REALIDADE INSACIÁVEL

Foi um dia difícil, a barriga criava vida e se revirava, aquele barulho só trazia mais fome. Carlos não estava só, vinha com o amigo Ademair, outro morador de rua, velho e sozinho, menos apresentável que Carlos, tinha uma camisa que já não se distinguia a cor, que ficava escondida por grandes manchas. Já Carlos, um homem de meia idade, vestia uma camisa social até que limpa e uma calça jeans já sem o bolso traseiro.

Os dois vinham caminhando pelo mesmo caminho que sempre faziam em direção a padaria, onde de vez em quando conseguiam um café bem quente, que os clientes pagam para eles. Mas por esses dias as coisas estavam até para conseguir um café.

Carlos já não sabia o que pensar, estava com fome, sem teto, só faltava cometer alguma loucura. Sua cabeça rodava junto com seu estomago e nunca atitude desesperada e irracional, entra em uma agencia do Banco do Estado que ficava no caminho da padaria.

Ele entra e anuncia o assalto, tudo muito rápido que seu amigo fica do lado de fora a procura-lo. Sem nenhuma experiencia anterior Carlos mente que possui uma arma e manda todos de abaixarem e pede à moça do caixa que dê todo o dinheiro. Mas uma onde de reflexão o faz parar no tempo e pensar na sua situação. Onde vou guardar o dinheiro? Nem bolso eu tenho. Como fui tolo. Como minha mãe reagiria a toda essa minha atitude? E meu pai, que Deus o tenha, o que pensaria?

Agora já se podia ouvir o barulho das sirenes e uma voz forte amplificada pelo megafone dizia:

— Senhor eu sou o policial Antônio, e estou aqui para ajudar. Peço para que se renda, será melhor para você e para todos ai dentro.

Carlos ainda com fome e atordoado entra em desespero com a voz do policial estremecer seus tímpanos. É nessa hora que ele vê uma mulher debruçada no chão com sua filha agarrada ao seu ventre em um sinal de defesa e proteção dizendo em voz baixa que tudo aqui iria acaber bem. Carlos se lembra de sua família que deixou no Nordeste para tentar a vida na cidade que um dia pensava ser melhor e mais cheia de oportunidade que sua antiga cidadezinha, enganou-se.

Após isso não aguentou mais seus olhos marejados de lagrimas, suas pernas cedem e ele cai ao chão. Tudo aqui só havia feito aumentar sua fome. Policias rapidamente o cercam e o prendem, mas como todos tem o direito de um ultimo pedido a única coisa que pediu que para muitas pessoas hoje não dão o valor, era uma refeição que saciasse sua fome interminável.