Uma noite de Natal
Era noite de Natal. Já quase meia noite. A mesa estava posta. A mãe e a filha a olhavam orgulhosas.
Tinha sido muito difícil conseguir as coisas que ali estavam. No centro da mesa uma flor, colhida lá no pequeno canteiro da vizinha que a cedera, porque eles não tinham espaço nem quintal para plantar. Meio frango assado, um prato com arroz branco, uma salada de alface.
Mas elas estavam felizes. O importante era estarem ali, as duas, esperando o pai e marido que deveria chegar logo.
Olharam a toalha branca, muitas vezes lavada, mas limpa.
O pequeno relógio em cima do armário marcava os minutos que faltavam para o Natal chegar.
Ele deveria estar trabalhando ainda.
Foram as duas para a janela da frente, e postaram-se a cantar 'Noite Feliz'. Depois dessa, cantaram outras, muitas músicas de natal.
A menina dormiu encostando a cabecinha no colo da mãe. Já era tarde. Mas a esposa esperava.
A mãe ficou ali, com a menina encostada em seu colo, as lágrimas descendo pelas faces até as sombras da noite serem dissipadas pela graciosa aurora que despontava.
O portão da frente rangeu, ela olhou. O marido chegava cambaleando, com um ar de miserável. Bêbado.
Ela tomou a menina nos braços, levou-a até a cama. Passou pela cozinha onde estava a mesa ainda posta, a comida gelada.
O homem entrou e passou sem perceber a mesa que o esperou a noite toda. Nem a esposa.
Ela nada falou. Deixou-o ir para o quarto.
A mesa ficou ali indiferente.
As lágrimas secaram em seu rosto.
Seu coração também secou.