As surpresas de cada esquina...

Todo início de ano Maria Eduarda pulava as sete ondinhas. Comia as sete uvas e guardava os carocinhos na carteira... vestia-se de branco, usava uma calcinha nova e branca, fazia umas orações de agradecimento e pedia ao ser superior belas surpresas no ano vindouro.

Mais um ano e o ritual de Maria Eduarda seguia... Intocável... como disse um político certa vez... iméxivel... Lá estava ela no meio da areia da praia, areia cheia de pessoas de várias crenças, cada uma fazendo sua oferenda, sua prece e seu pedido.

O ano de Maria Eduarda seguiu sem grandes desastres, mas também sem grandes rompantes, grandes emoções...

Dia 30 de dezembro... lá estava ela pensando no seu vestidinho branco... Indo para o salão pintar as unhas ( de branco ) quando tropeçou num papel dobrado. Curiosa... pegou a folha, abriu e leu o seguinte:

“Tantos deveres, tanta preocupação em “acertar”, tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação... Aí a vida fica sem tempero, politicamente correta, existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...

Ás vezes dá vontade de fazer tudo “errado” ... Deixar a régua de lado, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos. Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito. Recusar prazeres incompletos e meias porções.” Leila Ferreira

Aquelas palavras tocaram profundamente Maria Eduarda... ela continuou seu caminho... entrou no salão... pintou as unhas de vermelho... passou na boutique e comprou um vestido vermelho com um belo decote e foi sorridente para casa.

No dia seguinte Maria Eduarda vestiu seu vestido vermelho, dispensou a calcinha... mas para não desprezar todo o seu ritual... afinal tinha a metade boa... comeu suas sete uvas e foi a praia... lá pulou as sete ondinhas... e olhando para os lados viu um moreno alto e sensual lhe oferecendo um pouco champanhe...

Maria Eduarda... bebeu o ano novo no gargalo da garrafa... grudou no pescoço do moreno e só soltou 10 meses depois... quando a relação esfriou e cada um decidiu ir para um lado... Ela sofreu, chorou, se deseperou... mas concluiu que valeu a pena.

Este ano, Maria Eduarda ainda não sabe bem o que vai fazer ou usar na passagem de ano... mas tem certeza de uma coisa... Aquela Leila Ferreira não tem noção da revolução... da transformação que causou em sua vida.

Quando tudo estivesse morno... Maria Eduarda não seguiria a mesma rotina... não insistiria mais nas mesmas manias... Bem, a não ser aquele papelzinho que ficaria guardado no fundo de sua gaveta com as sábias palavras de Leila Ferreira... os escritores, por vezes, não sabem o poder que teem.

Cris Morais
Enviado por Cris Morais em 29/01/2009
Reeditado em 15/09/2009
Código do texto: T1411453
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