O casulo da dor
Ontem uma borboleta entrou voando pela janela do meu apartamento e ficou esvoaçando pela sala.
Fiquei pensando na vida de uma borboleta.
Ela começa como uma lagarta, que se desloca muito devagar e não consegue enxergar muito longe. Depois de um certo tempo, ela faz um casulo e naquele espaço escuro e silencioso permanece muito tempo. Por fim, depois do que deve parecer uma eternidade de trevas, ela emerge como uma borboleta, podemos imaginar, por exemplo, que sendo as borboletas seres lindos, sua vida no casulo, antes de se tornarem borboletas, também é linda.
Não percebemos tudo o que a lagarta teve de suportar para tomar-se uma borboleta. Da mesma forma, quando começamos a praticar, não nos damos conta da longa e penosa transformação a que somos solicitados.
Temos de parar de devorar isso e perseguir aquilo com nossa visão míope e simplesmente relaxar dentro do casulo, nas trevas da dor que é a nossa vida. Diferentemente da borboleta, alternamos entre o casulo e a borboleta muitas vezes. Esse processo se mantém por toda a nossa vida. Toda vez que deparamos com áreas não resolvidas de nossa vida, temos que construir um outro casulo e repousar nele em silêncio até que tenha se completado o período de aprendizagem.
Toda vez que o casulo se rompe e nós damos mais um pequeno passo, estamos um pouco mais livres.