Foi tudo um Sonho

No dia de seu aniversário Enera estava triste. A tristeza explodia forte em se coração. Aquilo que pensava ser amor confundia sua cabeça com cobranças de paixão doentia, somada a um inexorável sentimento de posse.

Enera, de vez em quando, sorria um sorriso chorado e abatido quando a cumprimentavam; e, às vezes, exprimia um “tá tudo bem, gente!”. Mentia aos outros e a si mesma; pois, nada estava bem... Ela sabia em que estado se encontrava sua alma... E esforçando-se para estar feliz naquele dia, aceitou até a idéia de comemorar a “sua data” com os colegas de trabalho.

Demetrius escrevia-lhe uma mensagem; pois, ainda que de fora do coração de Enera, conhecia bem de perto suas aflições. No almoço, entre os colegas Enera “era” feliz; quase veio a sucumbir de alegria ao ver a surpresa preparada. Gargalhadas... Este foi o molho dos pratos ingeridos; e lágrimas embalaram a tradicional canção “parabéns...”. Uma belíssima sobremesa com direito a recheio de declarações de amizade e caldas de felicitações.

Demetrius esperava a sua oportunidade, admirando-a e fitando-a com o coração. De repente deu-se conta que estava apaixonado; e atormentou-se por já possuir um vínculo, além de saber que ela era de alguém.

Após o expediente saíram para “bebemorar”, e lá estava Demetrius... Agora, mais próximo; apenas uma mesa separava os dois. Suas pernas se tocavam vez por outra enquanto ele suava nas mãos, retirando e tornado a colocar o anel vez em quando, em razão de seu abaladíssimo estado emocional. Aos poucos, os colegas vão se despedindo até que só ficaram os dois. Ele a acompanha até a esquina de sua rua, e vão conversando monossilabicamente. Na despedida, ele aproveita para contar-lhe de seu repentino e inexplicável amor; e, sem esperar, abraça-a comprimindo-a contra o seu peito. O beijo foi acidental, e vermelhos de vergonha, e pela surpresa, emudeceram num silencio confuso... até que ela quebra o silencio, apertando os lábios com olhar fixo ao chão, exclama: “Foi Bom! Valeu!”.

Aos poucos aquela relação vai tomando forma e dimensões... À ansiedade do reencontro, passaram a chamar de saudades... O calor no coração decifrou-se por paixão... O receio por não ter o outro ao lado, conheceu-se por ciúmes. Amavam-se às escondidas e rapidamente; pois, só se pertenciam quando estavam juntos... De longe, se dividiam beijando lábios não amados... Comendo sem fome... Bebendo sem sede...

Manhã chuvosa... Um dia tenebroso... Demetrius assustado com o som do despertador abre os olhos; fitando o calendário preso à porta de seu quarto, observa que é o dia marcado com piloto vermelho... É o aniversário de Enera, sua paixão secreta. Hoje a turma do escritório vai preparar uma surpresa para ela... Quem sabe ele não aproveita a oportunidade...

Rio, 28/05/92.

PaPeL
Enviado por PaPeL em 25/11/2008
Reeditado em 16/01/2009
Código do texto: T1303009
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