Fome de quê?
Certa vez, li que a fome e o amor são os dois eixos do mundo.Pura verdade. Mas não era uma fome exatamente o que eu estava sentindo naquele dia.Era algo inexplicável. Começou algumas horas depois do almoço. Eu já tinha beliscado um docinho – eu sou daquele tipo que come um salgado e depois quer comer um doce e depois do doce, vem a vontade do salgado de novo, sabe? – porém, a fome, o desejo, ou sei lá o quê começou a me incomodar.
Abri a geladeira.Examinei-a de fio a pavio: geleias, queijos, frutas, carnes, legumes, sobras de comidas acondicionadas em recipientes plásticos, temperos, margarina, arroz-doce (o docinho que comi depois do almoço) e nada me apeteceu. Eu não encontrava algo que saciasse meu capricho.
Fui procurar na dispensa o objeto do meu desejo: pacotes de bolacha, grãos, massas, enlatados, caixinhas de gelatina....Nada! Onde estava o que eu queria comer? Definitivamente, em casa não se encontrava.
Resolvi. então. ir ao supermercado. Aquela busca era insana: era capaz de sentir a consistência do que eu queria, o cheiro estava impregnado em minhas narinas, o gosto era tão maravilhosamente bom...era....era....peraí: era doce ou salgado? Eu não sabia! Apenas sentia a vontade me consumir, me tirar o juízo.Tinha certeza de que se eu comesse, estaria livre daquele martírio: eu era prisioneiro do meu querer.
Peguei o maior carrinho de compras que encontrei.Desisti de apanhar aquela cestinha plástica de mercado: e se o que eu buscava não coubesse ali?
Andei pelos corredores feito um animal caçando, faminto. Por mais que eu revirasse as gôndolas atrás do meu tesouro, eu não o encontrava.
Voltei pra casa à noitinha, arrasado, depois de passar por rotisseries, pizzarias, bares, confeitarias e até destilarias.
Tomei um banho, vesti uma roupa confortável e me joguei na cama.Olhei para o teto trincado durante gordos minutos e vi semelhanças daquela paisagem em mim.Revirei na cama, buscando o sono que não vinha.
Cansado, fui à cozinha, abri o filtro e deixei aquele líquido incolor, insípido e inodoro transbordar meu copo.Tomei-o numa só golada.Depois outro e finalmente, mais um.Que delícia!
A loucura havia passado.Dormi feito um anjo.
(Maria Fernandes Shu -26 de dezembro de 2008)
Certa vez, li que a fome e o amor são os dois eixos do mundo.Pura verdade. Mas não era uma fome exatamente o que eu estava sentindo naquele dia.Era algo inexplicável. Começou algumas horas depois do almoço. Eu já tinha beliscado um docinho – eu sou daquele tipo que come um salgado e depois quer comer um doce e depois do doce, vem a vontade do salgado de novo, sabe? – porém, a fome, o desejo, ou sei lá o quê começou a me incomodar.
Abri a geladeira.Examinei-a de fio a pavio: geleias, queijos, frutas, carnes, legumes, sobras de comidas acondicionadas em recipientes plásticos, temperos, margarina, arroz-doce (o docinho que comi depois do almoço) e nada me apeteceu. Eu não encontrava algo que saciasse meu capricho.
Fui procurar na dispensa o objeto do meu desejo: pacotes de bolacha, grãos, massas, enlatados, caixinhas de gelatina....Nada! Onde estava o que eu queria comer? Definitivamente, em casa não se encontrava.
Resolvi. então. ir ao supermercado. Aquela busca era insana: era capaz de sentir a consistência do que eu queria, o cheiro estava impregnado em minhas narinas, o gosto era tão maravilhosamente bom...era....era....peraí: era doce ou salgado? Eu não sabia! Apenas sentia a vontade me consumir, me tirar o juízo.Tinha certeza de que se eu comesse, estaria livre daquele martírio: eu era prisioneiro do meu querer.
Peguei o maior carrinho de compras que encontrei.Desisti de apanhar aquela cestinha plástica de mercado: e se o que eu buscava não coubesse ali?
Andei pelos corredores feito um animal caçando, faminto. Por mais que eu revirasse as gôndolas atrás do meu tesouro, eu não o encontrava.
Voltei pra casa à noitinha, arrasado, depois de passar por rotisseries, pizzarias, bares, confeitarias e até destilarias.
Tomei um banho, vesti uma roupa confortável e me joguei na cama.Olhei para o teto trincado durante gordos minutos e vi semelhanças daquela paisagem em mim.Revirei na cama, buscando o sono que não vinha.
Cansado, fui à cozinha, abri o filtro e deixei aquele líquido incolor, insípido e inodoro transbordar meu copo.Tomei-o numa só golada.Depois outro e finalmente, mais um.Que delícia!
A loucura havia passado.Dormi feito um anjo.
(Maria Fernandes Shu -26 de dezembro de 2008)