Naquela Noite...

Era um daqueles temporais com rajadas de ventos, e trovoadas.Parecendo que o Céu iria desabar.Uma chuva torrencial que já se arrastava pela noite afora.

Enquanto em meu computador eu, tentava digitar meus textos,voltei meus pensamentos para uma velha senhora que conheci tempos atrás. A mesma escrevia como eu para preencher o vazio de sua alma e como para registrar suas lutas ferrenhas de outrora.Estava agora tão só e longe porém dos seus familiares,parecia, esquecida por todos.Todas as tardes ela sentava-se em sua cadeira de balanço na varanda,e com seus óculos na ponta do nariz, começava a rabiscar fatos históricos de sua caminhada ,desde o seu casamento a criação de seus filhos, sua viúvês precoce. A vida obrigou-lhe bem cedo ainda, a tomar as rédeas da família e da casa como tantas outras mulheres. Dona Anita era como era chamada ,tinha traços finos, pele rosada e mãos de pianista.Uma postura de fidalga como se viesse de uma linhagem nobre. Mas então, ela continuava ali por horas escrevendo suas memórias, por vezes nem se apercebia que, já lhe faltava iluminação e que ,chegara a noite.Era qando ela se recolhia para mais uma noite de solidão em seu casarão sombrio. Nele não mais se ouviam vozes de crianças brincando ou chorando ,nem seu marido esbravejando por sua roupa de sair, e outras exigências com a comida.A pobre senhora se alegrava somente com sua gatinha Fafá ,que como ela também já estava envelhecendo,já caminhava com passos lentos atrás do calcanhar de sua dona por dentro da casa. Eu, em meu computador, fazia o meio do caminho já daquela senhora,pois buscava encarar minhas noites de insônias e de silêncio, tentando registrar também minha vida em partes ,pela noite a dentro.Ao escrever minhas recordações, ou mesmo Poemas simplórios,algo que me fizesse sentir produtiva de uma forma intelectual, e moral.Uma vez que trabalho cuidando de idosos há anos e moro no mesmo local. Mas, voltando para Dona Anita, batalhou fortemente para criar seus seis filhos e educar em melhores colégios da cidade. Deu a todos uma boa base na vida e na Eduacação.Ela se orgulhava tanto de contar esse fato, que chegava às lágrimas. Com o passar do tempo foram migrando para a Capital em busca de vagas no mercado de trabalho, e aos poucos um a um,foram casando-se, suas vidas seguiram seu curso, e a pobre senhora, de repente mergulhou na tristeza e na solidão.Não tinha uma voz sequer para ecoar naquele casarão, agora tão quieto pela ausência das vozes de seus filhos, esposos, que ia haviam partido em rumos diferentes.A vizinhança comentava sempre, que Dona Anita estava em um profundo abandono por seus familiares.Parece que, uma vez por ano, vinha algum deles, para um ou dois dias com a mãe. Era um sorriso imenso para Dona Anita que, corria a pegar as melhores frutas, carnes e doces.Queria agradar aqueles entes tão queridos, para sua vida, agora, mais do que nunca. Fazia quitandas, empacotava muitos docinhos,para levarem e, quando comessem, lembrassem um pouco dela na capital Quando vinha o Final do Ano, ela fazia uma linda ceia para os seis filhos, apesar,de nunca haver conseguido juntá-los. Cada um morava em lugar diferente, ou em outros País. Enfim, a vida segue seu curso normal, as vezes nem sempre para todos.

De volta ao meu computador pensei se seria assim também para mim, eu que tinha quatro filhos ,dois vivendo em outro Estado e dois na mesma cidade que eu.Pensei comigo mesma que, eu teria que estar preparada para essa realidade cada vez mais constante no dia a dia na sociedade. Não!Meu coração falou para eu me acalmar, que isso não aconteceria comigo. Será mesmo que Dona Anita não vivera antes a mesma ilusão que eu agora? meus filhos eram amorosos demais comigo. Pode ser que Dona Anita pensou sempre como eu pensara nesse exato momento, e que mais tarde ela viu que se enganara com a vida crua. Preferi escrever meus textos e não mais pensar em como será... Lembrei de que uma tarde eu passava pela a calçada daquela senhora, quando ao olhar para dentro, percebi que ela não escrevia mais.Tinha nas mãos um lencinho que enxugava suas lágrimas, disfarçando dela mesmo sua amargura e suas comprovações interiores. Com receio me aproximei e falei boa tarde perguntei se eu a atrapalhava.Ela disfarçou um pouco ,forçou um sorriso me mandando entrar, e oferecendo-me uma cadeira junto a ela. Comecei a falar de minha vida e que também gostava de escrever sobre minha vida.Então ela foi se fechando quanto ao que escrevia. Disse-me que seus filhos não estavam lhe visitando porque estavam com muito trabalho, mas que eram filhos maravilhosos,não tinha nada a reclamar da vida. Olhou para mim e disse: Nunca pare de registrar seus dias, pois pode ser que alguém lá no futuro, leia e saiba reconhecer seus valores suas batalhas de uma vida inteira em doação pelos seus.Percebí que Dona Anita estava, assinando sua própria confissão de abandono para mim, naquele instante.Abracei-a bem forte senti um pavor de como seria minha história. Será mesmo que alguém mereceria passar por aquele abandono? E se eu chegasse ao mesmo estado de solidão de Dona Anita? Continuamos a falar de coisas alegre, ela serviu-me um chá e retornei para meus afazeres.Com tamanho pesar em meu coração por comprovar a realidade dos idosos nesse País .Agora após tantos anos, lembrando esse fato pude ver que, já casaram ou mudaram-se dois filhos, e que já estou me sentindo muito só como Dona Anita. Mas que remédio para esse tédio? Tenho que tocar a vida dando o melhor de mim para aqueles que não mais fazem as coisas corriqueiras,e valorizar cada minuto de minha vida agora. Mais tarde, sei que Deus proverá uma situação amena para nossos idosos tão desamparados e solitários.

Goretti Albuquerque..