Amizade? (continuação)

Lágrimas rolavam pelo seu rosto era o fim, nunca mais iam acampar, nem fariam caminhadas juntos, tão pouco ficariam até de madrugada no MSN conversando sobre filosofia, aulas de yoga juntos então nem pensar.

Aí ela lembrou que isso já acontecera com ela antes, não dessa forma, um tanto diferente:

Ela trabalhara em uma grande loja e acabara fazendo amizade com o filho do dono, no começo não gostava dele que era um mauricinho, com o tempo viu que de fato ele era um mauricinho, um tanto cheio de querer ser, mas era legal, como curtiam as mesmas bandas saiam algumas vezes juntos sempre com a turma.

Depois de algum tempo se tornaram um tanto mais íntimo, exceto no local de trabalho, porque como ele mesmo dizia não ia pegar bem se ficassem de trololó um com o outro, afinal ele era filho do dono e seu pai podia não gostar ou os demais funcionários poderiam entender errado e toda essa baboseira, fora isso a amizade ia crescendo, até que um dia sem mais nem menos ele lhe disse:

-Acho que estou me apaixonando por você.

-O quê! E ela que estava tomando refri meio que se engasgou e o refri saiu pelas suas narinas, depois de se limpar ela olhou para ele esperando a gargalhada de deboche, já que se engasgar com o refri e este ainda fazer o favor de sair pelo nariz era motivo para ele rir da cara dela por uma semana inteira, ainda mais que o engasgo se deu por ele ter lhe dito que estava se apaixonando por ela, mas ele estava sério.

-O quê? Ela repetiu a pergunta ficando séria também.

-É isso aí.

-Não pode ser eu não faço o seu tipo, você só gosta de patricinha.

-Eu sei que você não faz o meu tipo, mas... Eu não sei, eu estou me envolvendo demais com você e isso não pode acontecer.

-Por quê? Perguntou meio que sem pensar, automaticamente.

-Porque eu não esperava por isso.

-Sei.

-É melhor nos darmos um tempo, sabe, não sairmos mais juntos.

-Ok, então.

-Certo, e dizendo isso saiu deixando-a tão constrangida como estava agora.

Mas agora era diferente, com o filho do chefe tinha a diferença social entre eles, por isso ela se conformara não quebrara tanto a cabeça. E agora o que tinha agora? Agora tem a Cristina, respondeu uma vozinha na sua cabeça.

Ela enxugou as lagrimas se levantou, tomara uma decisão e ia fazer isso imediatamente.

Pegou um ônibus. Tinha pressa. Parou em frente a uma casa com jardim, entrou pelo portão da frente que estava aberto e bateu na porta, havia barulho na casa, mas ela percebeu o movimento de alguém se aproximando à porta e quase pode ver a pessoa olhando pelo olho mágico e instantaneamente houve um silêncio repentino na casa, porém ninguém abriu a porta, bateu novamente, nada, insistiu mais um pouco, viu que ninguém ia lhe atender então se sentou em frente à porta, uma hora alguém ia ter de atendê-la.

Depois de algum tempo alguém abriu a porta, ela olhou para cima e viu um rosto bonito, mas um tanto desfigurado pela raiva, era a Cristina.

-Preciso falar com você.

-Mas eu não tenho nada pra falar com você. Disse a outra com rispidez.

-Por favor.

Cristina, já ia fechando a porta, mas Sabrina insistiu.

-Eu prometo sumir da sua vida uma vez por todas, da sua e da do Eduardo, só me escuta pela ultima vez.

O rosto de Cristina se descontraiu um pouco.

-Você o ama não é? Essa raiva que sente por mim é medo, é apenas medo de perdê-lo, não é? Pois bem, ele também te ama Cristina e muito, então, por favor, reate o namoro com ele tá, e sejam felizes, é só isso, tchau. E dito isso virou as costas e saiu.

Cristina permaneceu à porta sem querer acreditar, estava tremula, sentira pena da garota de olhos grandes e expressivos que a tanto não a suportava, mas sentiu pena de si também, da sua insegurança em relação ao Eduardo, gostava muito dele é verdade e sentia pavor de pensar em perdê-lo.

Ela sabia que ele a amava, mas e se ele se interessa-se por outra, e se deixasse de amá-la?

Por isso que ela fez o que fez, brigou se escabelou quanto à amizade dele com a Sabrina, talvez a moça não quisesse nada com ele, mas mesmo assim era uma ameaça, era mulher, portanto uma rival.

Mas mesmo depois de ver sua inimiga por assim dizer, ali quase chorando pedindo para que ela voltasse com ele, não conseguia se sentir mais segura, pois afinal havia outras mulheres. Então ela percebeu que o problema não era com as outras mulheres, mas consigo, ainda atordoada com seus pensamentos fechou a porta e se direcionou ao telefone, ia ligar para ele.

Sabrina passeava pelo parque da cidade, passeava e pensava, chegou à conclusão que compreendia a Cristina, sim ela tinha medo, medo de perder o Edu, mas e ele, ele tinha medo de se apegar a ela, a ela e a qualquer outra pessoa com que ele não tivesse habituado, qualquer coisa que diferisse o seu mundo, tinha medo de se envolver com outra pessoa que ele não tivesse planejado.

O mesmo se deu com o Caíque, o filho do patrão, o que foi que ele dissera mesmo, quando ela lhe perguntou o porquê ele não poderia se envolver com ela? Ele lhe dissera, porque eu não esperava por isso. Aí ela compreendeu que não era a diferença social entre os dois, era medo, medo do não planejado, medo da vida sair do própio controle, como se a vida tivesse de fato algum controle. É por isso que as pessoas jamais serão felizes, porque no fundo as pessoas têm receio de o ser, do caminho a percorrer.

Duas crianças passaram por ela correndo uma atrás da outra, a menininha que ia à frente tropeçou e caiu, o garoto que vinha atrás caiu por cima da menina, imediatamente a mãe veio correndo preocupada com as crianças, elas choraram um pouco, mas, mais rápido do que nunca puseram se a correr novamente.

Elas não têm medo. Pensou Sabrina, não temem cair, pois por mais que doa e chorem irão correr novamente. Por isso as crianças são felizes.

Queria voltar a ser criança, voltar a ter aquela inocência, mas como isso não é possível, ela se contentou em se sentar em um balanço e ficou a se balançar até o sol se pôr, o parque se fechar e um dos funcionários vir lhe repreender, por ainda não ter saído do parque, ela se levantou e foi saindo bem devagar, e pode ouvir o funcionário comentar irritado: Vê se pode desse tamanho no balanço, parece criança.

Mas ele não viu o sorriso que surgiu em seus lábios ao ouvir isso.

sutini
Enviado por sutini em 20/01/2009
Reeditado em 25/10/2013
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