"Título Estéril Para Quadro em Branco" ou "Como Criar um Título. Bom ou Ruim!"
Título: é uma designação sintética da proposta, um contato prévio com o conteúdo dado.
Há títulos que seduzem e traduzem a proposta, há títulos que seduzem apenas para conduzirem a algo decepcionante, e há títulos que são medíocres tão quanto o que antecedem e títulos que de tão medíocres nos afugentam e nos privam de um bom conteúdo.
"Cem Anos de Solidão". Este é insuperável e genial, fazendo jus a um livro também genial. Ouso dizer que o título é melhor que o livro.
Mas o mestre dos títulos fascinantes vem da música. É o velho e bom Morrissey, sempre surpreendendo com sua sensibilidade sarcástica. A propósito, a inspiração deste texto instantâneo foi o Morrissey. Vai aí uma pequena lista de títulos do agora senhor de cabelos levemente grisalhos:
- I Don't Mind if You Forget Me
- I Have Forgiven Jesus
- We Hate It When Our Friends Become Successful
- You're the One for Me, Fatty
- Mute Witness
- There's a Place in Hell for me and my Friends
- Beethoven Was Deaf
- To Me You Are A Work Of Art
- The Father Who Must Be Killed
- Pregnant for the Last Time
- The More You Ignore Me, the Closer I Get
E por aí vai.
É claro que, dependendo do tipo de empreendimento, o título busca diferentes objetivos. Em se tratando de música, como acima, a idéia é mais direta e sentimental (ou cômica), assim como é mais direto o título de um filme, neste caso buscando impacto mesmo e, às vezes, até dissociando-se do conteúdo.
Deixando-me levar pela precariedade deste texto instantâneo, lembro agora de um exemplo do que acabo de afirmar em relação a títulos de filmes. É o filme "Amnésia", cujo título original é "Memento" e que, logo no início do filme, o personagem deixa claro que seu problema não é amnésia, mas sim perda de memória recente. Ou seja, se fica mais legal "Amnésia", esqueça o resto! Pergunto-me: é visão de mercado ou picaretagem?
Retomando o raciocínio anterior, perceba-se ainda que títulos de livros são mais vagos e mais genéricos, apenas sugerindo, com uma sutileza reconhecidamente necessária ao encantamento: Cem Anos de Solidão. Não que títulos explícitos não funcionem, mas estes são preferíveis para textos curtos e, ainda assim, prefere-se àqueles títulos que não revelem demais.
"A Estrutura da Bolha de Sabão". Tenho inveja desse título. Ele diz a essência do conto e nos causa uma imediata sensação de curiosidade, mas não revela absolutamente nada. É o título perfeito para um texto curto.
Prezo quem sabe titular uma obra, pois padeço do mal dos que agonizam sobre o texto para lhe extraírem uma centelha que se faça título, em geral apenas para obter resultados medianos de um bom operário da arte, não o resultado de um artista cuspindo e transpirando inspiração.