O meu amor, os meus amores

O MEU AMOR, OS MEUS AMORES

"As palavras nos levam.

As águas nos levam.

Só nós é que não levamos nada."

Lá fora, cai a chuva. E com ela, as esperanças de reencontrar o meu amor. Os meus amores. As águas, outrora renovadoras da vida, são foice impiedosa colhendo grãos imaturos. Um destes grãos, o meu amor. Os meus amores.

Eu amei a mulher certa. Fui fecundo e multipliquei-me. Erigi o meu castelo. Tolo. Sem saber, apenas preparei por anos uma refeição que a terra engoliu em minutos.

Castelo? De cartas. Multipliquei-me? Por zero. A mulher certa? Uma Náiade saudosa.

Resta-me o quê, meu Deus? Resta-me quem? Tu? A esperança após o desespero tal qual bonança que sucede a tempestade? A esperança as águas levaram. Deus as águas levaram. O meu amor, os meus amores, as águas levaram. Fiquei só, esperando as águas levarem.

Mas elas não levaram. Preferiram me lavar, me purificar com lama sagrada e leptospiras. Porque fiquei, me recuso a chorar. Não vou aumentar uma gota o exército dos que pilharam tudo de mim.

E meu inimigo há de secar. Eu vencerei mãe natureza e papai do céu. Carne e sangue derrotam água e terra, pois (des)carregam ódio e amor. O meu amor, os meus amores, a água não leva mais. Agora estão em mim. Vencerei (só) por eles.

(publicado originalmente em 17/12/2008 no blogue www.jefferson.blog.br)