Festival da Punheta em Canoa Quebrada
A cidade dormia e então eu e a turma entrávamos em cena. Estávamos decididos a angariar dinheiro para pagar a excursão à Aracati. O reisado ia até alta madrugado e tudo o que ganhávamos, desde dinheiro até ovos, era direcionado a este fim. Afinal, só se conclui o ginásio uma vez na vida.
Quarenta e tantos alunos não falavam em outra coisa, nem tinham cabeça para tratar de mais nada, tudo girava em torno disto. Mesmo as longas sessões de punhetas à beira do rio Salgado, entre as moitas, onde espreitávamos o banho das quengas da Rua da Corrente, haviam sido encurtadas e rareadas.
Tiago e eu organizávamos quase tudo. Tiago era mais velho do que eu e nos conhecíamos de longa data, desde o tempo de grupo, onde estudáramos uma tal Educação Integrada. Grandão, valente, surrou-me muitas vezes e me obrigava a lhe fazer as lições. Um dia, sem querer, ganhei minha alforria.
Tínhamos o hábito de pular o muro do grupo escolar para comermos uma jumenta que ficava presa num curral ao lado. Recusei, naquele dia, tirar o ‘par ou impar’ para decidir quem trepava primeiro na jumenta. Tiago não gostou, aplicou-me uma série de murros na cara e me chamou de baitola.
Sentei-me num canto humilhado e a matutar que Tiago era grande, mas não eram dois. Procurando um lugar para enfiar a rosto corado de vergonha, joguei os olhos em cima de uma funda. Daí em diante, nem lembro direito porque o processo foi quase automático. Mas em linhas gerais, ocorreu assim: peguei a funda, coloquei um enorme torrão na redinha, mirei Tiago que socava o pinto na jumentinha, rodopiei o braço uma cinco/seis vezes e soltei uma ponta da arma medieval. Um tiro certeiro nas costas de Tiago que caiu desmaiado no chão com as calças aos joelhos!
Que fuzuê, meu Deus! Nunca me arrependi tanto. Por um triz não me torno assassino em tenra idade. Três dias depois, no entanto, Tiago retornava à sala com a cabeça inteira enfaixada. A meu favor havia inúmeras provas de que ele me agredia constantemente. Em vez de ganhar exclusão, ganhei o respeito da turma e nunca mais ninguém se atreveu a me encostar a mão! Continuei fazendo as lições de Tiago e mais uns três; mas, mediante lambuja!
Enfim, o grande dia! Um ônibus a nossa disposição e preparativos para três dias em Aracati. Tiago conhecia bem a cidade e conduzia a turma pelas praias maravilhosas e dunas deslumbrantes. Ypioca, muito tempo ocioso e, a grande ideia: fazer o Festival da Punheta numa das grutas de Canoa Quebrada! O vencedor ganharia o mais novo LP de Fagner que seria comprado através de ‘vaquinha’ entre participantes perdedores e espectadores.
Fugimos da mulherada; umas revistas pornográficas para serem mostradas aos participantes quando em plena atividade, umas garrafas de cachaça, limão; e a gruta já havia sido escolhida por ser a mais deserta, segundo Tiago. O critério era simples: o vencedor seria àquele que jorrasse maior quantidade de sêmen mais distante, exatamente como faríamos na areia branca e fina do Salgado.
Tiago, o favorito, era sempre o mais sabotado e sacaneado. Quando estava preste a ejacular, em vez de lhe mostrarem fotos de mulheres nuas, arreganhadas, mostravam-lhe somente pintos de homens. E ele gritava, então:
-Tire esse pau daí, Caralho. Mostra uma buceta pra mim, filho de rapariga (ofensa gravíssima, no Ceará). A porra já vem... Se eu perder o LP, eu te cubro de porrada!
A molecada caia na gargalhada, uma algazarra só, a maior farra que eu já vivi. E tanto fizeram que Tiago acabou queimando a linha, ou seja, quando iniciou a ejaculação, o pé havia ultrapassado o limite demarcado! E o Festival ou torneio era coisa séria: as regras haviam de ser cumpridas.
Na segunda tentativa, ocorreu o que nunca presenciei na vida: Tiago tanto se esforçou que rompeu a acropóstia (no Ceará, cabresto do pinto), uma película que liga o bálano ao prepúcio, aquilo que os judeus cortam e dão o nome de circuncisão.
O moleque ficou inteiro ensopado em sangue e começou a amarelar; um outro gritou:
-Faz um garrote!
-Ou então segura e não deixa mais sair sangue.
Recusou-se ir ao hospital. No dia seguinte, o pinto de Tiago parecia um aleijão e ameaçava tornar-se o paraíso da necrose. Por sorte, revertia-se o quadro e o pau de Tiago passou a apresentar longínqua melhora. Este virou a pilhéria da roda.
O mulheril louco para saber o que havia acontecido. Era só risada e esculhambação!