Diário de Uma Médica
bem... esse texto foi escrito após uma dinâmica que uma professora da comunicação oral e escrita, ela me pediu que escrevesse um dia de uma médica, assim o fiz, gostaram e resolvi publicar. É um texto sem maiores pretensões, talvez até bobo, mas, quem sabe alguém goste... não é bem um conto, tá mais para um relato.
Diário de uma médica
Há quatro anos me formei na Universidade Federal do Ceará em Medicina, após ter feito especializações em vários segmentos, dentre eles traumatologia, herbeatria e cirurgiã neurocerebral, voltei a Roraima, meu estado de origem, para salvar as pessoas de minha terra. Na medicina por mais que sejamos especialistas em uma área, somos antes de tudo clínicos gerais, assim, eu costumo atuar em várias áreas sendo especialista em apenas algumas. E hoje vou contar a você como é um pouco do meu dia, um pouco de minha saga de vida.
Ontem meu dia começou da seguinte forma: após ter feito um breve desjejum, comecei meu primeiro turno do dia, fui ao hospital municipal de meu bairro, durante toda a manhã sou herbeatra, atendo em especial os adolescentes – adolescentes precisam de médicos especiais, médicos que falem a língua deles, que viva o universo deles, para resolverem seus problemas e crises. Ah quem nunca foi adolescente um dia? Que fase mágica e difícil! – pois bem, deixe-me voltar de meu devaneio juvenil… acabado o expediente matutino, fiz uma breve pausa e me dirigi ao Hospital Geral de Roraima, aí caros amigos, as coisas mudam…
Durante a parte da tarde cliniquei e encaminhei alguns pacientes aos especialistas. Como clínica geral, também sou obstetra, às 16h00min da tarde fui chamada a fazer um parto.
O parto não foi fácil, imagine só, o primeiro filho de uma mãe adolescente, que dificuldade. Quantas vezes durante meu turno de herbeatra tive de orientar meninas e meninos mal saídos da infância, a agir da forma certa!
O parto teve início às 16h10min da tarde, a jovem mãe não tinha dilatação e é preferível que os partos sejam normais, já que cesarianas aumentam muito riscos de infecções. A mãe estava nervosa e não respirava direito, mas depois de algum trabalho consegui contornar perfeitamente a situação, dando a ela apoio e auxílio necessário. Que alegria senti ao ter aquela criancinha tão frágil e indefesa em meus braços! Mais uma vez ganhei meu dia.
Terminando o parto descansei alguns minutos. A noite só estava começando e o trabalho também, depois das seis começa o meu trabalho crucial onde tudo depende de mim e de minha equipe, dou até a última gota de meu sangue para salvar as “vítimas” da noite, meus pacientes. Durante a noite sou traumatologista e neurocirurgiã.
Às 19h00min deu-se início a minha primeira ocorrência da noite, um homem bêbado perdeu o controle do carro e bateu uma mulher de moto, o resgate foi acionado e fui às ruas correndo contra o tempo, tinha uma vida para salvar! Chegando ao local do acidente tratei de imobilizar o corpo da vítima em estado semi-consciente, analisei os traumas e felizmente só havia uma “leve” fratura na perna, na verdade uma fissura no osso do fêmur e um deslocamento na rótula do joelho. Eu e minha equipe removemos a vitima para o hospital, chegando lá, fiz todos os procedimentos necessários e aplicação de medicamentos, tudo ocorreu bem, algumas horas de observação e ela retornou a sua casa.
A noite ainda corria e na ala de emergência – como é de praxe – saia um e chegava outro, com ferimentos leves a facadas em brigas de rua. Chegado ao fim de expediente, retornei a minha casa para dormir.
Às 05h00min da manhã recebi outra chamada, a mais grave ocorrência do dia, um assalto na BR 174 resultou em um homem de 25 anos atingido por um tiro de raspão na cabeça, deixando alojado em seu crânio, pequenos estilhaços de chumbo. Corri ao hospital, estudei todo o caso, fiz o mapeamento da área atingida, a vitima foi preparada para a cirurgia. Depois de 03h30min de cirurgia, tudo acabou bem, retirei cinco estilhaços de chumbo, a vítima reagiu bem aos medicamentos, logo estará de volta a sua casa sem nenhuma seqüela física.
Agora aqui sentada no banco de meu carro escrevendo a você como foi meu dia, revivo os momentos felizes ao término de cada caso, cada ocorrência de toda minha carreira. Há quatro anos fiz um juramento, e faço dele minha doutrina de vida. Amo minha profissão, o trabalho que às vezes parece tão cansativo ao meu corpo, é o combustível de minha alma. Sinto-me renovada a cada sorriso, a cada agradecimento.
Agora ao fim de meu expediente, lhe peço licença, pois preciso descansar, para amanhã acordar pronta para outra!