GANHEI NA LOTERIA !!!!!!!!

GANHEI NA LOTERIA

Alfredo vivia sempre muito infeliz. Trabalhando na lavanderia, não tinha tempo de pensar em nada, tantas eram as tarefas. Acostumado, desde muito cedo a encarar a rotina de trabalho, não se assustava mais. Sonhava, sonhava e sonhava. Em suas orações à noite rezava e pedia sempre a Deus para ganhar na loteria. Antevia sua nova vida,

distante de tudo que o incomodava, principalmente o cuidado extremo que tinha com sua tia velha e adoentada, presa a uma cadeira de rodas, o rosto enrugado, os cabelos brancos, parecendo sempre triste e aborrecida.

Fazia suas apostas na mesma loja, duas vezes por semana, e não economizava. Este era um dos luxos que podia assumir, pois o resto das contas tinha que explicar número, por número, vírgula por vírgula, e relacionar todas as despesas para informar a sua tia. Ausente da loja, mas presente na fiscalização. Era muito rigorosa, não deixava passar nada. Cada dia e cada noite que se passava sem que o sonho de Alfredo se realizasse, mais ele bolava seus planos e em seus sonhos ele pintava o quadro futuro. Sua primeira providência seria arranjar um local adequado para sua tia finalmente repousar. Já tinha tomado algumas informações na cidade onde moravam. Não estava satisfeito com o tipo de atendimento que eles davam a seus clientes. Era tudo muito caro, seria melhor uma clínica de repouso, onde ela descansaria bastante e não teria que se preocupar com mais nada...

Guilhermina conhecia o caráter de Alfredo, pois na ausência de seu irmão e sua cunhada, ela e o marido assumiram a criação do sobrinho. Era um menino tímido e arredio. Costumava ficar horas calado num canto. Obedecia sem precisar ser molestado. Tinha uma capacidade enorme de trabalho. Era muito responsável, honesto, não gostava de muita prosa. Às vezes, principalmente aos domingos sumia a tarde inteira, só chegava à noitinha. Com o tempo a tia se acostumou ao sobrinho e não lhe perguntava muitas coisas, pois sabia que ele não iria responder. No inicio de sua doença ficou muito revoltada, e preocupava-se demais se teriam o suficiente para sobreviver. Passou a exercer uma fiscalização leonina sobre Alfredo. O sobrinho tinha vontade de abandonar tudo e começar uma nova vida em outro lugar. Desde sua infância tinha ouvido tantas teorias sobre a gratidão, que sabia não poder abandonar a tia sem sentir-se culpado.

O grito era forte, alto, emocionado. Guilhermina no início não acreditou:

- GANHEIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII, GANHEIIIIIIIIIIIIIIIIIII NA LOTERIA.... Sou o único dono daqueles milhões....... Que felicidade. Quando deu por si, Alfredo rendeu-se a realidade da traição que fez a si mesmo. Sem querer, em sua felicidade, acabou contando o segredo que deveria guardar a sete chaves. Fiscalizado pela tia, teve que contar detalhe por detalhe. Quanto ganhara, como, etc. Só não relatou o que faria com tanto dinheiro. Doravante, não precisava mais prestar contas do que faria, pois o dinheiro era todo seu. Guilhermina teve medo. Acreditava em Alfredo, mas no fundo da alma sabia que por cima da fina camada de verniz que ele usava, tinha algo muito mais profundo que ela não saberia denominar.

Ele comprou um carro, contratou um motorista, comprou uma casa, começou a compra de móveis, objetos de arte. Guilhermina era muito bem tratada, tinha duas enfermeiras que não a deixavam só nenhum momento. Ela se sentia inútil, e mais triste ainda. Perdera o sobrinho para o dinheiro. Não gostara do que acontecera. Preferia a pobreza, a lavanderia, mas o sobrinho sempre por perto. Na sua solidão maldizia o premio, o dinheiro... Certa manhã aconteceu o inesperado. Uma das enfermeiras na troca de plantão com a outra, deixou escapar meia dúzia de palavras, que informaram Guilhermina antecipadamente sobre a tempestade que estava para cair em sua cabeça. Uma clínica de alto luxo, para doentes mentais... Seu desespero foi enorme, mas nenhuma das enfermeiras percebeu o que ia no íntimo da velha tia.

Alfredo sentia-se agora completamente feliz, saindo da clínica onde tinha ido, finalizar a internação da tia, voltou para o carro. Deu ordem ao motorista para seguir adiante, pois tencionava passar em uma floricultura e encomendar flores para uma amiga. Andando nas nuvens, encomendou um enorme e grosseiro buquê de flores multicoloridas para sua amiga. Feliz, emocionado, quase completo, embriagado de tanta felicidade, não olhou ao atravessar a rua, poft! Passava um motoqueiro apressado. Os três, Alfredo, motoqueiro e motocicleta, rolaram no asfalto...

Dois anos depois, tia Guilhermina, se despedia das enfermeiras com várias recomendações: - Não o deixe sentir frio nas pernas. Coloque aquela colcha de algodão.

E saía feliz para mais um jogo de cartas com as amigas... Quem se lembrava da Guilhermina de antes, agora era a milionária mais badalada da cidade. O coitado do seu sobrinho sofrera um acidente... Gui, Gui, como os amigos a chamavam era um amor de tia derretia-se em cuidados com seu sobrinho As rugas tinham desaparecido de seu rosto, assim como a paralisia das pernas e a brancura dos cabelos, milagres que só o dinheiro pode fazer. Enquanto isso, em sua cadeira de rodas, num mundo a parte, Alfredo talvez sonhasse ainda com seus milhões, provavelmente não, o acidente não fora fatal, mas o impedia até de reconhecer qualquer pessoa.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 07/12/2008
Código do texto: T1322713
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