BICO-DE-CANDEEIRO
Nos idos de mil e novecentos, mulher de vida fácil era difícil! Só nos ‘Pico’. Só nos Picos, distante sete léguas do Rodeador, era possível encontrar alguma mulher pra fazer tafularia.
Esse modo de vida não agradava a um homem religioso como Seu Mariano; precisava casar o filho, e logo, porque o homem só deve conhecer a mulher com quem se casa. Não era tão cego assim para não perceber que as coisas estavam mudando muito... Deus haveria de perdoar a seu filho por essa incontinência.
Cãndim foi pros Picos em busca de uma aventura amorosa e, somente dois dias depois, estava de volta; andara léguas e léguas a pé, tanto pra ir quanto para voltar. Meio envergonhado, entrou em casa, desconfiado, mas com o semblante alegre, apesar de uma dor fina nas partes vergonhosas.
A mãe ficara sabendo pelo marido. "Seu" Mariano guardaria outro segredo, mas aquele não pertencia somente a ele. Com pouca conversa, disse à Dona Zefinha: “Mulher, precisamos arranjar um casamento pra Candim. Ele já está andando atrás de rabo de saia.”
Dali em diante, vez por outra, o filho pedia dez minréis ao pai que, constrangido, nem lhe perguntava por que aquele gasto desnecessário, sete ou oito vezes por ano. Até por uma questão de economia, era preferível casar o rapaz.
Sempre que podia, Candim visitava a quenga que quebrara o cabresto de seu "marreco", aquele freio que tanta vergonha o fazia passar diante dos poucos rapazes de sua idade que não eram mais virgens. Agora, ninguém mais podia dizer. “Vixe! Você ainda tem bico-de-candeeiro?"