A DECLAMADORA

Estive num dia destes em uma festa de aniversário em que minha tia estava completando oitenta aninhos. A expectativa era grande, pois haveríamos de rever parentes há muito não vistos.

A noite estava muito chuvosa e lá chegamos portanto, debaixo de muita chuva! Mas, isto não tinha importância, o importante mesmo era a festa de minha tia.

Logo que chegamos à porta do cerimonial, lá estava ela, toda garbosa em seu lindo vestido esvoaçante, alta e esbelta feito uma princesa! Nem parecia estar comemorando toda aquela idade. Assim que me viu deu um largo sorriso e veio me abraçar calorosamente! Logo em seguida abraçou também com carinho, meu filho e minha filha que me acompanhavam.

Adentrando a festa, ela nos apresentava a todos com muita simpatia e distinção. Minha tia é uma pessoa fora de série! Criou uma família incrível de nove filhos e já tem inúmeros netos e bisnetos.

A festa transcorria nos seus aparatos, quando a certa altura, um grupo se reuniu para prestar-lhe uma homenagem. E dentre outras coisas, passaram a imitá-la em seu gestual meio teatral. Foi tudo muito divertido e todos riram bastante, inclusive ela. Passados mais alguns instantes, pediram toda a atenção e anunciaram que ela iria declamar um poema. E, quando dei por mim, lá estava recitando uma linda poesia, numa interpretação soberba e primorosa! Fiquei boquiaberta diante daquela inesperada e inusitada cena. Perguntava a mim mesma, num assomo de espanto, desde quando minha tia era dada a recitar e apreciar poesias?... Com um gesto rápido, chamei por minha filha que viesse apreciar aquele espetáculo! Ao mesmo tempo que lhe dizia: veja aí a explicação genética de todo este nosso apelo poético! Ela por sua vez sorrindo muito, maneava a cabeça em sinal de concordância. E lá continuava a titia a declamar uma poesia atrás da outra, parecendo uma grande artista a arrancar calorosos aplausos da platéia! Quando houve finalmente uma pausa, eu me aproximei dela dando-lhe um terno e longo abraço e lhe sussurrei carinhosa ao ouvido: minha tia, desde quando você é dada a recitar e gostar de poesias?...E ela só me respondeu, com um belo e largo sorriso de contentamento. Contei-lhe então, que também apreciava e fazia algumas poesias. Que numa próxima visita talvez, eu haveria de mostrá-las à ela e que iria me sentir bastante feliz se ela se dispusesse a escolher uma delas para declamar.

Esta grata ocorrência foi pra mim, a mais marcante e a mais agradável surpresa daquela noite memorável !...

Sandra Sarmento
Enviado por Sandra Sarmento em 08/01/2009
Reeditado em 11/10/2023
Código do texto: T1373500
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