"O Bairro Igualdade" (ñ uma consciencia negra, sim uma consciencia humana)

“O Bairro Igualdade”

Aquele era um bairro pobre, o Jardim Honesto, mas era feliz, a criançada brincava nas ruas, correndo no meio dos carros e entre as pessoas, as mães gritavam da janela, para tomar cuidado ou entrarem para almoçar. Havia a pequena feirinha, onde os feirantes gritavam anunciando seus produtos havia a igreja e as pequenas lojinhas.

Mas aquele era um bairro feliz.

Os vizinhos se davam bem, muitas famílias estavam naquele lugar a gerações, eram em sua maioria, tradicionais, iam a missa aos domingos e sempre se reuniam para almoços em família.

Mas mesmo com todo esse tradicionalismo, a modernidade, o passar do tempo trouxe mudanças que eram inevitáveis, como por exemplo, os jovens que ficavam sentados nas calçadas fumando, os vendedores de drogas em muitas esquinas, as meninas grávidas e até mesmo Léo (Leonardo Moura, da casa 82) o homossexual da vila, que era motivo de grandes discussões dos homens nos bares e das senhoras em seus chás da tarde. E também era alvo de muita zoação, por parte dos jovens do lugar.

Mas mesmo Léo, com suas calças coladas, os brincos e o andar engraçado, não causou tanta polemica quanto à chegada da família “Silva” á casa nº. 8, a lado da senhora Morge, uma velha religiosa que devia ter se esquecido de ler a bíblia na parte em que ela dizia: “não tomais conta da vida alheia”.

De fato a família silva não tinha nada de errado, o Sr. Silva era um homem honesto que trabalhava, apesar de ser pai solteiro, sua esposa havia falecido há dois anos, mas isso não o impedia de também ser um excelente dono de casa e cuidar de seus filhos, Daniel e Joaquim, que eram duas crianças muito bem comportadas. Porém, os silva eram os tipos de pessoas que nunca haviam nem sequer passado perto das ruas do Jardim Honesto, e obviamente não seriam bem vindos por muita gente, visto que gente de sua laia era violenta e pouco confiável.

Na verdade o motivo de tanta polemica era simplesmente porque o Sr. silva e seus dois filhos eram negros, tinham cabelos crespos, comiam feijoada aos domingos e freqüentavam a igreja afro-descendente, que agora ficava muito longe de sua casa.

- quanta petulância dessa gente vir morar aqui!- já começava a dizer a Sra. morge por ai. - não sabem que nesse bairro é só para gente descente, aqui só mora gente branca.

- Ora morge querida, talvez eles não sejam tão ruins assim. - disse Marli, a vizinha pescoçuda da Sra. morge.

- Ora Marli, então o que estão fazendo aqui? Só podem ter aprontado alguma nos lados em que moravam e agora fugiram para cá. - disse morge, convencida de sua teoria. - vai por mim Marli querida, eles não prestam.

Infelizmente a Sra. morge não era a única a pensar assim, enquanto os silva descarregavam sua mudança para a nova casa, outras más línguas que observavam já começavam a condenar os silva.

- olha só que ousadia desses pretos, - ia dizendo a Sra. manforde. - o que pensam que estão fazendo aqui em jardim honesto?

- eu não vejo nada de errado neles, mamãe. - disse o pequeno júnior, filho de Margarete Manforde.

- você ainda é muito pequeno pra notar isso querido, - disse a Sra. manforde. - mas um dia vai ver que eles não prestam.

- Por que mamãe?- perguntou júnior.

- Ah.... Porque sim querido. - balbuciou a Sra. manforde, sem na verdade ter uma resposta.

Durante todo o dia os moradores do jardim honesto comentaram sobre a chegada dos silva e sobre o fato de serem negros, eles não poderiam aceitar gente desse tipo em seu bairro tão tradicional. Contudo, os silvas estavam mais preocupados com outra coisa.

- você acha que esse lugar é realmente seguro, pai?- perguntou Joaquim enquanto colocava a mesa para o jantar. - acho que não somos bem vindos aqui.

- Ora querido, não haverá nenhum problema, somos iguais a eles, não faremos nada de errado, que possa provocar algum tipo de perigo. - respondeu o Sr. Silva mordendo uma cocha de galinha.

- estou com medo da escola pai, e você viu aqueles vagabundos na esquina usando drogas? Quem garante que uma hora dessas não podem entrar aqui e nos roubas, ou coisa pior? Em nosso antigo bairro não havia nóias.

- Querido, eu também gostaria de continuar no jardim Conquista, mas se recebemos uma oportunidade de melhorar de vida não vou jogá-la fora por causa de uns marginauzinhos. - disse o Sr. Silva num tom que encerrava a conversa.

- Hum...

No dia seguinte quando Joaquim e Daniel chegaram à nova escola (Profº Prudente), foi como se tivesse pousado uma nave extraterrestre: todos os olhares recaíram sobre eles, e desconcertados os dois garotos procuraram achar o mais rápido possível a sala de aula.

A sala estava quase vazia quando Joaquim e Daniel entraram, mas isso não impediu que os poucos alunos que estivessem lá os olhasse de boca aberta e olhos arregalados.

Os garotos sentaram-se no fundo da sala, onde não havia ninguém exceto uma garota gordinha, que tinha um ar deprimido. Joaquim olhou a garota com interesse, ela, porém só o olhou de relance e baixou o rosto para mesa, como que envergonhada.

A sala foi enchendo com o passar dos minutos, e quanto mais alunos chegavam mais Joaquim e Daniel ficavam sem jeito, diante de tantos olhares. Até que chegou uma dupla de garotas, uma delas com óculos, mas ambas com ares arrogantes e esnobes.

As duas olharam para eles com ares surpresos que logo mudaram para uma expressão de nojo, como se estivessem vendo algo muito grotesco.

