Contos Uivantes 5

Dos passos trêmulos dos meus pés às surpresas das montanhas azuis,ouvia o silêncio murmurado nas cascatas, confundindo o sussurro do pélago azul.

A chuva mansa caia e lavava as estrelas encardidas dos olhos meus, que desde tempos remotos testemunharam meus pés sonhando pegadas de pedra agrestes, cansadas e inertes.

Caia e me levava aquela chuva, em suas asas translúcidas, ao encontro dos ventos uivantes, para que eu interagisse na sonata de sussurros, cuja mágica amolecia as pedras sob minhas pegadas, que agora se elevavam ao pico das montanhas azuis, não mais apalpadas pelos pés, que já não os tinha. Eram asas. Tudo eram asas gigantes e secretas, bisbilhotando à rosa dos eventos, que tão bem sabe da transfiguração da minha estrada de pedras em plumas evanescentes, da região das brumas.

As asas perdi; tal cego tateando a escuridão continuei planando às regiões discretas onde tudo virava música, somando mais e mais sons silvestres, etéreos, inesquecíveis, que rodeavam meus gestos de anjo invisível e sereno, e por mais que me curvasse ao chão, para me sentir a human'antiga, minh’alma devorava alturas nunca vistas e afogava meus deslumbres.

Pouco via o vento uivante, impregnada que estava dos sons uivantes em harmonia suave e perfeita com as flautas e harpas consoladoras, enchendo o denso ar do incenso que só anjos fabricam.

Da distância onde estava ao chão era transparente, valsando comigo ao sabor da cantiga da vida, os do ar, do mar e da terra, a um só compasso, no acordo uníssono do amor.

Santos-SP-08/04/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 09/04/2006
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