A dureza a sair do soldado
O soldado estava deitado num chão que, em tempos não muito distantes, tinha servido de palco para uma festa. Baleado numa perna, cheio de arranhões no corpo, com a cara a arder de sede, de fome e de dor, só conseguia pedir ajuda a um céu habitado por mortos. Por mais vontade que o cérebro tivesse de ir para casa, o corpo não se movia. E a morte começava a aproximar-se. A palidez, o raciocínio a transferir-se do real para o sonho, a história de dois decénios em retrospectiva, o cheiro do perfume da mulher no nariz a fazer cair uma lágrima do olho para a face surrada. Começa-se a pensar no fim e, de repente, aparece uma voz que sussurra: «Torna-te duro, sobrevive, morde a mão mas não te deixes levar pelos demónios. Pensa na resistência: resiste, resiste, volta para junto de quem te pertence.»