- Fala sério!- exclamou uma delas. - essa escola está indo para o brejo, daqui a pouco teremos aula no chiqueiro.

- Falta pouco, os porcos já tem!- falou a outra.

- tinham que estar sentados ao lado da porca gorda, vão da certinho!

- melissas, Nadya, sentem-se. - mandou uma mulher que entrou na sala. A professora, Sônia.

- mas é claro professora, mas eu tenho uma dúvida, para começar o dia. - falou a garota de óculos, nadya. - desde quando aceitamos ralé em nossa escola?

- o que quer dizer com isso, nadya?- perguntou a professora sem entender.

Nadya indicou os garotos com a cabeça. A professora olhou para eles e então fechou a cara para nadya.

- cale-se nadya, não diga nada se for dizer asneiras.

- é, mas no...

- abram os cadernos. - mandou a professora num tom de quem encerrava o assunto.

A Sra. Morge observava o Sr. Silva a colocar o lixo para fora, e continuava se perguntando o que aquele homem e sua família negra estava fazendo ali no J. Honesto.

- Ainda não estou engolindo este homem, Marli. - disse ela a sua amiga. - ele me cheira mal.

- ora morge, se desconfia tanto do homem porque não vai pessoalmente falar com ele?- sugeriu Marli.

- quer saber Marli, é isso mesmo que vou fazer. Não vou permitir que essa gentinha fique aqui assim, sem nos dar uma satisfação.

A Sra. morge caminhou arrogante até o Sr. silva.

- Ola, como vai?- cumprimentou ele sorridente.

- não tão bem quanto gostaria de estar. - respondeu a Sra. morge secamente.

- por que não?

- porque vejo que infelizmente o nosso bairro esta decaindo.

O Sr. silva havia entendido muito bem o que a Sra. morge queria dizer, mas para tentar contornar a situação ele olhou ao redor, seu olhar decaiu sobre um jovem que vinha vindo, fumava um cigarro e tinha uma cara de drogado.

- é vejo que sim, - disse ele. - infelizmente os jovens estão caindo no mundo das drogas como moscas numa teia, são burros e desmiolados, não sabem o que estão fazendo. Começa com um cigarrinho e depois viram marginais que vendem a mobília para alimentar o vicio.

A Sra. morge olhou para o jovem que vinha vindo e fechou ainda mais a cara.

- por acaso o Sr. esta se referindo aquele garoto que vem vindo?- perguntou ela.

- um pouco, acho que ele é um exemplo do que eu digo. - respondeu o Sr. silva.

- pois eu acho que não, caro senhor. - respondeu a Sra. morge num tom alterado. - aquele é Vinicius, meu neto, e ele não é nenhum marginal!

- é questão de tempo. - disse o Sr. silva baixinho.

- Vinicius Leopoldo, - chamou a Sra.morge pomposamente. - o que você pensa que esta fazendo com esse cigarro mocinho? Jogue isso fora imediatamente!

- cala a boca velha!- mandou Vinicius, grosseiramente. - eu fasso o que eu quiser, a droga da vida é minha, vai limpa sua baba que "ce" ganha mais!

E sem dar atenção à avó, Vinicius continuou seu caminho.

A Sra.Morge ficou extremamente desconcertada na frente do Sr. silva, mas para não perder o rebolado, chacoalhou a cabeça e disse:

- Pois bem, se o Sr. e sua família vão viver entre nós, sabia que não aturamos nenhum tipo de furdunço, coisas que podem dar mau incentivo a nossas crianças e principalmente atos grosseiros e violentos. E eu realmente espero que o Sr. controle os seus filhos, não queremos arruaça por aqui.

O Sr. fechou a cara e disse:

- meus filhos nunca mandaram nenhuma pessoa mais velha calar a boca e ir limpar a baba. Não são eles que precisam ser controlados.

Ele deu as costas a Sra. morge, e já ia entrando em casa quando deu meia volta e disse:

- só pra lembra: somos negros, não animais!

Quando anoiteceu no Jardim Honesto, Joaquim e Daniel voltavam para casa da escola, quando se depararam com uma cena chocante.

Um garoto estava caído no chão enquanto outros três o chutavam e davam socos, Joaquim e Daniel não sabiam qual era o motivo da briga, mas três contra um era covardia e resolveram ajudar.

- hei o que estão fazendo?! Parem com isso!- chegaram gritando os garotos.

Os outros três olharam para eles e riram.

- o que vocês pensam que podem fazer com agente, neguinhos?- debochou um dos garotos.

- vão nos deixar pretos iguais a vocês? Ou não nos dar um tiro?- perguntou o outro.

- as duas opções seriam boas demais pra vocês, otário!- exclamou Joaquim.

- se voces não derem o fora agora vamos brigar com vocês!- falou Daniel sem medo.

Os três garotos os encararam por um momento, até o que o maior falou.

- vamos embora, vamos deixar os carvãozinhos em paz.

Os garotos deram as costas a eles e saíram andando, e Joaquim e Daniel levaram o garoto que estava largado no chão.

- quem está ai? Vocês vão me bater também?- perguntou o garoto apavorado.

- não, não vamos te bater. - disse Joaquim.

- estamos te ajudando, expulsamos aquele moleques, não esta vendo?- pergunto Daniel.

-não, não estou. - respondeu o garoto. - sou cego, por isso aqueles meninos me bateram, esbarrei em um deles sem querer.

- isso é covardia, e das grandes!- falou Daniel indignado.

- na verdade, já estou acostumado, sempre levo uma surra de alguém por ai.- disse o garoto ajeitando a blusa.

- mas só por que você é cego? Isso não esta certo. - protestou Joaquim.

- não está, mas acontece né... - disse o garoto cego. -mas obrigado mesmo assim, acho que consigo voltar pra casa agora.

- não quer ajuda?- perguntou Daniel.

- não, eu conheço o caminho, embora não o veja.

-ok. Mas qual seu nome?- perguntou Joaquim.

