Extrato de vida I : A prostituta.
Catou os cacarecos com uma só mão enquanto segurava no braço o menino ainda choroso do susto de ter o sono interrompido tão bruscamente. Procurava pelo dinheiro guardado, pelas roupas mais novas e pelas chupetas da criança. Socou dentro de uma bolsa.
A criança nessa altura nem mais choramingava, equilibrava-se no colo da mãe com a cabeça pensa, indo para lá e para cá, num baile desajeitado de sono.
Ela deixara para trás no apartamento sujo a lembrança do sonho mais feliz de criança, deixara a saudade dos pais, a coragem para enfrentar o mundo. Fechou a porta como quem enterra um corpo em uma vala, se tivesse flores nas mãos, as jogaria ali como ato final de quem se despede, com absoluta certeza, de um ente não tão querido.
Se tivesse flores as jogaria na porta.
Seguiu pelas escadas quase correndo. A criança ainda no colo sacolejava e arregalava seus olhos diante da pressa da mãe. Por uma ultima vez viu a rua por onde costumava ganhar dinheiro, despediu-se das amigas mais próximas com um aceno de longe, e seguiu sua caminhada acelerada até que sua figura desaparecesse na virada do quarteirão.