Impressões

Os sapos, nos riachos em dias de inverno, enchem o ar de sinfonia de coaxos. Às vezes, eu os observo como quem nada quer... Apenas sentindo o tempo. Fico por lá até caírem as primeiras gotas de água- Tão silenciosas... Tão frias! Devo esclarecer que o meu gosto por certas coisas é, para alguns, incomum. É que realmente procuro sentir a vida- toda!

E um pingo d’água caiu-me na ponta do nariz! Mais outro! Já bem ia eu retirando-me de meu local solitário, quando me aparece uma figura feminina. Só meus olhos a viram. Não houve reciprocidade da mulher. Guarda-chuva à mão, sem grandes arroubos no caminhar. Estaria triste? Seus olhos conservavam-se baixos perdidos talvez numa imagem da alma. Isso me fascinou. Ao homem, as mulheres sempre exercem um poder de contemplação. A minha era muda, entre sem saber o que fazer, querendo permanecer ali a observá-la.

Pensei em cerveja, é gostoso na chuva. Em outras ocasiões já bebi em festas a céu aberto no inverno- E a cena à minha frente deixava-me desejoso de uma. Como já principiava uma chuva fina, sentei-me numa pedra (Amém! Havia uma...) e fingi jogar outras menores na água- coisas de criança- Glória que não o sou! Entre espantos meus, ela enxugava em intervalos regulares os olhos e não era por causa da chuva; pois se havia o protetor desta! Pois bem, prendi-me em mais detalhes: jovem, umas trinta primaveras se muito; cabelos negros de bom tamanho e uns dedos a enxugar lágrimas agora bem próximas à boca!

E lá fiquei mudo, como um pintor a observar detalhes da pele, dos gestos, a tristeza no olhar. Eu não refletia. Tal lagarto ao sol- se houvesse naquela hora- quieto a contemplar. Que eu, olhos vividos, modos cavalheirescos já ansiava em confortá-la, isso não parece segredo. Uma pausa- Das mulheres o homem admira a inteligência e se desdobra em agradá-las na hora do choro. Curioso é nosso sentimento de proteção em relação ao sexo frágil.

Examino-me, então, estou fragilizado em um turbilhão de pensamentos. A impressão que tive (...). Outra visão (:) um homem se aproxima da dama de meus pensamentos!

Enquanto a chuva continuava a cair, uma espécie de insatisfação me enchia a alma. Eu vi os olhos dela erguerem-se venturosos quando ele se aproximou. Não é doce um sorriso de mulher? Ou melhor, quem resiste a ele? E vejam o poder de transformação das mulheres- Um olhar ferido até minutos antes, agora perdidos nos do amado como luzes de vida própria! O porquê das lágrimas em me perguntei após. Estive tão a analisar a fêmea que não me permiti questionamentos sobre este fragmento- o choro dela.

Por falta de quem me respondesse, disfarcei ainda mais uma vez minha fortuita observação e os assisti. A cena presenciada mo respondeu. Ele mostrava o relógio e em gestos explicava algo sobre o tempo. Talvez justificasse seu atraso. Uma mulher só não é mais graciosa devido à rapidez de suas conclusões- sofrem antecipadamente! (Mais um pouco no atraso dele, seria eu o cavalheiro que minha mãe educou!). Ato contínuo, saíram os dois.

Restava-me ficar na chuva ouvindo o coaxar dos sapos ou entrar em casa e já aquecido tomar uma dose de conhaque- segunda opção! E da mulher... suaves impressões.

Teresa Cristina flordecaju
Enviado por Teresa Cristina flordecaju em 02/01/2009
Reeditado em 12/01/2009
Código do texto: T1363347
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