-marcos, marcos ferreiro, do nº. 85. - respondeu o garoto cego, e foi-se embora.

Quando Daniel e Joaquim chegaram na escola no dia seguinte, assim que entraram não foi muito diferente do outro dia: todos olhavam, faziam comentários mas nada que fosse diretamente dirigido a eles, ou seja, todos cochichavam. isso os incomodou um pouco, mas nada que não pudesse ser deixado pra lá. seguiram-se as aulas até que chegou a hora do intervalo.

Ao chegarem no pátio encostaram-se a uma parede e ali ficaram olhando o movimento até que viram as mesmas duas meninas que no outro dia tinham jogado indiretas pra eles na sala de aula, mexendo com um garoto:

-e ai "colega" quer um batonzinho emprestado?eu tenho sua cor favorita.- dizia nadya com tom zombeteiro

-deixa eu adivinhar .....será que é rosa? - continuava melissa e iam cercando ele, provocando mesmo, pois ele não se manifestava

-que foi perdeu a língua beijando seus amiguinhos?- nadya começava a extrapolar.

-que nada nadya “ela” deve estar pensando em quando vai poder comprar umas roupinhas melhores, pra ver se consegue chamar mais atenção, porque com essas ai...- melissa olhava pra léo com uma cara de superioridade como se pudesse esmigalhar ele só com um olhar.

nadya continuou:

-ah melissa acho que aquelas roupas que minha mãe ia jogar fora vou dá-las a nossa “amiga” aqui. - E nessa hora colocou as mão em léo tocando sua blusa como se fosse um nada, um pano velho com,cara de nojo.- sabe como é né?ajudar ao necessitados...

E as duas riam como se o que estavam fazendo fosse uma brincadeira normal, saudável. E nisso outras pessoas começaram a mexer com léo também, Joaquim e Daniel, então entenderam a situação, mas até então só ficaram olhando.

-e ai sua bicha. fala alguma coisa!- gritou alguém.

várias pessoas estavam xingando ele tentou se defender:

- vão cuidar de suas vidas, cada um tem o direito de ser o que quer, e isso não interfere em nada na vida, minha opção sexual não quer dizer que sou diferente de vocês. – Léo ja estava gritando, para todos os que estavam em volta ouvir. - eu também penso, eu também sinto, ou vocês acham que só porque sou gay não tenho sentimentos?

- ah vai seu bicha, cai fora daqui , no mundo não tem lugar pra gente estranha como você não, seu viado. bicha, preto e velho tem tudo que morrer ou não sair de casa.

nessa hora Joaquim se manifestou:

- qual é a de vocês? "ceis” acham que só porque são brancos, e tem dinheiro são mais importantes que os outros? Caiam na real, todos viemos do mesmo lugar, pra que ficar humilhando pisando nos outros? vocês sentem prazer nisso? Acham engraçado?

MAS NÃO É! não é porque ele é gay que é diferente dos outros, ele também tem a mesma capacidade de todo mundo, também tem os mesmo direitos.

- iiiiii olha só o neguinho.. ta defendendo ele porque?- gritou nadya.- por acaso mal chego e ja virou o novo macho dele?

Joaquim não se agüento e quase partiu pra cima dela, e começou a gritar:

- olha aqui garota, você meça bem suas palavras pra falar comigo, não fique pensando que só porque você acha que tem dinheiro, acha que é alguma merda na vida, que você pode vir aqui e pisar em mim, ou em qualquer outra pessoa. Porque pra mim você não passa de uma garota mimada, que não tem mais o que fazer, nem uma amiga pra conversa, e pra aliviar seu vazio piza nos outros pra se sentir melhor!

Nessa hora todos se olharam, e um a um foram se afastando.

Melissa tentou afastar nadya dali, mas a garota se desvencilhou dos braços da outra e foi na direção de Joaquim:

- escuta aqui neguinho do pé da merda, quem você pensa que é pra chegar e falar assim comigo? Seu preto imbecil, mal sabe com quem esta se metendo.

- Pouco me importa quem é a vaca com quem eu estou me metendo.

PÁ!!

Nadya deu um tapa tão forte no rosto de Joaquim que ele virou a cabeça pro lado, e sem pensar duas vezes levantou a mão e descontou o tapa na cara de nadya. Melissa e Daniel entraram no meio da briga, mas antes que conseguissem afastar os dois a profª Sonia apareceu e com um grito fez tudo parar.

O Sr. Silva lavava sua calçada distraidamente, sem se importar com os olhares tortos e curiosos que eram destinados a ele, o dia estava indo muito bem, até que um grupo de garotos sentou-se do outro lado de sua calçada e começaram fumar, entre eles, Vinicius, o neto da Sra. morge.

- não acredito logo aqui na minha porta!- resmungou ele para si mesmo. – era o que me faltava, vagabundos usando drogas na minha porta. Ei garotos, voces tem mesmo que sentar ai? Não podem ir para outro lugar?

- não vamos fazer nada tio, é sério, vamo fica aqui de boa. - disse Vinicius, o neto da Sra. Morge.

- sei, até parece que não conheço o seu tipinho,- resmungou o Sr. Silva, baixinho.- aposto que estão vendo o melhor modo de invadir minha casa. Seus maconheiros desgraçados!

- ah Vinicius Leopoldo, - falou uma voz untuosa, as costas do Sr. Silva. A Sra. Morge. – o que esta fazendo ai com esses garotos? Eu já disse que não quero você com eles.

- vê se não me enche velha, já te disse que odeio esse nome, se me chamar assim de novo vou te dar um chacoalhão que nunca mais ce vai esquecer. – falou Vinicius grosseiramente.

- mais bebê, eu só to tentando cuidar de você.- falou a Sra, morge melosamente.

