriu a geladeira e tomou um copo de leite gelado. Sentou-se em uma poltrona junto a janela da sala e só então percebeu que lá fora fazia uma noite maravilhosa. Observou a lua e as estrelas que brilhavam singélicas no céu e deixou que o pensamento vagasse, relembrando a sua mocidade, quando ainda morava com os pais. Porém pouco durou aquele balsamo suavizante. A dor no estomago  o fez voltar a realidade rapidamente. Pareceu-lhe que dessa vez ela o dilacerava de maneira mais forte ainda. Sentiu um calafrio percorrer-lhe o corpo e uma fraqueza que lhe escureceram as vistas. Tudo isso, obviamente, por não ter se alimentado direito durante todo o dia, por culpa dessa úlcera que lhe tirava todo o apetite. A dor no peito também ia e vinha a todo instante.

Teve a atenção desviada para  um casal que passava pela calçada brincando com um garotinho, mais ou menos, da idade do seu pequeno Thiago. O pai colocou-o sobre os ombros e corria para lá e para cá, enquanto a criança gargalhava graciosamente tentando desviar-se da mãe que fingia querer pegá-lo. Ficaram por ali alguns minutos e depois continuaram a caminhar, enquanto o Alcides apenas  acompanhava o barulho do casal, já longe, brincando  com a criança que não parava de rir, até que a rua ficou silenciosa novamente.

O Alcides sentiu uma certa inveja de tudo aquilo, porém taxou os de idiotas. Algo inato à sua maneira prepotente e arrogante de julgar as pessoas.

Cerrou os olhos tentando adormecer, todavia a dor não lhe permitia. Pobre Alcides, não conseguia enxergar que todo o seu apego as coisas materiais da vida o estavam consumindo dia a dia. Seria esse  um modo feliz de se viver? Ou seria apenas uma maneira  hipócrita e infeliz de querer encontrar a felicidade a todo custo , enquanto ela se distancia cada vez mais, sem que a pessoa se aperceba? Certeza porém eu só tenho uma: "Cada um é dono do seu próprio nariz".

                                      FIM

"Peço desculpas aos meus leitores por algum erro de ortografia, pois não sou escritor, sou apenas um humilde criador de histórias. Caso encontrarem algum erro peço a gentileza de me avisarem  para que eu possa fazer as correções necessárias. Muito obrigado."

       

Ivan Ferretti Machado