Fragmentos Urbanos - No meio da rua

FRAGMENTO 02 - NO MEIO DA RUA

Ele estava tão distraído que quase não viu que o semáforo tinha fechado para que os pedestres pudessem atravessar. Olhava pro chão, absorto em pensamentos e preocupação e começou a caminhar pela faixa da longa avenida. Na mesma direção que ele, vinha uma moça jovem também distraída com a rua por causa de uma discussão que ela travava ao telefone com seu futuro ex-namorado. O choque entre os dois foi inevitável. Carlos se assustou e Andréia deixou cair uma pasta com muitos papéis no chão.

_ Perdão, eu estava tão distraído que nem vi que estava na minha frente. – desculpou-se Carlos se agachando para ajudar a pegar os papéis.

_ Foi nada, eu também estava distraída, só que por razões idiotas. – disse Andréia também agachada.

O semáforo abriu pros carros e eles ainda estavam no meio da rua. Os carros começaram a desviar e buzinavam intensamente enquanto que os dois se levantavam e ao se encararem ambos se olharam de uma maneira como se fossem conhecidos.

_ Está tudo bem com você? – perguntou ele.

_ Sim, mas pode piorar se não sairmos do meio da rua. – respondeu ela.

_ Ah claro! Não sei como não fomos atropelados, vamos pra calçada. – disse ele acenando com a mão para que os carros parassem afim de eles voltarem pra calçada.

_ Agora sim, estou bem e me desculpe pelo choque, também sou culpada nisso. Tudo por culpa daquele traste do Samuel. – disse ela irritada.

_ Calma, calma! O que acha de tomarmos algo para esquecer esse incidente?

_ Boa idéia, mas tem que ser muito rápido, meu expediente não terminou.

_ Nem o meu, vamos lá que eu pago pra você. O que você sugere?

_ Quero tomar um chá-mate, mas sem essa de você pagar.

Os dois foram tomar o chá-mate e se conheceram melhor. Ele contou que é um advogado em inicio de carreira e ela uma recém-promovida diretora de arte em uma agência. Ela ainda contou que discutia com o futuro ex-namorado e isso provocou risos em Carlos que disse que estava distraído devido ao processo que ele está trabalhando. Mais uma vez foram pegos pela distração e acabaram ficando meia-hora conversando. Antes de se despedirem eles viram uma enorme coincidência, mas que não teve um final muito feliz. Um homem e uma mulher se esbarraram durante a travessia o que provocou um diálogo nada amigável.

_ Você não olha por onde anda? – reclamou a mulher.

_ Cala a boca sua gorda, olha seu tamanho, qualquer um esbarraria. – retrucou o homem.

_ Gorda é a sua mãe, seu pederasta!

_ Da próxima vez atravessa só quando você estiver sozinha, pra todos atravessarem sem problema.

A discussão acabou e cada um foi para seu lado. Carlos e Andréia, além de muitos outros, só olharam à cena ridícula que acabara de acontecer.

_ Nem todo choque é amigável como o nosso. – comentou Carlos.

_ Não mesmo. – disse ela rindo e atravessando a rua até que o seu telefone tocou novamente e mais uma discussão começou. Carlos atravessou em outro cruzamento e refez seu personagem típico: advogado em inicio de carreira distraído que procura trombar com as belas moças da faixa de pedestre. Ele sabe que corre o risco de ser mais um número nas estatísticas de atropelamento, mas ele não está preocupado com isso, mas apenas em se esbarrar sem querer.

FIM

Miguel Rodrigues
Enviado por Miguel Rodrigues em 08/04/2006
Código do texto: T135931
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2006. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.