Como de costume todas as manhãs o ônibus saia pra vila, em busca dos alunos, para mais um dia, mais um início, não de uma simples manhã, mas início de vida.
A vila ficava longe do distrito da cidade, várias casas, famílias que com seu pedaço de chão se mantinham.
Do ônibus eu via ali os rostos, as caras e a alma, daquelas que levavam os filhos no ponto.
Mulheres de alma estampada, retraída, ferida, perdida...
Eu via além daqueles olhos, gestos simples, singulares, alma chorosa.
Cada ruga uma história de vida, de dor, de amor,
Via os sonhos estacionados, parados no tempo, inerte a qualquer reação de mudança.
O olhar distante revelava a dor da vida como a partida do ônibus que levava sua cria.
E tantos sonhos levados da vida, tantas vontades suprimidas, trancadas, sem nenhuma gota de esperança, gotas só de suor que escorriam da face, um suor gélido e ao mesmo tempo fervente ao rosto.
Em poucos minutos via uma história inteira passando diante da janela, as mãos que abanavam dando adeus, era como se tivesse dando adeus a seus próprios sonhos, um abandono de si mesmas como pessoas, como mulheres.
A quem culpar?
Ao destino?
A vida?
Ao fracasso?
A falta de oportunidades?
Um destino que levavam a cumprir o ciclo da vida, da cria, ser mulher e mãe...
Uma vida fruto de desamparos tantos, e sentimentos negados, talvez sem culpa, mas que mudariam o curso do caminho...
Um fracasso de não ser um corpo apenas, mas de ser o corpo, agente de suas estradas.
As oportunidades que a vida lhe tirou, reunindo um fracasso por não mudar um destino.
De longe apenas olhavam, despedindo das crianças,ali podiam ver a esperança.
O ônibus partia
E ficava a vila..
Do ônibus via-se apenas as mãos, retrato fiel da vida vivida.
Os olhos?
A poeira da estrada impedia de ve-los.