MEMORIAS DE ACUCENA

Dou risada até hoje das lembranças que vêm à minha memória, dos conselhos antigos dos nossos mestres que falavam com a autoridade daquilo que provavelmente conheciam muito bem; eles diziam para não nos deixarmos enganar pelas aparências; falavam em bom tom provérbios como: Olhe, nem sempre aquilo que reluz é ouro, meus filhos, Coração de gente é terra que ninguém anda.E assim teciam longos comentários vivências de casos que mostravam o perigo de se deixar levar pela primeira impressão que viesse a nossa mente e ficávamos surpresos, pois tentavam encaminhar-nos em um tipo de reflexão muito além do que poderíamos imaginar.Todavia os ensinamentos eram tirados da análise da própria natureza e isso era muito difícil, a partir do momento no qual devíamos ficar observando as árvores, as plantas, o ecossistema em si.Tentando entender a harmonia existente a nossa frente, aprendendo a lidar com a nossa percepção, para melhor sabermos ver além daquilo que era nos apresentado. Entretanto muitos não entendiam os ensinamentos e ficavam desatentos, sem se preocuparem com o aprendizado que para eles era mera bobagem esotérica de filósofos os quais só sabiam ficar, observando e refletindo.Aquilo para muitos jovens era cansativo e monótono, preferiam estar desfrutando da natureza de outra maneira mais empolgante, como namorar na floresta, tomando banho de rio nus, se deliciando da mais bela orgia existente entre natureza humana e natureza campestre. Porém eu procurava adquirir mais e mais conhecimento dos nossos mestres ouvindo e prestando atenção as suas palavras e assim ansiava sempre por um novo amanhecer, para poder irmos a nossas caminhadas, com nosso mentor ao campo, um lugar bem no centro das montanhas, cuja vegetação era rasteira e com uma diversidade de plantas as quais exalavam um frescor de um entardecer; sentíamos na pele o sol e sua imensa mão aquecedora, deixando esfriar por mais uma noite cativadora e consoladora, nos mostrando mais uma vez a imanência de um novo amanhecer.Então naquele momento no qual estávamos à presença de nosso mestre, nosso venerável mentor, Senhor de estatura mediana, de olhos azuis da cor do mar, cabelos embranquecidos pelo tempo, trajando uma espécie de manto cor azul cobalto e branco levava em suas mãos um bastão em auxilio à sua locomoção, seus passos eram sutis e compassivos e imperceptíveis ao ouvido. Naquele exato momento que chegamos a sua vista, ele nos olhou com uma expressão muito diferente daquela com a qual sempre nos recebia: uma expressão desconcertante e de questionamento, por algo. Não contento minha curiosidade, perguntei a ele.- O que o aflige, mestre Ranyer?Ele, num gesto suave com a cabeça, olha para mim e diz.-Açucena, você já observou o lírio do campo?-Sim, mestre, é uma planta muito bonita.-Já percebeu o quanto a natureza é agradável aos nossos olhos, pois esta nos cativa com coisas belas. Porém não damos um verdadeiro valor a elas, a partir do momento em que só nos apegamos ao exterior e à ideia que transmite-nos de espessura, textura, cheiro, nos deixando levar pelo que aparenta ser e não pelo que é em si.O lírio do campo é um exemplo disso:Em um primeiro momento você o observa; sente seu cheiro perfumado, sua cor alva e hipnotizante, com suas formas amplas e encantadoras; com o tempo, se ficarmos a contemplá-lo, mais nos revelará uma flor, símbolo da inocência e da pureza.O lírio em si pode ser comparado a nós, crescendo nas adversidades infligidas, pelo campo propenso a interpéres do solo, do ar, e da água que o ajudara desde semente a transformar em uma bonita planta ao olhar humano.Assim acontece conosco também; a única diferença do lírio para nós, é que ele sofre com a ação dos fenômenos da natureza.Já nós sofremos com nossas próprias ações; as quais acarretarão implicações catastróficas se não forem bem tomadas. Mesmo se crescermos num ambiente conturbado devemos absorver as cosias que vão nos fazer crescer, mentalmente e espiritualmente.Olhem para mim: sou apenas um velho em sua terna existência, mas o que vale não é o tempo que estou vivo, mas os momentos em que vivo.Aprendendo com minhas conquistas e perdas a ser um agente transformador.Percebo que a energia juvenil pulsa nos seus corações e me alegro bastante por isso, no entanto peço a vocês que aprendam a controlar seus ímpetos juvenis sei muito bem o quanto é maçante ficarmos dias e dias meditando. Mas se conseguirem entrar em harmonia com o todo, começarão a entender e a vislumbrar muito além do que possam imaginar.Naquele exato momento Elliazar chama atenção do mestre Ranyer levantando a sua mão.Ranyer com sua fala mansa pede que diga aquilo que deseja

Elliazar então pergunta.

- Mestre, desculpe a audácia, mas não acho interessante essas análises e aprofundamentos; sei o quanto sou novo e não tenho a sabedoria que o senhor tem. Respeito sua preocupação em nos ensinar a verdadeira essência da vida todavia compreendo apenas uma só coisa. Devemos passar sozinhos pelas dificuldades e trope~ços que viermos a dar; mesmo se cairmos temos o direito de levantar ou ficarmos ali no chão, inertes, chorando por falta de forças ou medo de nos erguer e tentar de novo; seguir em frente a caminha. E é nessa pequena menção de serguirmos em frente e darmos novos passos, que nos tornamos seres prontos para aprender e reaprender, aquilo que a vida tem a nos oferecer.

Ranyer com sua face serena e observadora, ouvi aquele comentário do jovem Elliazar e eu, olhando para ele, vejo algo de misterioso estranho, naqueles olhos: havia realmente sabedoria na sua face; realmente tinha mansidão mas era algo além da percepção normal.

Então eis que Ranyer diz.

-Sim, Elliazar suas palavras são uma verdade. Ela expressa aquilo que você pensa e vive, porém devemos ser prudentes nas nossas escolhas e sei o quanto é necessário aprender isso na prática; no dia a dia.

Contudo se pudermos ter um auxilio para nos encaminharmos, nesta peregrinação que se chama vida, teremos a sorte ou o azar de conseguirmos ser seres tranquilos, voltados a integração do ser com o todo ou então seremos seres introspectivos, egoístas, individualistas, vazios; pensando sempre em ter para obter o bem estar, sem notar a doença infecciosa chamada consumismo.Em que sempre se quer ter mais, sem saber, muitas vezes, o valor daquilo que se está obtendo.Pois não se consegue discernir ou se está enfeitiçado pela riqueza que envolve também um desejo de conquista algo, seja a profissão tranquila, o amor perfeito e assim por diante, sempre querendo mais e sendo um ser angustiado; mesmo conseguindo a tão sonhada tranquilidade, ficamos temerosos quanto conseguimos o " amor perfeito" com medo de perder o carinho o afeto. E eis que surge uma pergunta.

Eliiazar então diz

-Mestre, quais são essas perguntas?

Ranyer, olhando para todos naquele entardecer, vendo aqueles olhinhos espantados pelo diálogo entre o jovem Elliazar e ele, começa a ver os seus pupilos em crescimento a partir de um simples questionamento de um jovem e aproveita aquele momento para aprofundar mais seus pupilos a procura da sabedoria, ensinado a utilizar as suas percepções com a simples menção de refletir aquilo que significa analisar antes de obter ou ter algo sendo a verdade.

ranyer
Enviado por ranyer em 13/12/2008
Reeditado em 04/01/2010
Código do texto: T1333520
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