Cousa de cinema
aos irmãos Lumière
Uma grande amiga da família [E olha que não faço u(r)so, aqui, de uma piada; por aí, pra muitos, só esfarrapada e moderníssima desculpa: A do amigo, pêgo na farmácia, comprando viagra]...
Então, uma grande amiga, praticamente irmã, autorizou-me escrever este conto, contanto que se mantivesse incógnita por anos a fio! Mas só até o dia em que (segundo ela:), acercando-se de minha torpe figura, já famosa, n'alguma coletiva de Imprensa, uma desavisada repórter, ainda suspirosa de mim, perguntasse finalmente quem foi a tal amiga.
Está muito bem, admito: É criativa a moleca! Mas sigamos!
Ela, enfim, amiga minha, irmã de leite e fel (E por favor, Leitor... Não vá pensar que é só por ela estar, aqui, perto)...
Mana, confidente, das poucas nerds e ainda banhadas por lágrimas matrimoniais (Meu Jisus Christinho... Foi um batismo a quase todos nós), tinha consigo uma receita, dizia, "infalível pra nerds (– Claro!), tímidos e desesperados (Oh, très bien, bom humour não lhe faltava)".
E essa minha nada observadora amiga, não! Mas "cinéfilo" é, aqui, uma palavra que acho estritamente desnecessária! Porque já vem no pacote, sabe: Os nerds geralmente gostam de filmes (épicos, de vampiros, ficção científica, aventura...), mas são quase todos surdos pra música!
Isso me faz lembrar, inclusive, o show que rolou (já há algumas semanas, em Teresina) de uma banda que mudou de nome, se não me engano, e faz, pelo menos a maioria de suas canções, pra jogos de R.P.G. e adjacentes!
Por Deus! Por Alá (que não manda sequer um homem-traque)! Foi a maior concentração (ensandecida) de nerds, desde os últimos filmes do Homem-Aranha, feiras de H.Q. e oficinas de mangá! ...Caramba! E se eles descobrem as oficinas de hai-kai? Puta Madre! Aí, eu tô fodido! ...Não pela vindoura fama a que me atirou minha querida amiga (obviamente).
Pois bem, voltando (vamos por partes): Eu, que não sou nerd (Vá lá, conheço inúmeros! Mas tenho amizade somente por dois ou três) nem tampouco sou mais (tão) tímido e não estou com a língua de fora por mulher alguma (de oásis)... Por que justamente a mim tal proposta? "Ir, pra não dar na vista, só às sextas ou sábados, a uma das maiores locadoras da cidade, fingir que procuro um bom longa-metragem, (Se ninguém interessante aparecer, alugo um Cyrano! Por que não?), fazer hora, colocar os óculos na ponta do nariz, deixar que alguém se aproxime e me atraia pela capa (do filme), puxar conversa, comentar elegantemente a escolha, tecer talvez belas e bem-humoradas sugestões, trocar risadas, olhares, telefone".
Sério! E não sei em que Bastilha estava com a minha cabeça, mas ainda segui tão ensangüentado fio desta Ariadne!
Nas duas primeiras sextas, fez QÜEStão de ir comigo, alegando que me sairia mal ( = três números)!
Mas de fato, no começo, dei asa à parvoíce:
– Na sessão de terror, Luciano?! Não se fazem mais filmes como O Exorcista ou O Bebê de Rosemary! E aqui, não vem mulher do seu gosto! A não ser que você, contrariando as leis do Tempo ou da Física, esteja mais teen!
– Tá, foi mal! Foi mal! Coisa de principiante! E você tem de ver que estou lidando com uma profissional!
– Comédia romântica? Ah, por favor, Lu! Não me ofenda! Deixe pra quando estiver namorando!
– Ou me casando, você quis dizer, né?
– Não! Claro que não! Pois é exatamente o contrário: Vocês, homens, enquanto namoradinhos, suportam quase tudo: Batizado de irmão, quinze anos de prima... Mas depois de casados, preferem jogar sinuca a assistir com as esposas a um comercial só de lingerie!
– Nossa, minha Senhora! Que veneno, hein?! Vocês dois não têm nem...
– Espia! Eu o conheci, bem ali, na sessão de drama!
– HmmM... E o filme? NÃO! NÃO DIZ! Já sei (se não tiver sido iraniano): Estúpido Cupido...
– Isso é novela, poeta.
– Tsk, não culpo você: É jornalista!
– É lá que você (estávamos nos afastando, em direção ao balcão) deveria ficar de prontidão, sabia? Além do mais, nós dois sabemos que...
De repente, de uma saleta reservada, digamos, aos mais "tímidos", saía o marido com uma garota de, no máximo, dezenove anos, uns três filmes pornográficos e alguns besitos no pescoço!
Nem preciso dizer que, desde que se conheceram, não alugaram mais um filme sequer na mesma locadora nem que foi pelo ralo a promissora fórmula de minha amiga!
Mas que sirva este conto (sem moral) de texto de caráter documental e amoroso, enquanto bebemos ela e eu um bom vinho.
Teresina, 02 de Janeiro de 2009