Nasci Malandro, pô!

- Tá com medo?

- Tá me tirando?

- Tu não respondeu.

- Nasci malandro! Tô na boa!

- Foi mal, mas é que a tua cara...

- Qualé? A única que tenho!

- Tudo bem. Só tava falando...

- Falando demais! Faz a tua parte e cala a boca.

- Fácil cantar a letra, né?

- Não reclama! Tu que meteu a gente nessa!

- Com a tua ajuda, malandro! Num tenta cair fora.

- Firmeza...

- Que cara é essa?

- Vai rolar sangue...

- Tu ainda num sabe. Relaxa.

- Conheço a letra. BO assim sempre rola sangue.

- Tu é o dono do morro, pô!

- Tô ligado...

- Tá acostumado, pô!

- Tô ligado, porra...

- Então, relaxa.

- Nem pra casa a gente pode ir.

- Fica na boa... Tu fica um tempo na espreita e beleza.

- Tu trouxe tudo que os caras mandaram?

- Tá na bolsa.

- Conferiu?

- E precisa, porra? Sei a letra como ninguém.

- Não me acostumo com esse lance.

- Quando tu perceber, já terminou...

- Tô ligado.

- Então, tá na hora de desenrolar a fita.

- Agora?

- Agora. Tá todo mundo pronto.

- Firmeza. Tu vai na frente e eu vou seguindo.

- Certo.

- Fica de olho.

- Porra...

- Fica de olho, nego! Promete!

- Firmeza...

Duas horas depois. Fim dos gritos estridentes. Sangue pra todo lado.

O dono do morro era pai.

Mais uma vez, de um filho que não era dele.

Felipe Valério
Enviado por Felipe Valério em 23/01/2009
Reeditado em 25/01/2009
Código do texto: T1401137
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