- PARA DE FALAR ASSIM, COMO SE EU FOSSE UM BEBE! EU NÃO SOU UMA DROGA DE BEBE! SERÁ QUE EU VOU TER QUE TE DAR UM SOCO PRA VOCE PERCEBER ISSO, SUA VELHA INCOPETENTE!- gritou Vinicius descontroladamente.

- EI GAROTO!- gritou de repente o sr. Silva.- NÃO FALE ASSIM COM SUA AVÓ, VOCE ESTÁ PENSANDO QUE ELA É QUEM?? UM DE SEUS AMIGOS DE RUA? SEU DROGADO INFELIZ. SE EU TE PEGAR FALANDO COM SUA AVÓ ASSIM NOVAMENTE, VOCE É QUE VAI LEVAR UNS BONS SOCOS NESSA BOCA PRA VE SE ELA SE AJEITA! TA ME ENTENDENDO?!?

Vinicius olhou o Sr. Silva com uma cara de ódio profunda, mas visto que era um homem muito maior e mais forte e também o fato de que Vinicius pensava que os Silva eram perigosos, ele apenas baixou a cabeça, com seu cigarro na boca e foi-se embora.

O Sr. Silva olhou para a Sra. Morge esperando ao menos um sorriso de agradecimento, mas o que veio foi algo totalmente inesperado.

- seu asqueroso, como se atreve a falar assim com meu neto? Seu porco imundo, nunca mais se atreva a fazer isso, ou chamarei a policia para você seu preto maluco!

E furiosa deu as costas ao Sr. Silva que ficou ao mesmo tempo perplexo e louco de raiva.

Enquanto isso na escola, Joaquim e Daniel enfrentavam um sermão da professora:

- vocês acham bonito o que estavam fazendo? Brigando com garotas, agrediram duas garotas? Isso é uma grande covardia!

- não, não era não professora. - disse Léo, falando pela primeira vez.- eles estavam me defendendo, melissa e nadya estavam dizendo coisas horríveis para mim.

- que coisas Léo?- perguntou a professora muito séria.

- me chamaram de bicha, me disseram que o mundo não tinha lugar pra mim, que pessoas como eu, que viados, pretos e velhos tinham que morrer ou ficara trancados dentro de casa.

“Ai o Joaquim veio me defender e elas começaram a dizer coisas horríveis a eles também, e a nadya bateu nele primeiro.Então o Daniel veio defender ele e acabou que todos acabaram se atracando.

Mas eles fizeram tudo isso para me defender, elas é quem estavam atacando de verdade.”

A professora olhou para melissa e nadya, seus olhos estavam frios.

- vocês são repugnantes. O que as fazem pensar que são melhor do que eles três? Por acaso são divinas? São algum tipo de deusas ou coisa do tipo? Não. Não são. São humanas como eles, e não cabe a vocês julgar ninguém por qualquer coisa que seja, e cabe a vocês menos ainda decidir quem deve viver ou morrer, porque se fosse assim, vocês podem ter certeza, muita gente já teria optado pela morte de vocês.

“Eu não quero mais saber de gracinhas como essas, entenderam”? Se acontecer novamente, a menor piada que seja, seus pais serão chamados e vocês suspensas.

E quantos a vocês três, não liguem para o que elas dizem, são pessoas mesquinhas e sem coração. Mas eu peço a vocês que se acontecer novamente, venham falar comigo, antes de tomarem uma atitude drástica.”

- esta bem professora, não faremos novamente.- disseram Joaquim e Daniel.

E estavam os três saindo da sala quando Joaquim se virou para melissa e nadya e disse:

- desculpe-me por ter agredido vocês.

E saiu da sala.

Ao chegarem fora da sala, Daniel puxou Joaquim para o lado e falou muito zangado:

- Porque “ce” foi defender aquela biba? “Ce” é louco? Não gosto dessas coisas, será que vou ter que começar a desconfiar de você também? Qual é? Ce é meu irmão, não quero nem pensar nisso.

E saiu andando.

Joaquim ficou um pouco chateado, mas ao virar-se viu que Léo estava vindo.

- olha valeu pelo que você disse ali, - Léo lhe deu a mão, agradecendo. - muito obrigado, ninguém nunca tinha feito algo assim aqui nessa escola, ainda mais contra a nadya.

-que isso não foi nada demais, é que não agüentei ver ela te tratando daquele jeito, ela trata todos assim é? - perguntou Joaquim um pouco indignado com toda aquela situação.

- pior que é,-respondeu léo, um pouco triste.

- mas ai cara se preocupa não, pessoas assim como ela não merece que a gente perca o nosso tempo pensando nela.- disse Joaquim bem solidário e colocou a mão no ombro de Léo.- muito prazer: Joaquim!

- meu nome é léo, muito prazer também.- Léo sorria. - Nossa nem acredito que você esta falando comigo.

-porque?- perguntou Joaquim.

-porque parece que todos os rapazes daqui tem medo de mim, acho que eles pensam que eu vou tentar algo com eles. Sei lá, que vou dar em cima deles. não sei o que pensam.

- a cara quanto a isso não se preocupa, não tenho medo, nem nojo, nada dessas frescuras, sei que não é porque você é homossexual que vai dar em cima de mim.

- ai cara valeu mesmo, você é muito legal.- disse léo se despedindo

- De nada. de boa!

Anoite na rua Marvim, próximo à rua dos Silva, uma jovem garota de programa estava encosta em um poste esperando algum cliente. Dani Animadinha, estava distraída, tentava ver algum carro ou pessoa interessante na rua, nem percebeu quando três garotos se aproximaram pelas sombras, sorrateiros e então lhe deram um tapa na cabeça, um puxou sua bolsa e os outros começaram a agredi-la barbaramente. Com chutes e socos e só quando um carro começou a subir a rua que os três jovens a soltaram e saíram correndo, com sua bolsa.

Dani ficou largada no chão, não sabia porque tinham feito aquilo com ela, mas sabia quem tinha feito, pois aquela não era a primeira vez que esse episódio acontecia, embora esse tenha sido muito mais forte do que o anterior.

