Um lápis
Certa época, de Teresina apoderando-se um vento febril que muy dificilmente passava dos 17 graus (e sílabas), quis um jovem poeta lançar (mais) uma lenda urbana.
Primeiro, após copiar algumas regras, teve a idéia de escrever (a um cantinho do ônibus) uma única linha: "Sorrateiro e jovem (Virgulino Sem Eira)" pra que outro poeta viesse, depois, escrever a seguinte e, por fim, um terceiro ou ele mesmo (o primeiro) concluísse ou (se) questionasse na última.
Nas duas prim(eir)as semanas (a tomar o mesmo coletivo:), nada; na terceira (uma lástima:), do mesmo jeito; já na terça-feira da quarta, uma resposta (mas bem longe de ser um lampejo!): "Sorrateiro e jovem (Virgulino Sem Eira)/ mi liga, brow! sou discreto e nada afeminado (8869...)", o que emputeceu o poeta, fazendo-o pensar, portanto, nas empresas que descarregam praticamente em frente aos melhores colégios de Teresina. Reescreveu tudo, as regras (com o ligeiro acréscimo de mais duas e), a desfazer-se do antigo mote: "Frio vento embaçando (Virgulino Sem Eira)".
Nas duas prim(eir)as semanas (pegando o mesmíssimo coletivo:), estava na mesma; na terceira (uma plástica:), tomou o ônibus errado; na terça da quarta, não houve (resposta nem) cantada! Mas foi na sexta da quinta (pegando novamente o ônibus errado e onde havia esquecido o mesmo e derradeiro mote seu n'algum dia frio, nublado), com uma letra muy parecida co'a sua, que lhe surgiu: "Linda imagem passageira (Maria Bunita)", afinal!
Daí, riu-se de nervoso, olhou pros lados pra ver se alguém lhe espreitava a reação, contou e recontou as sílabas poéticas (: Lin/da i/ma/gem/ pa/ssa/gei/ra), louvou a (até que) inteligente e direta relação que havia entre os pseudônimos, Virgulino e Maria (que talvez, por justa causa, se dizia "Bunita"), e já sem poder levantar-se, pensou em casamento!
Suas últimas palavras foram rápidas, trêmulas e quase encomiásticas: "De uma flor do campo (Virgulino Sem Eira)".
De repente, uma violenta freada faz com que ele se dê conta de que passou da parada; que já era alta noite, havia tomado o Corujão, rabiscado algo ilegível nos bancos e descoberto, por fim, que era sonâmbulo!
a 02 de Dezembro de 2008