Sonhando que estava sonhando
Quando sozinha no quarto,olhei-me no espelho;
Vi as espinhas impregnadas em meu rosto e odiei-me.
Deparei com um olhar diferente,
Lentamente minha fisionomia mudou.
Então,travei um embate ao olhar aquele rosto.
Um rosto que no espelho,era de um negão,
Cabelos arrepiados,olhos grandes e costurados,
Dos lábios grossos,vermelhos da cor do açaí.
Fecheii os olhos e a imagem sumiu,ou melhor,
Guardada ficou em minha mente.A hora passou e fui dormir.
Adormeci junto ao meu travesseiro.
Sonhei,sonhei que um dia,
Chegou um homem que dizia ter visto,meu pai na Central.
Minha mãe falou: Vai ver seu pai na Central.
Então indaguei: Mas não sei como ele é...
Rapidamente obtive outra resposta,
Quando você olhar pra ele,vai saber.
Sem demora,correndo fui,na esperança de encontrá-lo.
Passam alguns homens bem vistosos e mendigos na calçada.
E os homens bonitos,perguntei: Você é Antônio? O conhece?
E a resposta foi: Não!
Fiquei triste,olhei para um lado e para o outro e vi...
Vi alguns mendigos na calçada e
Uma deles levantou a mim.
E me pediu um real,e lhe dei uma nota de dois.
Sem demora,para o colega do lado,gritou:
Aí Gugu, já temos dinheiro para o pão!
Então achei que aquele homem era meu pai...e era.
Abracei aquele homem fedorento,o beijei,
e com muito orgulho ao seu lado andei,
Pelas ruas até chegar em casa.
Mas que pena que acordei.
Estava sonhando que estava sonhando.
E no sonho eu acordei e fui à Central,
Mas,dessa vez,à procura não mais dos homens vistosos,
e sim daquele mendigo,"Meu Pai".
Mas infelismente não o encontrei,
E na rua vazia vaguei.
Vi um homem que estava bem arrumado e,
Seguindo o sonho, perguntei-lhe pelo mendigo...
E a resposta era sempre a mesma: Não!
Abaixei a cabeça e começei a chorar.
Chorando lhe falei: Foi apenas mais um sonho.
Esse homem levantou meu queixo dizendo: Não chora...
Mas quando olho para seu rosto,adivinha quem ele era?
Quem???
Meu pai?!
Não!!!
Era apenas aquele negão que vi no espelho,
Antes de adormeçer junto a meu travesseiro,
E,é claro,acordei...
Acordei em desespero.