Na manhã seguinte, quando o sr. Silva saiu para ir comprar pão na padaria da esquina, Vinicius Leopoldo, o neto da sra. morge estava chegando, tinha os olhos muito vermelhos e uma expressão demoníaca neles, passou ao lado do sr. Silva sem se dar contar, e o sr. Silva teve certeza de que ele passou a noite se drogando.

- marginalzinho!- murmurou ele.

Quando o sr. Silva entrou na padaria se surpreendeu que não foi a atração dos que lá estavam, seu lugar foi roubado por uma moça que estava extremamente machucada, ela usava uma sai muito curta e um grande decote, mas seus olhos estavam roxos e inchados e tinha marcas de agressão por todo o corpo.

- puxa, o que aconteceu com ela? – perguntou sem conseguir resistir.

- Foi espancada.- respondeu o balconista.- é a dani, ela é garota de programa, uns vândalos a roubaram essa noite e fizeram isso.

Instintivamente o sr. Silva pensou em Vinicius.

- foi aquele garoto.- falou dani, com um esforço enorme.- ele...e os amigos.

- Ele quem dani?- perguntou o balconista.

- O neto da morge.

Um murmúrio perpassou pela padaria o sr. Silva teve uma idéia.

- deixe ela comigo.- disse, pegando dani no colo.- eu vou cuidar dela.

Todos olharam desconfiados, e o balconista perguntou:

- você concorda dani?

- Sim.- falou ela com esforço.

- Você tem certeza querida?- perguntou uma velha olhando o sr. Silva desconfiado.

- A cor de um homem não define a cor de seu coração.- disse dani.

- você tem razão moça.- falou o sr. Silva.- minha pele é negra, mas meu coração é mais claro que o de muito branco que tem por ai, um exemplo são esses marginais que fizeram isso com ela. Vamos.

o sr. Silva levou dani até a casa 7 que ficava ao lado da sua, quando a sra. morge abriu a porta ele entrou de supetão e sem falar nada deitou dani no sofá da sra. morge.

- ora mas o que é isso? – exclamou a sra. morge indignada.- o que essa vagabunda esta fazendo aqui, ainda mais nesse estado?

- Vá perguntar ao seu neto e aos amigos dele.- respondeu o sr. Silva.- foram eles que fizeram isso. Cuide bem da moça.

Ele estava quase saindo quando se voltou e disse:

- a propósito, a moça se prostitui pra se sustentar, de certa forma esta trabalhando dignamente. E seu neto, rouba pra que, se tem uma bela casa e comida? Se eu fosse a sra. parava de trata-lo como um bebe mesmo, e passava a trata-lo como o homem que ele é, e dos perigosos se quer saber.

E saiu antes que ela podesse dizer algo.

No fundo da sala a menina gordinha que nunca falava nada olhou de esguelha para Joaquim quando ele se sentou ao seu lado.

- ola, como vai?- cumprimentou ele.

- Oi...estou bem.- respondeu a garota timidamente.

- Qual seu nome? – perguntou Joaquim, queria puxar conversa com a garota.

- Juliana.- respondeu ela sem olhar para ele.

- Muito prazer, eu sou Joaquim.- ele estendeu a mão para ela.

Ela olhou para a mão de Joaquim, levou um minuto para que a apartasse, não porque não quisesse tocar no garoto negro, mas porque estava morrendo de vergonha.

Nadya e Melissa entraram na sala bem na hora que Juliana estava apertando a mão de Joaquim, não falaram nada, pois a professora Sonia estava na sala, mas deram sorrisos maliciosos.

O dia na escola havia sido tranqüilo naquele dia, no intervalo Léo havia ido falar com Joaquim, agora que tinha um amigo léo não conseguia mais larga-la.

- olá cara, como vai?- cumprimentou ele.

- Lá vem...- resmungou Daniel, e saiu de perto de Joaquim e Léo.

Léo ficou tão vermelho quanto o esmalte que tinha na unhas.

- ah, deixe pra lá, depois eu falo com você.- disse ele e já ia saindo quando Joaquim disse.

- Não, fiquei aqui comigo, não de bola para o meu irmão, ele não sabe o que diz.

Léo sorriu.

- obrigada, mas é difícil ficar sem falar com ninguém, ainda mais quando agente sabe que tem alguém pra falar.

- É verdade, eu sinto a mesma coisa.

Juliana passou na frente de Joaquim, o olhou discretamente e continuou.

- ela é tão bonita!- exclamou Joaquim num tom sonhador.

- Você acha? – perguntou Léo.

- Sim, é muito fofa!

- Bom, ela é meio gordinha não acha?

- Isso não quer dizer que não possa ser bonita. Não a nada de errado com garotas gordinhas, às vezes dão de dez a zero em muita garota magra. Tanto na beleza, quanto na inteligência e na personalidade. Ser gordinho não tem problema algum.

- Uhh, o amendoim ta afim da baleinha!- exclamou melissa ao passar na frente dos garotos com nadya.

- Fica na sua!-mandou Joaquim.

- Não da bola pra elas, sabe como são.- disse Léo.- é porque ninguém gosta delas, por isso são assim.

- É...

No banheiro das meninas Juliana arrumava os cabelos quando melissa e nadya entraram.

- uhh olha ai a rolha de barril!- zombou nadya.

- E ai porquinha rosa, qual é a sua com o feijão queimado?- perguntou melissa.- ta dividindo o neguinho com o viado?

- Não sei do que vocês estão falando.- disse Juliana e já ia saindo do banheiro quando nadya a puxou pelo braço.

- Sabe sim sua porca gorda, e presta atenção, se eu descobri que você anda de casinho com aquele preto nojento sua vida vai ir pra merda. Vou acabar com você.

- Por que? Qual o problema se eu tiver algo com ele? – perguntou Juliana movida de uma grande coragem.- ta com ciúmes.

