O Desfecho
Celulares tocam a todo o momento. Uma clínica de banco de sangue (centro médico, onde são recebidas doações e são feitas transfusões sanguíneas) onde só empregavam garotas bonitas, habilitadas e na linguagem da moda: descoladas. Pais que vivem no ambiente rural e são forçados a deixarem nas mãos de suas filhas um carro em ótimo estado e um aparelho celular, ambos para “trabalho”, caso contrário, continuavam desempregadas. Garotas que saem do conservadorismo de seus lares para a modernidade que o mercado de trabalho as revelou. Uma série de fatores que somados não passaram despercebidos por Raul e resultaram no dia em que ele sentiu-se um verdadeiro jornalista.
Um papelote de maconha encontrado na bolsa de Márcia, enfermeira que trabalhava com a prima Juliana e Débora, a melhor amiga, entre outras gostosas, em uma clínica de banco de sangue, em Campinas, SP. Que ironia que o destino proporciona, o mesmo celular que tocava sem parar foi peça chave para a descoberta do esquema sujo. O aparelho tocava irritantemente na bolsa de Márcia, porém ela não o portava naquele momento, sobrou para Raul atendê-lo, já que estava almoçando na casa dela e sua mãe autorizava-o. Não conseguiu atender, marcava na tela: ligação perdida André. Ainda na bolsa, próximo a um espelhinho de maquiagem, um papelote, muito parecido com os de maconha que ele via na TV, não exitou e logo abriu, era mesmo a erva.
Márcia, Juliana e Débora saíam pouco, mas repentinamente vão estagiar como enfermeiras na clínica, pois já estavam no último semestre do curso técnico de enfermagem e mudam completamente seus comportamentos. Agora são freqüentadoras de bailes rave, possuem carro e celular (o que seria normal para qualquer garota nessa idade, 20 anos, mas não para “as menininhas do sítio”). Tornaram-se descoladas e adaptadas à modernidade. Isso indagava Raul, a maconha tirava seus sonos, foi investigar. Primeiramente escutou as fontes, a culpa passava de uma para outra. Os “podres” foram revelados. Descobriu que as três trabalhavam em um local que servia de fachada para o tráfico de drogas e a prostituição, eram consumidoras de maconha, traficantes (está aí a explicação pelas freqüentes chamadas no celular e o carro, eram para buscar, consumir e vender a droga) e meretrizes, pois também existia na clínica um esquema de prostituição das garotas que lá trabalhavam, já na entrevista para o estágio era necessário passar pelo “test-drive” do Dr. André, dono da clínica.
Estava no sangue, já havia escolhido o jornalismo como profissão, mas esta era a matéria do ano. Investigou, colheu provas e registrou tudo. Primeiramente reuniu e conversou com as três juntas, elas estavam em suas mãos, foi assim que encontrou a verdade que precisava. Ficou impressionado como garotas tão bonitas e aparentemente tão inteligentes foram seduzidas por um esquema tão sórdido, será que pelo status da roupinha branca? Ou será pelo sonho de namoro com o riquíssimo médico? Enfim, depois do desfecho do caso, o mais difícil foi convencê-las a ingressar em um centro de reabilitação para usuários de drogas, pois o fato era consumado e o sucesso da reportagem seria inevitável.
Editou a matéria, fez o boletim de ocorrência e ofertou o que seria capa de muitos jornais, pois o esquema era inescrupuloso e abominável, muito atrativo aos sensacionalistas de plantão. Conseguiu uma boa grana com o caso. A revista Veja entrou na disputa com os jornais e ganhou a exclusividade. O “Dr. André” foi preso e o banco de sangue fechado. Para as outras garotas que lá trabalhavam, coitadas, só sobraram a vergonha perante seus pais, já que tiveram a sorte do “Dr.” ter assumido a culpa sozinho. Raul ficou famoso e logo recebeu o prêmio de revelação do jornalismo amador pela ABI (Associação Brasileira de Imprensa). Agora é seu celular que toca a todo o momento, só que para congratulações e oportunidades de emprego.