Lápide da Humanidade

Seu Albuquerque sempre quis que em sua lápide estivesse escrito o seguinte:

- AQUI JAZ UM SOFRÍVEL HOMEM QUE TEVE E ESTEVE COM A PIEDADE, PARA A HUMANIDADE, QUE A HUMANIDADE SE ENCHA DE HUMILDADE E CAMINHE COM A PAZ.

Isso mesmo, pensou nisso quando completou seus 60 anos de idade em plena sabedoria de seus meios, coitado viu coitado do Seu Albuquerque, poderia ter sido casado, mas dizem que foi abandonado pela noiva, esta que parece estar bem longe, o velho poderia mudar o discurso de sua lápide, mas ele nem se tocou de sua solidão amorosa e deixou suas bênçãos oferecidas aos humanos aqui.

Depois dessa tentativa nunca mais se arriscou pelas aventuras e semelhanças do casamento, lembrando que o Seu Albuquerque não foi esquecido pela noiva na beira do altar como em outras histórias, pois dias antes sua ex-amada lhe escreveu uma carta que foi entregue por ela, ele leu, chorou pouco, miúdo e quieto, olhou pro céu e acenou com a sua mão como se estivesse se despedindo dela. O tempo foi infiel com aquele senhor que envelheceu solitário, com poucas visitas da família, ele envelheceu junto com a evolução desvoluída.

Foi pelo resto da vida chamado de “tio”, tio pra lá, tio pra cá, e esse “tio” bonzinho se aventurou, ajudando quem sempre necessitou de ajuda, sem puxões de orelha ou sermões chatos e desconstrutivos.

Os desabrigados das enchentes e das tragédias da natureza, ele mesmo ajudou com mãos de ferro e sabedoria, tudo foi voltando ao seu devido lugar, as casas que desabaram e a dignidade do povo carente de oportunidade, porém esperançoso por dias melhores, o Seu Albuquerque lutou por dias melhores, dias em que ele passou por dificuldades devido aos remédios que tomava para controlar uma doença que mata sem explicar o porquê.

Nos últimos tempos ele decidiu caminhar, olhar pra mais perto do perto, pras alturas, só não andou mesmo de avião pelo tempo que se esgotou, andando foi acudido, desmaiou sem mais se comunicar com ninguém, um susto que se deu a sua morte, de tão repentina, foi diferente, ele não se foi caindo aos pedaços ou se esquivando doa vivos em uma cama quente com a sombra de seu corpo, ele faleceu se exercitando, caminhando sem rumo ao horizonte bonito de um fim de tarde.

A família compareceu aos poucos, engraçada que ele morreu, mas o que estava escrito em sua lápide não foi àquele simples discurso em prol da humanidade, estava escrito assim, com letras miúdas:

- MOACIR ALBUQUERQUE DA SILVEIRA, FELIZ ENQUANTO VIVEU!

Bom, quem o viu discursando o que queria não entendeu, mas não se intimidou pelo fato presente, nenhuma homenagem foi feita, a homenagem já tinha sido concretizada na vida quando aquele senhor “tio” recebeu uma salva de palmas da multidão beneficiada, diz que ele ganhará uma rua no bairro com o seu nome, ele dizia que preferia as homenagens enquanto estava vivo porque se morresse não teria graça e também não ia ver a surpresa feita pelos demais, morreu sem deixar filhos, só sobrinhos e parentes que não chegou a conhecer, não colecionou paixões nem legião de fãs pelo mundo, só contribuiu para a humanidade cercada de desamor e ignorância perante aqueles que se acham um máximo perto do mínimo real.