Nadya soltou uma risada falsas.

- eu com ciúmes de você com aquele carvão?! Haha, tenha santa paciência heim! E mesmo que por um desastre horrível eu estivesse afim do queimadinho, eu teria muito mais chances que você sua gorda horrorosa, olha só pra mim, eu tenho um corpo lindo, não tenho pneus caindo para fora da camiseta nem essas pelancas de elefante no braço, chupeta de baleia!

Os olhos de Juliana se encheram de lágrimas, com um puxão ela se desvencilhou de nadya e saiu do banheiro. Uma lágrima escorreu.

- ei nadya,- falou melissa.- voe não esta com ciúmes do feijão preto não, né?

- É claro que não, não diga besteiras.- respondeu nadya.

Mas então...lá no fundo de seu coração, se fez a mesma pergunta.

- Vinicius Leopoldo, venha até aqui!-chamou a sra. morge.- agora, não estou brincando com você.

Vinicius não respondeu, então a sra. morge foi até o quarto e o puxou pela orelha até a sala. O garoto aos berros.

- ME LARGA SUA LOUCA! EU ESTAVA DORMINDO, VOCE ESTA CEGA TAMBÉM? QUAL O SEU PROBLEMA ME LARGA.

- NÃO, EU É QUE PERGUNTO QUAL O SEU PROBLEMA?- berrou a sra. morge, e Vinicius ficou espantado por um momento, a avó nunca havia gritado com ele.- POR QUE VOCE E AQUELES VAGABUNDOS QUE VOCE CHAMA DE AMIGO FIZERAM ISSO COM A MOÇA?? VOCE NÃO TEM VERGONHA NA SUA CARA?? ME RESPONDE, PRA QUE VOCE A ROUBOU SE NÃO PRECISA DISSO? NÃO TEMOS PROBLEMA COM DINHEIRO, VOCE TEM UMA EXCELENTE CASA COM COMIDA E ROUPA LAVADA. ME DE SÓ UM MOTIVO PARA ISSO, HEIM, POR QUE VOCE A ROUBOU E A AGREDIU DESSE JEITO???

- PORQUE ELA É UMA VAGABUNDA, MERECE ISSO, FICAR SE VENDENDO POR AI, ESTRAGANDO NOSSO BAIRRO COMM A SUJEIRA DELA. É ISSO QUE ELA MERECE, APANHAR!

PÁ!!

A sra. morge deu um grande tapa na cara de Vinicius.

- NÃO, SEU MARGINAL, É VOCE QUEM PRECISA LEVAR UMA SURRA, É VOCE QUEM ESTRAGA NOSSO BAIRRO, COM SUAS DROGAS E SUA MALANDRAGEM, SEU MARGINAL. MONSTRO!! NUNCA MAIS SE ATREVA A FAZER UMA COISA DESSAS, OU EU CHAMO A POLICIA PARA VOCE!! BANDINDO!!

E jogou Vinicius para fora e bateu a porta na sua cara.

Marcos vinha andando pela rua, com sua muleta, para guia-lo pelo caminho, quando alguém esbarrou nele.

- e ai ceguinho, ta fazendo o que aqui de novo.

- A não me deixe em paz.- murmurou Marcio com medo.- por que vocês me batem? Eu não faço nada pra vocês.

- Você é cego, é diferente, estranho, anormal.- disse um dos garotos.- não devia estar aqui, o mundo só tem lugar pra gente forte, gente que tem chances de sobreviver. Você não tem capacidade pra fazer nada, não merece viver, vai passar a vida dependendo dos outros, atrapalhando as pessoas ao seu redor, você e todos os problemáticos como você.

- Você esta extremamente enganado mocinho.- disse uma voz de mulher as costas dos garotos. Era a profª Sonia.- quem disse que Marcio e qualquer outra pessoa deficiente não tem capacidade? Que tem que depender dos outros? Que não em espaço no mundo?

“Na verdade vocês é que deviam se envergonhar, porque existem milhares de pessoas deficientes que dão de dez a zero em qualquer pessoa normal que tem por ai. Um exemplo disse são as para-olimpiadas, em que os atletas deficientes estão se saindo muito melhor do que os normais.

Uma pessoa deficiente é perfeitamente capaz de ter uma vida normal e se sair muito melhor do que muita gente que tem por ai, não precisa depender dos outros, são muito mais forte do que imaginamos. Nós é que devíamos nos envergonhar por nossa pequenez, por nossa preguiça,nossa arrogância, por nossas tristezas a toas, quando existem milhares de pessoas no mundo que tem tudo para ser tristes de verdade e não são, que todos os dias acórdão sorrindo e prontas para mostrar ao mundo sua capacidade força de vontade.”

Os garotos não disseram nada, então o maior deles, foi até Marcio e disse.

- desculpe, ela tem razão, não somos melhores do que você, em nada, na verdade...- ele parou e olhou bem para Marcio.- somos perfeitamente iguais. Não a nada que nos diferencie um do outro. Somos todos meninos, somos inteligentes e temos capacidade de fazer tudo; eu admito que você é um cara inteligente, se não, não saberia andar por essas ruas tão bem assim e sem ver nada.Você me desculpa?

- Só se você me mostra onde está sua mão para que eu possa aperta-la.- disse Marcio, e sorrio.

No pátio da escola Juliana sentou-se excluída num banco, tinha os olhos muito vermelhos.

- o que será que ela tem? – perguntou Léo.

- Não tenho a mínima idéia.- respondeu Joaquim.- vou lá falar com ela.

Joaquim foi até Juliana e Daniel se aproximou de Léo, mas porque pensou que o irmão estava com o garoto.

- olá.- cumprimentou Léo, quando viu Daniel se aproximando.

- Nem vem garoto, não tenho papo com gente de sua laia.- disse Daniel grosseiramente.

