REUNIÃO DE CODOMÍNIO ACABA EM CEFALÉIA...
Já sabia que aquele dia eu ia precisar fazer uso de algum analgésico. Dia de reunião de condomínio era promessa e sinônimo de dor de cabeça...
Havia prometido a mim mesma que não participaria mais de reuniões no prédio. Era sempre tudo igual. Muito falatório e nenhuma solução que satisfizesse a maioria. Aquela síndica dos infernos toda vez dava um jeito de se beneficiar. Os condôminos que se lascassem e engolissem em seco os argumentos infindáveis e infundados dela.
Como era a primeira reunião do ano, esperava por mudanças também ali, por ideias renovadas. Por isso, fui.
Na maioria das vezes, a síndica ganhava pelo falatório. Era um discurso sem explicação. Parecia que ela não tinha interesse em esclarecer nada de nada. Apresentava-nos situações como se quisesse ludibriar, era pura embromação!
“Devia ter inventado mesmo uma desculpa para não estar aqui...” Pensei arrependida. Nem precisava ser uma boa desculpa. Apenas uma. De levar a mãe ao médico. Afinal mãe sempre vai mesmo... Dizer que surgiu um imprevisto que só eu poderia resolver... Imprevisto é bom! Ninguém nos impede de ir. Imprevisto, é imprevisto. Mas, aqui estou em pleno sábado de folga. Dia de aproveitar, de curtir e essa mulher que não para de falar! Haja Deus e saco para eu aturar com classe até o fim! E começou o zunzunzum...
Um reclamava de cá, outros de lá. Por fim, a maioria concordava com a síndica para que a reunião acabasse logo e pudéssemos aproveitar o sábado.
Breder era o treinador da escolinha de futsal da molecada do prédio, não parava de olhar para seu Mido e cronometrar a hora. Foi o primeiro a manifestar impaciência:
- Caramba! Já são 09:40h... Estamos há quarenta minutos e nada de resolver patavinas!
- Pois é! Já pedi para a Zulma mudar o dia da reunião mas, não há meio dela atender. É tinhosa. -Falou a doceira Rita. – Estou cheia de encomendas para entregar, a noiva já ligou duas vezes para confirmar a hora...
-Xiiiiiii! Psiu! Fiquem quietos... Senão a diaba dessa mulher não cala a matraca e aí “danou-se” nosso sábado! – alertou Dagoberto Quintanilha, o advogado.
- Ô Dagoberto! Você é advogado, faz alguma coisa! Valha da sua profissão a nosso favor! – Solicitou Breder.
- Você tá é louco, Dedé achando que vou me valer do meu ofício aqui! Meu amigo, canso de dizer que da portaria pra dentro, sou simplesmente o Betinho da Liz. Aliás... Ela é quem deveria vir aqui, só que hoje é o casamento da Yolanda e ela foi comprar o presente...
Suellen, a loira do 402 começou a falar:
- Dona Zulma... Minha filha faz aniversário mês que vem e quer um cachorri... – Nem pode terminar a frase, foi interrompida bruscamente pela síndica:
- Nem adianta. Cachorro aqui, im-pos-sí-vel! – Falou soletrando com ironia, aquela mulherzinha destemperada!
- Mas, a senhora tem um pincher! – Retrucou a loira.
- É mesmo! E olha que o cachorro é abusado igual a dona – falou o estressado Dinaldo. Um dia quase dei uma bicuda nele porque me mordeu no calcanhar.
Sei que o cachorro não tem culpa... Temos o péssimo hábito de transferir a raiva que sentimos de alguém para seu animal de estimação, filhos e parentes. Um erro grande, porém verídico, infelizmente... Após falar isso, quem estava lá participando da reunião (participando nada, assistindo apenas, pois só a síndica falava, dava opinião e acatava as idéias dela), todos caíram na risada. Não pela possível agressão que cometeria o Dinaldo. Mas, pela situação que ele passou e do modo que ele falou. Muito engraçado. Pagava para ver a cena! “Deus me livre de mim e dos pecados!” Pensei rindo com os cantinhos dos lábios.
- Acontece, senhor Dinaldo que eu sou a síndica, moro no térreo e posso ter o bicho que quiser e meu Brad Pitt é um amor e tão pequenino que não incomoda ninguém! O senhor é que é um destrambelhado negativo que não gosta de animais!
- Será que ela não sabe daquele ditado... “Nos menores frascos, os piores venenos”? – Brincou o Breder.
- Quer dizer que o seu é pequenino? Ah... Sendo assim, vou comprar um dessa raça para minha filha! – Resolveu Suellen.
- Não pode! A senhora mora no quarto andar e o cachorro vai incomodar os demais condôminos. – Protestou a síndica Zulma.
Foi o maior fuzuê. Virou uma Bolsa de Valores em hora de alta do dólar. Todos falavam, ninguém se entendia. Para a finalidade mesmo da reunião, nada foi solucionado. Ouvi os protestos mais inusitados e descabidos. Tenho a impressão que o pessoal se valhe dessas reuniões e aproveitar para falar da vida alheia... Foi aí que o advogado Dagoberto sugeriu para o Breder:
- Meu camarada, por que não se candidata para síndico na próxima eleição?
- Deus me livre dessa maldição! Você é meu amigo ou não me desejando um infortúnio desses?
-Ué... Seria uma boa! Você é popular, gente boa, sabe ouvir... – Justificou o advogado.
- Eu, hein! Ser síndico é segurar batata quente, é colocar corda no pescoço, é botar cara a tapa, é ser o Cristo!
Nisso, nos olhamos e estranhamente sentimos um medo de sermos síndicos. Cheguei a falar:
- Ela que fique com esse abacaxi para descascar! Para ser síndica acho que ela está sob medida... É desaforada, não tem “papas na língua” e parece que veio ao mundo com um defeito de fabricação. Ela fala mais do que nos ouve. Deve ter duas bocas e um só ouvido...
Rimos os três. Assinamos a ata e saímos da sala de reuniões. Breder disse que nem vai reclamar tanto da dona Zulma, Dagoberto concordou. E eu já decorei uma lista de desculpas para não ir às reuniões até o fim do ano...
Será que na minha bolsa tem algum analgésico? Estou precisando...
(Este conto é ficção.)