AMANTES
André e Malu conheceram-se numa expofeira, dessas que expõem de tudo, desde camiseta de camelô até gado e cavalos de raça. Foi uma paixão fulminante, só que ele tinha uma namorada antiga, mas Malu não sabia e Malu tinha um amante, que escondia. Foram anos de encontros marcados, cartas (naquela época não tinha email e era bem mais romântico), fins de semana cheios de prazer, muito prazer.
Sempre era ela quem ia a casa dele, PhD em sexologia. Malu era virginiana e provinciana, sexualmente reprimida, mas André acabou com todos os seus tabus. Nas horas de tórridas juras de amor, Malu cobrava um namoro normal, com casamento, casa e filhos. André propunha que ela casasse com outro e os dois poderiam ficar amantes. Mas Malú nem queria ouvir.
O tempo passou e Malu conseguiu instalar-se definitivamente na casa de André, um AP de um quarto no centro do Bairro Andradas. Engravidaram. Foram felizes, mas não para sempre, porque sempre é tempo demais. A rotina, o tédio, o estresse, essas bombas inteligentes que detonam as uniões, destroçaram o afeto e eles estavam quase se odiando. Separaram-se de fato, não de direito.
Agora André vai à casa de Malu para ver o filho. Olham-se como antigamente. Ele continua alto, inteligente, charmoso, um Klarc Gable. Malu, estilo Glenn Close em “Atração Fatal”, lembra daquela antiga idéia: serem amantes! Por que não? Vai propor para ele. Mas ninguém poderá saber. Deverá ser um caso cem por cento secreto. Os encontros muito bem articulados, às escondidas de quaisquer olhares supostamente conhecidos, inclusive e principalmente do filho.
Que maravilha! Emocionante, arrepiante, ser amante do próprio marido.