- Ora, mas por que você também está me tratando assim?- perguntou Léo, aborrecido.- sabe, acho que de todos aqui, você não devia ter preconceito nenhum contra mim, afinal, você é um garoto negro em um bairro de brancos, você é o intruso aqui nessa história. Se fosse pra ter preconceito eu é que devia ter contra você. Mas quer saber, estamos no mesmo barco, eu sou homossexual, você é negro, e todos aqui estão contra nós. E você não pode pedir aos outros que te respeitem se você não respeitar o próximo também. Sabe, eu não te considero inferior a mim só porque você é negro, e acho que você também não deveria me considerar inferior a você. Somos todo iguais, feitos de carne, osso e sangue, e a cor de nossa pele ou nossa opção sexual não nos faz diferentes nem melhores que os outros.

“você pode me considerar com um igual, como eu considero você, ou continuar com seu preconceito ridículo, mas se quer saber, você está agindo comigo da mesma forma que os outros aqui agem com você. E se quer saber não tenho pena de você por eles te tratarem assim, você sofre preconceito porque é negro e mesmo assim se atreve a ter preconceito contra os outros. Isso prova que você é igual a eles”.

Daniel não respondeu, se sentiu extremamente envergonhado, então com certo esforço olhou para Léo e disse:

- desculpe, você tem razão, eu devia agir assim com você, estou agindo da mesma forma que as pessoas que tem preconceito contra minha cor. Devemos nos unir, se quisermos vencer o preconceito, unir todos os tipos de pessoas sob uma bandeira só, á contra o preconceito.

E estendeu a mão para Léo, que a apertou com firmeza.

- você tem um aperto forte heim.- brincou Daniel.

- Bom, não é porque sou homossexual que não sou homem.

E dois riram.

- olá, você esta bem?- perguntou Joaquim, sentando-se ao lado de Juliana.

- Estou...-mentiu a garota.

- Bom, não parece.- insistiu Joaquim.- pode falar, sem problemas, quero ser seu amigo.

- Você não se importa em falar com uma garota gorda e horrorosa?- perguntou Juliana, os olhos lacrimejando.

- Não estou vendo nenhuma garota gorda e horrorosa aqui.- disse Joaquim.- estou vendo uma garota muito linda, fofa e meiga.

- Mas eu sou gorda, você não me acha feia por isso, não prefere as garotas magras, com corpos perfeitos?

- Ninguém é perfeito nesse mundo, não importa em qual aspecto. E não vejo nenhum problema em você ser gordinha, e você também não deveria ver. Você é linda desse jeito, e não deixe as outras pessoas colocarem na sua cabeça que você é feia, que não merece ser feliz ou coisa do tipo. Não é porque você é gordinha que não pode ser bonita, não sei de onde as pessoas tiram isso, existem tantas garotas magras que dão até decepção, porque são chatas, feias, arrogantes, que se acham. Um exemplo disso são a nadya e a melissa. Sabe, as pessoas são diferentes, e deveriam dar graças a deus por isso, porque é a diferença que dá graça. Já pensou que chato seria se fossemos todos iguais? Todos somos bonitos do jeito que somos e aqueles que falam besteiras ou que passam a vida tentando se modificar são inseguros e mal amados, que não confiam em sua própria beleza e tem que agredir a dos outros pra ficar feliz.

- Não fique mais triste com essas coisas, você é linda do jeito que é, guarde bem isso, e não deixe nunca mais alguém dizer ao contrário, entendeu?

- Sim.- disse Juliana e sorriu pra Joaquim.- você é mesmo um garoto incrível.

E deu-lhe um beijinho no rosto.

Alguém bateu na porta do sr. Silva, que a abriu com certa curiosidade.

- ah...oi.- disse a sra. morge.

- Olá cara senhora.- cumprimentou ele sorridente.- a que devo a honra.

- O senhor estava certo,- disse ela.- Vinicius não é mais um bebe.

- Lamento.- disse ele ficando sério.

- Não lamente, já basta eu.- disse a sra. morge e ficou olhando o sr. Silva.

- Não quer entrar e tomar uma xícara de café?- perguntou ele.

- Ah...está bem.

O sr. Silva trouxe uma bandeja com um bule de café e um par de xícaras.

Depois de um minuto em silêncio tomando o café a sra. morge perguntou.

- então sr. Silva,- começou a sra. morge.

- Oh por favor, me chame de Júlio, é meu nome.- disse o sr. Silva.

- Ah sim, o meu é Joana.- falou a sra. morge.

- Muito bonito.- falou ele sorrindo.

- Obrigada! Bem, então, o que o trouxe até esse bairro?- perguntou Joana.

- Minha esposa, falecida há dois anos.- começou Júlio.- ela tinha um tio que morava aqui, o sr. Sanderson, que morreu há uns meses. Ele deixou a casa para ela, mas como ela morreu, ficou para os meninos.

- Ah...entendo.- falou a sra. morge.- e o senhor não se sente desconfortável morando em um bairro de brancos?

- Não, nenhum pouco, estou no meio de leões, estou entre seres humanos, como eu, não á a mínima diferença entre mim e vocês. Não a motivos para me sentir desconfortável.

A sra. morge contemplou por um momento a xícara de café, até que unindo toda sua coragem disse:

- eu lhe devo desculpas. Aquele dia o senhor me defendeu do Vinicius e eu fui extremamente grosseira com você, peço desculpas.

- Não por isso. Mas não vejo porque tanto preconceito contra a minha cor. Por que a senhora acha que sou diferente de vocês brancos ou que sou inferior?

A sra. morge não soube o que respondeu então falou a verdade:

- não sei, não mesmo. Acho que às vezes só por soberba queremos ser melhores que os outros, não queremos admitir que somos todos iguais, que não á essa coisa de melhor ou pior. Então inventamos motivos para discriminar os outros. Acho que às vezes nos sentimos incompletos, às vezes o problema está em nós mesmos, nós não nos aceitamos ou não somos felizes, então descontamos nos outros, tentamos colocar o defeito nos outros, seja através da cor, da profissão, de uma deficiência, opção sexual ou outra coisa assim.

