A Flor de Papel
Sexta-feira, depois de mais um dia de trabalho, já cansada e abatida, enfim, eu voltava para o meu lar junto com uma grande amiga.
Eis que adentramos o ônibus lotado, tinham dois lugares, porém distantes um do outro. Então optei por deixar minha amiga sentar-se, e fiquei em pé ao seu lado para podermos conversar. O homem q estava sentado ao seu lado tinha uma aparência indígena, e tinha o rosto e as mãos com grandes cicatrizes de queimadura, parecia ser mudo. Eis que esse homem se levantou, pensei q ele fosse descer, e tomei seu lugar. Até que percebi que ele havia sentado no outro lugar vago. Olhei admirada, e agradeci num gesto com a cabeça.
É tão raro ver gentilezas dessa natureza hoje em dia, que fiquei lisonjeada, um gesto simples, mas que às vezes não é feito apenas por falta de percepção.
Então chegou o ponto onde eu minha amiga desceríamos, e nos levantamos. Quando eu estava já na porta, senti alguém tocar meu braço, era ele, que segurava algo em sua mão e me oferecia. A principio não identifiquei o que era, mas ao receber, tive uma sensação de paz tão boa... Era uma flor, feita com papel, tipo esses guardanapos. Olhei-o com imensa ternura, ele me olhou nos olhos, e ali pude ver o quão grandiosa era a alma daquele homem.
Aquilo me fez ganhar a noite, era como se eu não sentisse mais o cansaço, me sentia leve, estava bestificada.
Eu fui a única a receber aquela flor, talvez ele tenha sentido minhas veias indígenas e se identificado comigo, ou tenha notado o quão triste eu estava por dentro, mas acredito realmente que esse é um homem raro entre tantos, que não desiste do que quer, que ainda acredita no ser humano.
É isso que precisamos: acreditar que o mundo ainda tem jeito. Imagina quantas pessoas amassam aquela flor e jogam em uma rua qualquer. Mas se pelo menos uma cuidar e plantar novas sementes, não de uma flor de papel, mas sim de solidariedade, de percepção, de fé e esperança, todo o trabalho de distribuir flores aos quatro cantos do mundo terá valido a pena.