Vinte e tantos anos depois.

Aquilo prolongava-se indefinidamente e ninguém chegava a um acordo. Aliás, ele não chegava a um acordo, tudo o que fazia era choramingar e querer o retorno.

Debalde o advogado dela, tentava conduzi-lo sutilmente à razão. O advogado dele já se calara, cansado e com medo de irritar o juiz, que bocejava discretamente.

- Eu a amo! - dizia ele, choramingando - Não quero divórcio, a gente pode tentar.

- Mas, senhor - dizia o advogado dela, pacientemente - a minha cliente não deseja reatar o casamento; é preciso que o senhor entenda, essa é uma formalização da separação civil, já que a separação de corpos já se deu há muito tempo. O senhor tem apenas que assinar os papéis. Nem seria necessário estar aqui, foi apenas por insistência do senhor!

- Não, não! Eu não vou assinar.

E ela? Ela começara bocejando discretamente e agora o fazia explicitamente. Coisa pau, meu Deus!

Também o juiz já se impacientava; duas horas de lenga-lenga, dá pra chatear qualquer um. Resolveu intervir, quebrando formalidades e protocolos.

- O senhor está inutilmente insistindo, assine os papéis, acabe logo com isso.

- Sua Excelência não sabe como eu amo esta mulher! - disse ele entre lágrimas, para susto do advogado - Eu não posso viver sem ela. Ela está vivendo com um miséravel, mentiroso, que nem sequer a ama de verdade. Mas, eu a perdoo e quero de volta mesmo assim.

O juiz olhou para ela, com a expressão de "e agora, que me diz?"

Ela estreitou os olhos, desenhou na cara o sorriso mais cruel que poderia ter dado e disse, peremptória:

- E o que eu posso fazer se as mentiras dele são mais plausíveis que as suas verdades?

Foi o que se contou na sala vinte e tantos anos depois.