- Entendo.- falou o sr. Silva.- mas sabe qual a minha opinião? Quem muito nega é quem mais gosta.

E olhando nos olhos da sra. morge lhe deu um beijo, que ela retribui.

Na escola Léo estava passando apressado a caminho da sala de aula quando alguém o empurrou e ele quase caiu.

- e ai viadinho!- era melissa e nadya novamente.

- “tamo” sabendo que ce ta pegando os irmãos neguinhos.- falou nadya com deboche.- ta se sentindo poderoso né?

- Me deixem em paz suas horrorosas.- falou Léo com firmeza.- vão cuidar de suas vidas.

- Quem é horrorosa aqui bichona?- perguntou melissa empurrando Léo contra a parede e o ameaçando com um soco.- repete pra você ver!

- E se ele repetir o que vai acontecer?- perguntou uma voz a suas costas.

Nadya se virou, Joaquim, Daniel e Juliana estavam parados atrás de melissa e nadya.

- soltem ele agora.- mandou Daniel.- ou vou esquecer que sou um homem e enfiar a mão em vocês.

- Uhh, viro machinho dele também, bichinha queimado.

PÁ!!

Juliana se adianto e enfiou a mão na cara de nadya.

- SUA MISERAVEL! COMO SE ATREVE SUA PORCA NOJENTA!!- berrou nadya indo para cima de Juliana. Daniel e Joaquim entraram na frente para impedi-la de agredir Juliana.- SAI DE TRÁS DELES SE FOR MULHER O SUFICIENTE SUA BALEI TERRESTRE, USA ESSA PELANCA PRA ALGUMA COISA!! VEM ME ENFRENTAR, OU TUDO ISSO AI É SÓ GORDURA, NÃO TEM FORÇA NESSE BARRIL DE BANHA NÃO??

- Ela tem caráter, inteligência e bondade, é isso que importa.- falou Joaquim.- do que adianta ter o corpinho “perfeito” e ter o resto podre igual a você? Se todas as pessoas do mundo fossem iguais a Juliana o mundo seria perfeito. E do que você esta falando? Você não é nenhum pouco bonita, com essa sua arrogância e esse seu preconceito com as pessoas, você é uma mal amada, por isso é tão frustrada, desconta sua falta de amor nas pessoas, porque você tem inveja, todos nós temos pessoas que gostam da gente e você não.Lixo de ser humano!

- SEU PRETO NOJENTO EU....

- SILÊNCIO!!- berrou alguém pondo fim na discursão.

Todos se viraram, a professora Sonia estava parada atrás do grupo, tinha uma expressão furiosa no rosto.

- pra mim já basta dessa palhaçada.- falou ela se adiantando até o grupo.- já esta na hora dessa coisa parar.- ela olhou para melissa e nadya.- soltem o garoto agora.- mandou ela e melissa soltou Léo.- formem uma roda aqui, agora.

Sem entender os jovens fizeram um circulo.

- prestem bem atenção, porque eu só vou falar uma vez.

Ela pegou uma caixinha de tinta que trazia nas mãos e pintou a mão de cada um deles com a tinta vermelha, depois apertou cada mão contra uma folha branca que trazia.

- agora olhem essa imagem e quero que cada um diga qual é sua mão.

Todos olharam a imagem e tentaram achar sua própria mão, porém, nenhum conseguiu.

- então, qual é de quem?- perguntou ela.

- Não sabemos,- disse melissa.- são todas iguais.

- Exatamente.- falou a professora.- todas iguais. Todos vocês têm dois olhos, dois ouvidos, uma boca, um nariz, duas mãos...são perfeitamente iguais, e o fato de um ser mais cheinho, o outro ser negro, o outro ser branco, um ser homossexual ou deficiente físico não os faz diferentes em nada. Vocês já pensaram se todos nós fossemos brancos, dos olhos azuis, loiros e magros, ou todos gordinhos, ou todos negros. Iríamos nos cansar, ninguém se casaria com ninguém porque seriamos todos iguais e ninguém ia ver graça em ninguém. O que nos atrai uns pelos outros são nossas diferenças, é diversidade que da graça as pessoas, por isso somos cada um de um modo. Nos detestaríamos se fossemos todos iguais.

- Mas apesar de sermos diferentes por fora, por dentro somos perfeitamente iguais, temos as mesmas capacidades, somos todos inteligentes, temos os mesmo órgãos, o sangue da mesma cor. O que quer dizer que temos nossas diferenças para termos graça e beleza, mas isso não nos faz melhores que os outros, nem superiores, somos todos seres humanos e temos que nos respeitar para vivermos felizes e em paz. A partir do momento que isso acontecer todos nós nos amaremos mais e o mundo ficara melhor.

- Devemos olhar o que temos em comum e não nossas diferenças, para fazer um planeta melhor e mais justo para todos.

Ninguém disse nada, mas todos concordaram intimamente e desde de esse dia não houve mais briga entre eles. Joaquim e Juliana ficaram juntos, Léo continuou sua vida normalmente e melissa descobriu que adorava Daniel e começaram umas paqueras.

No nº 7 e no nº 8 a paz e o amor rolavam soltos entre a sra. morge e o sr. Silva e Vinicius Leopoldo e Dani animadinha também começaram uma paquera depois que a sra. morge obrigou Vinicius a cuidar da moça, que o incentivou a deixar as drogas e a respeitar os mais velhos.

E assim o jardim honesto passou a ser honesto mesmo, honesto e igual para todos.

"pensem bem, somos todos iguais e devemos nos respeitar porque somos todos uma obra única, uma obra de DEUS"

Caroline Mello
Enviado por Caroline Mello em 21/11/2008
Reeditado em 11/01/2009
Código do texto: T1296666